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Erudito Manuel Serra d’Aire

Talvez inspirados no velho ditado “tudo como dantes, quartel general em Abrantes” - que terá nascido no tempo das invasões francesas, precursoras das invasões inglesas nos areais algarvios - os autarcas da Câmara de Abrantes definiram como desígnio para a próxima década levar para a cidade e arredores o Hospital Militar, o Estado-Maior do Exército, o Ministério da Defesa e todas as companhias militares situadas na região de Lisboa. Eu sei que pode parecer exagero da minha parte, mas a recomendação aprovada pelo executivo reza mesmo assim, pelo que ninguém pode acusar os autarcas abrantinos de não pensarem em grande, embora se adivinhe ali também algum fétiche por fardas. Se o Governo estiver pelos ajustes, ainda vamos ver a residência oficial do ministro da Defesa instalada no castelo de Almourol e Abrantes reconhecida nacional e internacionalmente como “capital do magala”. E não me admirava se a presidente da câmara, graças a uma qualquer equivalência passada pela academia militar, ainda fosse graduada em oficial e os vereadores ganhassem divisas (e barrigas) de sargentos. Neste país tudo é possível! É por isso que, apesar da crise e da época alta de turismo, ainda se vêem tantos cafés e restaurantes da região a mandar os clientes às malvas fechando para férias. E os maus exemplos propagam-se de tal maneira que em Vila Franca de Xira, disse-me o compadre Amílcar, até já há castiças tabernas a encerrar para descanso do taberneiro durante uns dias. Uma cidade marialva e defensora das mais nobres tradições lusitanas não pode ter tascas fechadas em pleno Verão, com os seus donos repimpados na toalha de praia enquanto os seus fiéis clientes são votados ao abandono como se de animais infectos se tratassem. Resta saber onde vão as vítimas afogar as mágoas causadas por tamanho desaforo. Quem também está de férias este ano é o festival Pão, Vinho e Companhia que se realizava habitualmente no fim do Verão em Almeirim. Tinha esperança de assistir a mais um espectáculo de entretenimento para toda a família do popular Jaimão enquanto enchia o bandulho de caralhotas e copos de tinto, como sucedeu há um par de anos, mas tive azar. Não há dinheiro. E quem não tem dinheiro não tem vícios. Pelo que se queremos festa vamos ter de escolher outras paragens. Esperemos que o celebrado parque escultórico da Barquinha não seja contaminado por estes ventos da crise, pois é verdade que podíamos viver sem ele, mas não era a mesma coisa... Tal como Santarém não é a mesma coisa desde que Moita Flores levantou ferro. Agora as sessões da assembleia municipal parecem retiros zen, sem discursos acusatórios nem adjectivação quezilenta. Nas reuniões de câmara os vereadores parecem monges tibetanos irmanados na busca do sentido da vida. Enfim, uma monotonia celestial que me faz suspirar de inveja dos privilegiados de Oeiras a quem não vai faltar do que falar nos próximos tempos. Com reverência me despeço com um tibetano “Tashi Delek” doSerafim das Neves

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