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Um homem do triatlo que coordena o desporto da empresa Desmor

“O Centro de Estágio de Rio Maior já não é só um local de alojamento, presta também serviços técnicos de qualidade”

Sérgio Santos é um homem que tem a sorte de fazer aquilo que gosta. É o coordenador técnico da Desmor, empresa que gere o Centro de Estágio de Rio Maior. Veio do triatlo mas é uma espécie de pau para toda a obra. Veio viver para a “Cidade do Desporto” para estar mais perto do seu trabalho e tem ajudado a formar atletas e a ver crescer o número de equipas e atletas a escolher a cidade para desenvolver as suas faculdades físicas.

Como é que Sérgio Santos aparece como director técnico da Desmor?Enquanto director técnico da Federação de Triatlo de Portugal frequentei o Centro de Estágios de Rio Maior durante muito tempo. Ao fim de dez anos na federação senti que tinha terminado um ciclo e saí. A ideia era voltar ao ensino. Contudo apareceu este projecto que era aliciante e aceitei o convite que me foi feito pela Desmor. O projecto de desenvolvimento incrementado pela Desmor entusiasmou-o?Sem dúvida que sim. O projecto da nova administração da Desmor, é da responsabilidade do Dr. Carlos Coutinho, um homem de grande visão para o futuro e do que é a prestação de serviço deste tipo de estabelecimento. O Centro de Estágios era apenas um local que vendia alojamento e refeições e que recebia muito bem equipas com as suas respectivas equipas técnicas, para treinarem nos espaços colocados à sua disposição. O novo projecto tem outra vertente que é a de prestar serviços técnicos. Além dos serviços que prestava coloca também à disposição das equipas técnicos responsáveis por várias modalidades.Foi nessa vertente que Sérgio Santos foi contratado?Foi exactamente nessa vertente. Depois da minha saída da Federação de Triatlo colocou-se a hipótese de voltar ao ensino e colaborar com a Escola Superior de Desporto de Rio Maior, onde lecciono há dois anos. Foi daí também que surgiu a ideia de começar a formar triatletas com treinadores fornecidos pela Desmor.Com a sua entrada para director técnico a Desmor passou também a ser uma entidade fornecedora de componente técnica, colocando ao dispor da equipas nacionais e estrangeiras técnicos credenciados?Foi isso mesmo. O projecto de maior dimensão que funciona neste momento é o Rio Maior 2016, que se desenvolve com a Confederação e o Comité Olímpico Brasileiro, que é uma aposta clara no treino de triatletas até aos Jogos Olímpicos de 2016.A Desmor é a responsável pela presença e pelo desenvolvimento dos projectos. O Sérgio Santos coloca-os no terreno?É isso mesmo. Eu sou o técnico responsável pelo treino e coordeno toda a logística do projecto.Está em Rio Maior há dois anos, o desenvolvimento do projecto tem correspondido ao que esperava?Excedeu mesmo as minhas melhores expectativas. Não estamos num período fácil em Portugal, mas a empresa tem crescido, temos recebido cada vez mais atletas, temos desenvolvido tudo aquilo que projectamos, só posso estar satisfeito. A quantidade de atletas que tem procurado os nossos serviços para enquadramento técnico tem sido grande, os resultados desportivos começaram a aparecer e existem perspectivas para continuar a crescer. A situação é plena em relação ao que foi a aposta.Isso também quer dizer que Rio Maior é a Capital do Desporto, mais para o exterior do que para o interior da cidade.Não. Também para o desporto da cidade a Desmor tem um plano de intervenção importante. Existe efectivamente a necessidade de a nível local o desporto crescer e têm sido dado passos importantes para isso. Estão a ser feitas apostas para que o desporto evolua e se atinjam níveis satisfatórios. Temos muita gente jovem a praticar desporto, a piscina o ano passado atingiu os 1300 utentes, temos mais de 300 jovens a praticar futebol nas camadas de formação, temos o atletismo. Queremos continuar a crescer e a apresentar resultados a condizer com todas estas estruturas que temos.Na verdade esses resultados ainda não se vêem e há clubes a fechar e atletas a irem para outras paragens.Mas continuamos a ter sete atletas olímpicos. O que acontece é que esses atletas continuam a treinar diariamente e a usufruir das instalações do Centro de Estágios de Rio Maior. Estão vinculados a outros clubes, foi uma opção deles mais pelas condições financeiras. Tendo em conta a densidade populacional de Rio Maior será provavelmente com um maior número de atletas olímpicos. Em relação aos clubes o que posso dizer é que estamos a dar passos importantes para que o Clube de Natação de Rio Maior volte a ser um grande da natação nacional.Vai ficar na Desmor por muito tempo?Penso que sim. Para já o projecto que estamos a desenvolver vai até 2016. O Centro de Estágios já está a crescer, as obras de construção do novo bloco de habitações já estão a decorrer e isso vai permitir que possamos receber mais equipas e mais atletas. Em 2016 Rio Maior vai ter na mesma um elevado número de atletas olímpicos?Acredito que sim. Acredito que vamos continuar a ter atletas formados e treinados em Rio Maior nos Jogos Olímpicos.Com uma piscina olímpica ao seu dispor o Clube de Natação de Rio Maior também tem vindo a perder força?Neste