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Comissões de festas e câmaras só querem artistas baratos e mesmo assim pedem descontos

Alguns profissionais com carreiras internacionais têm agora outras actividades para ganhar dinheiro

Alguns cantores que já estiveram no topo, como Carlos Moisés dos Quinta do Bill ou Cristina Branco que tem uma carreira internacional, viram-se para outras actividades. Mesmo artistas mais populares e com cachets mais baixos não arriscam viver só da música. As câmaras e as comissões de festas não têm dinheiro para grandes folias.

Uma mulher em palco com as curvas bem delineadas, saia curta quanto baste e um acordeão. Este pode ser o segredo do sucesso em tempo de crise, tendo em conta que Linda da Concertina, a quem já chamam o “Quim Barreiros de saias”, tem aumentado o número de espectáculos nos últimos três anos. O espectáculo proposto por Linda e acima de tudo o cachet, que se adequa às possibilidades de cada comissão de festas explicam tudo. “Em vez de irmos com a banda podemos fazer um playback instrumental com o som da própria festa”. Em vez de seguirem quatro carros e um camião desloca-se um único veículo para o local do espectáculo. É o suficiente para reduzir o valor do cachê de sete para dois mil euros”, explica. Apesar do número de espectáculos estar a aumentar os rendimentos mantêm-se porque o gasóleo e as portagens também estão mais caros, reconhece a cantora com carreira a solo desde 2007, com experiência em marketing e que trabalha por opção na sua empresa de produção. Linda, 35 anos, residente em Fátima, poderia dar-se ao luxo de viver só da música mas não o faz porque nada está garantido. Isto apesar de ter na agenda para 2013 datas fechadas para vários espectáculos. Carlos Moisés, vocalista dos Quinta do Bill, residente em Tomar, também optou por ter uma segunda actividade como professor de educação musical que só interrompeu quando a actividade do grupo era muito intensa. Se no passado foi possível viver só da música actualmente não é. “Este ano está a ser o pior de todos”, confessa o cantor, 50 anos, que espera que o país consiga sair deste impasse. As câmaras têm receio em apostar em eventos culturais e acabaram mesmo com algumas iniciativas. Outras contam os tostões e vão pelo mais barato. Ainda este Verão o executivo da Câmara do Entroncamento, quando da contratação dos artistas para as Festas da Cidade, trocou os Quinta do Bill, que estão a completar 25 anos de carreira, por um jovem da terra que toca em bares e que tinha acabado de ficar em segundo lugar no concurso televisivo “A Voz de Portugal”. Na região há festas que já tiveram grande projecção e que chegavam a contratar artistas estrangeiros como Fafá de Belém que foi contratada para actuar em Amiais-de-Baixo, no concelho de Santarém, mas esse tempo já lá vai. Câmaras municipais que costumavam ter artistas de primeiro plano na programação das suas festas e das suas salas de espectáculos, abandonaram essa política. Mesmo cobrando entradas o prejuízo era enorme. Que o diga o município de Torres Novas que chegou a ter grupos estrangeiros no pomposamente designado “Palácio dos Desportos” e que agora não tem dinheiro para mandar cantar um cego, como diz o povo. Ainda não foi há muito tempo que o tenor José Carreras actuou em Santarém mas agora, na reabertura da época do Teatro Sá da Bandeira, um dos primeiros espectáculos em cartaz é uma peça de teatro de um grupo amador de Tomar, recém-constituído. Cristina Branco, 39 anos, cantora mais erudita, residente em Almeirim, trabalha sobretudo no norte da Europa mas é em Portugal que sente a maior crise. Dois espectáculos foram cancelados por câmaras municipais. Tem ainda seis agendados até final do ano. Quando lhe pedem a redução do preço do espectáculo opta por retirar o piano ou reduzir o número de músicos. “É raro. As pessoas também se habituaram a esta sonoridade”, explica. Actualmente vive apenas da música mas não esconde que prepara uma actividade para abraçar no futuro já que esta é uma profissão de desgaste rápido como acontece com os atletas de alta competição. Mesmo para o cantor popular Hugo Sampaio, 33 anos, residente em Quebradas, freguesia de Alcoentre, concelho de Azambuja, viver da música seria por agora impensável. É licenciado em animação sociocultural e dá aulas de formação profissional na área de animação e expressão. Num ano o jovem músico faz cerca de duas dezenas de espectáculos. O espectáculo com banda e bailarinos anda na ordem dos 800 euros mas pode reduzir-se para 400 caso seja a solo dependendo da distância. Apesar da crise que também se sente no sector artístico Hugo Sampaio lamenta que a câmara da sua zona, Azambuja, tenha deixado de o contactar a partir de 2008 não divulgando os espectáculos e contratando muitas vezes músicos que não são da terra.

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