Divertículíssimo Serafim das Neves
Também eu tenho créditos suficientes para me darem a equivalência a asno, graças ao tempo passado a fingir que fazia as actas de uma efémera associação da qual nem do nome me lembro. No entanto decidi há muito tempo que asno por asno, prefiro ser simplesmente asno do que doutor asno. Sei lá...acho que assim zurro sem constrangimentos e sem a pressão mediática de mil outros jumentos.No Entroncamento uma festa de anos de uma criança terminou por volta das cinco da manhã à porrada e aos tiros. Lamento que a minha infância se tenha resumido a festas foleiras que terminavam sempre cedo e que só metiam limonada e bolo de raspas de casca de laranja que a minha mãe fazia. Não havia tiros, nem facadas, nem notícias no jornal. Uma pasmaceira absoluta. Ser criança nos tempos que correm é que vale mesmo a pena. Dizem que a velhice é como uma nova infância. Se isso é verdade eu quero ser velho já.Aqui há tempos li que a biblioteca de Abrantes esteve aberta toda a noite para os putos passarem a noite entre livros. No oceanário de Lisboa acho que podem dormir com os tubarões. Provavelmente no Entroncamento os pais daquela criança inscreveram-na já no boxe e contrataram-lhe um instrutor de tiro para que ela não seja tão naba como eles que gastaram dezenas e dezenas de balas e poucos estragos fizeram.Num tempo de crise esbanjar assim munições só para ricaços. Pelo que me disseram, para além de munições em barda os pais da criança também têm uma vivenda. Só eu nem tenho balas nem casa com jardim. Eu e outros como eu. Vê lá que na Póvoa de Santa Iria, durante uma discussão com um taxista um homem ameaçou-o com uma faca de cozinha. Espero que a tróica saiba disto para ver à penúria a que chegámos. Alguns taxistas são ferozes. Um homem tem que ter meios para se defender. Um dia houve um que me filou por um braço e não me largou enquanto não fui dar uma volta de 40 quilómetros com ele. A minha casa era do outro lado da estrada mas eu não tive escolha. Paguei centro e cinquenta euros e bico calado. Quem me dera agora convidá-lo para uma festa de aniversário de criança no Entroncamento. O senhor Moita Flores escreve regularmente sobre os seus padecimentos no blog que ele sempre disse que nunca iria ter. É intervenções cirúrgicas, períodos de repouso, recidivas, conselhos médicos. A coisa é tão grave que ainda o vamos ver a mudar o nome do blog, de projétil para supositório. Queres uma aposta??!! O que me admira é que com tanta matéria de carácter profissional para discutir ainda haja quem se debruce sobre temas da sua vida pessoal, como a situação de sufoco financeiro em que deixa a câmara municipal de Santarém e a sua candidatura pelo PSD às eleições autárquicas de 2013 em Oeiras. Concordo com Moita Flores quando ele se queixa dessa permanente vasculheirice na sua privacidade.Por falar em blogs faço uma referência às últimas do blog do presidente da câmara municipal de Torres Novas. Regressado de mais um encontro com Xanana Gusmão, em Timor, o autarca lamenta que o Governo não o deixe continuar a gastar dinheiro à vara larga como acontecia até agora. Que este controle apertado que não deixa comprar um selo se não houver dinheiro disponível, retira dignidade ao poder autárquico. Como eu o compreendo. A mim acontece-me o mesmo senhor presidente. Mas já é há muito tempo. Se o senhor vir bem aí nas tascas da sua terra ainda deve haver daquela cerâmica das Caldas com o Zé Povinho a fazer um manguito e o letreiro: “Queres fiado? Toma! Saudações endividadasManuel Serra d’Aire
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