momento tenho um papel mais interventivo nessa situação. Iniciámos a pré competição e já conseguimos competir regularmente em vários torneios. Estamos a reestruturar tudo o que era a formação destes jovens de modo a que sejam cada vez melhor preparados para reforçar o clube. É um trabalho que começou há dois anos, já teve reflexos este ano e estou convencido que dentro em breve o clube vai tirar proveito das boas fornadas de nadadores que vão sair das camadas de formação.Esteve 10 anos como director técnico da Federação de Triatlo. Porque é que saiu. Saiu em litigo?Não saí em litígio. Saí por vontade própria, ao fim de 10 anos senti que estava na altura em que era preciso alterar algumas coisas. Do ponto da minha vida pessoal senti também a necessidade de entrar noutro ciclo. Não saí em litígio, mas tenho pena que algumas coisas menos agradáveis tenham acontecido depois da minha saída. Mas penso que isso está ultrapassado.Foi o treinador que ajudou Vanessa Fernandes a chegar ao topo do triatlo mundial. O que é que aconteceu para ela acabar de repente. Puxaram demais por ela?Foi uma questão que já me colocaram de várias formas, nunca me recusei a responder porque não há nada demais na situação. A evolução da Vanessa Fernandes não foi um processo repentino. A Vanessa teve uma evolução gradual e em 2007 e 2008 atingiu o auge com grande vitórias a nível europeu, mundial e Olímpico, em 2009, o último ano em que fui seu treinador, ainda conseguiu a medalha de bronze no Campeonato da Europa de elites, mas foi já um ano em que claramente existia alguma menor motivação para as questões de treino, o que é perfeitamente natural. Quer dizer que a Vanessa perdeu faculdades?Não. Penso que as suas faculdades para o triatlo se mantêm intactas. O trabalho a que ela foi sujeita não era só para 2008 era para ter continuação em 2012 e 2016, porque a Vanessa tem só 27 anos. Penso que só uma questão de motivação que pode voltar a qualquer momento. Não sente que exigiu demais dela?Não. E ela será sempre a primeira a reconhecer isso. Para se ser o melhor em qualquer situação é necessário trabalhar muito e com método, foi isso que fizemos e acredito que nem nós nem a Vanessa nos arrependemos do que fizemos.“O último projecto que eu gostava de ter abarcado”É actualmente coordenador do Triatlo de “Os Águias” de Alpiarça. Aceitou para ajudar a manter o sonho do seu amigo Miguel Jourdan?Os factores são variadíssimos. Costumo dizer que este era o último projecto que gostava de ter abarcado. Existia já entre mim e Miguel Jourdan uma colaboração com estes jovens. A nossa relação pessoal de amizade era muito forte e estava muito acima do triatlo. Quando aconteceu a tragédia que o vitimou, fui contactado pelos familiares e pelo clube para que eu desse continuidade ao trabalho que o Miguel tinha feito. Sabiam que a nossa forma de trabalhar era muito idêntica. Nós crescemos juntos no triatlo, desde os 19 anos que estudámos e trabalhámos juntos. Quer dizer que aceitou o convite em memória do seu amigo?Foi também por isso. Pelos projectos que já tenho para desenvolver até 2016, nunca posso fazer um acompanhamento como o Miguel Jourdan fazia. Faço a coordenação técnica, estou pontualmente com os atletas, faço o planeamento da temporada e dos triatletas. Depois temos uma equipa técnica de quatro treinadores que colocam em prática o treinamento de cada um dos atletas. Carlos Coutinho também teve alguma influência neste seu apoio ao triatlo de Alpiarça?Teve. Até porque todos os projectos em que me envolvo são via Desmor e este caso de “Os Águias” não foge à regra. É a Desmor que está a prestar mais um serviço. É verdade que a amizade que também Carlos Coutinho e eu tínhamos com o Miguel Jourdan tornou todo este processo muito mais fácil.A morte de Miguel Jourdan é um facto que ficará sempre na sua memória?Sem dúvida que sim. Marcou-me mesmo na minha vida pessoal, perdi aquele que era o meu grande amigo. Quando ouço dizer que não há pessoas insubstituíveis, recordo sempre o Miguel, ele era verdadeiramente insubstituível. Ele ficou a fazer muita falta à família dele, foi um rude golpe para a esposa e filhas. O triatlo ficou a perder, em todos os projectos em que ele se incluía fazia-o sempre de uma forma super profissional. Foi uma grande perda para todos nós.Encontrou em Alpiarça pessoas que lhe dão garantias de continuar a desenvolver um grande projecto de triatlo?Tive a sorte daqueles jovens terem sido formados pelo melhor treinador na área da formação existente em Portugal. E eles foram muito bem formados pelo Miguel. O que eu estou a fazer é dar continuidade a essa formação, com um novo patamar de evolução. Muitos deles estão agora a entrar para a universidade e é preciso fazer opções. É aí que eu quero ajudar a criar alternativas para que fora de Alpiarça possam continuar as suas carreiras no ensino e no triatlo.Porque é que o triatlo é tão forte no Ribatejo?Este projecto não é de agora, começou há 15 anos no Clube de Natação do Cartaxo pela mão do Miguel Jourdan, evoluiu e deu os seus frutos e acabou por contaminar muitas terras daqui da região e mesmo do Oeste. A região tem também boas infra-estruturas para a prática da modalidade.

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