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A mulher sem medo dos toiros que organiza a Feira de Outubro

A mulher sem medo dos toiros que organiza a Feira de Outubro

Maria João Carraça diz que o maior desafio é lidar com a multiplicidade cultural

Há dez anos que a Feira de Outubro é organizada por uma mulher. Fibra não lhe falta para colocar de pé um dos eventos de maior projecção do concelho. Chama-se Maria João Carraça, não tem medo de toiros e diz que consegue lidar bem com o facto de ser a única mulher no meio de tantos homens. O maior desafio é mesmo lidar com a multiplicidade cultural de quem procura o espaço.

A Feira de Outubro em Vila Franca de Xira é organizada há 10 anos por uma mulher, Maria João Carraça, que adora o que faz e não se deixa intimidar perante a presença maioritária do sexo masculino. A sua condição de mulher permite-lhe gerir toda a organização com uma sensibilidade que muitos homens não são capazes de ter. “As mulheres têm mais bom senso para gerir situações complicadas. A imagem que passam gera no outro lado alguma cautela na forma de lidar. Nunca me senti desprotegida entre os restantes homens”, conta a O MIRANTE. É esta mulher de 44 anos, residente em Alverca desde a infância, que toma as decisões referentes à montagem das tranqueiras e colocação de bancadas para os espectadores das esperas. Tem ainda a responsabilidade de organizar o salão de artesanato, coordenar os feirantes e os comerciantes e contratar os serviços de vigilância e limpeza. Praticamente tudo o que mexe na Feira de Outubro passa primeiro pelas mãos de Maria João Carraça. A única coisa que não faz é seleccionar os toiros para as largadas. Isso cabe aos responsáveis da escola de toureio José Falcão e aos dois campinos responsáveis pelas esperas: Joaquim Carlos e Fernando Ganhão. No entanto, acompanha-os na busca dos melhores exemplares. “Nem sempre a população gosta dos toiros mas isso é da vida. Às vezes os toiros são como as melancias, muito bonitos por fora e não têm nada por dentro”, descreve.Maria João Carraça é funcionária do município há 24 anos mas só há 10 anos foi para a divisão de turismo. A primeira coisa que organizou foi uma exposição canina no antigo pavilhão. Desde então nunca mais parou. A organização da Feira de Outubro começa a ser preparada em Janeiro. O seu maior desafio é lidar com os diferentes tipos de etnias que querem estar presentes na feira. “Estamos a falar de muitas pessoas, algumas das quais nem português falam, são de África e América do Sul, mas tudo se consegue com calma e paciência”, assegura.Maria João Carraça recorda a edição da Feira de Outubro realizada há sete anos quando existia uma grande comunidade de imigrantes de leste a residir na cidade. “Falavam pouco português e não sabiam que andavam toiros soltos nas ruas. Ainda houve umas duas colhidas”, lamenta. Desde essa altura os avisos sonoros que ecoam pelas ruas emitem alertas em português, inglês e russo. Pouco antes de ficar com a responsabilidade de organizar a feira chegou a assistir à fuga de alguns toiros que se tresmalhavam e corriam pelas ruas. “Gerou-se o pânico até que se conseguiram recolher os animais”, recorda. Admite que um evento como a Feira de Outubro não é a mesma coisa sem toiros mas respeita a visão de quem é assumidamente anti-taurino. “Numa terra com tradições taurinas tão fortes devemos dar voz à população e prosseguir as tradições”, defende. Durante dez dias a Feira de Outubro promete fazer isso mesmo.Uma feira com mais de um século de históriaA Feira Anual de Outubro, que se realiza há mais de cem anos em Vila Franca de Xira, é o mais importante evento do género em todo o Ribatejo, só comparável em importância à festa do Colete Encarnado.O certame inicia-se no primeiro fim-de-semana de Outubro e dura dez dias. “A cidade recebe, todas as tardes, até à meia-noite, milhares de visitantes de dentro e fora do concelho”, escreve Orlando Raimundo no livro “Vila Franca de Xira - Saber Mais Sobre... Feiras, Festas e Romarias”, edição de 2009. Há tasquinhas, muita animação e uma imensidão de tendas, de vários pontos do país, instaladas no reformulado Campo do Cevadeiro, agora com piso calcetado, por feirantes que ali vendem de tudo um pouco. Em Outubro, em Vila Franca, há arruadas com bandas de música, carrosséis e outras diversões. Em paralelo decorre a festa brava com esperas e largadas de toiros, “cuja bravura passou a ser directamente assegurada pela câmara, que adquire curros de animais puros, nunca antes lidados”. Para reduzir ao mínimo os indesejáveis acidentes, as ruas de Vila Franca de Xira por onde os toiros passam são vedadas com tranqueiras. A Praça de Toiros Palha Blanco é habitualmente palco de várias corridas em que se apresentam nomes famosos do espectáculo taurino. Associado à Feira Anual de Outubro desde 1981, o Salão de Artesanato é uma montra da grande vitalidade das artes tradicionais e da criatividade dos artesãos locais e nacionais. Montado no Pavilhão do Parque Urbano de Vila Franca de Xira durante toda a semana da feira, exibe e comercializa, numa centena de tendas, peças e objectos em madeira, pano, verga, barro, latão, couro e filigrana, vinhos e aguardentes. “A iniciativa surpreende frequentemente os visitantes com produtos que resultam da criatividade popular”, escreve Orlando Raimundo. Considerada por muitos como uma oportunidade excelente para promover marcas e produtos regionais, a Feira de Outubro de Vila Franca de Xira atrai expositores até da Madeira. Aqui se podem experimentar especialidades gastronómicas de diversas zonas de Portugal. Renovado em 2008, o Salão de Artesanato apresenta-se agora ainda mais interessante, com mais de uma centena de artistas populares representando todos os distritos do país, de Norte a Sul.É ali possível assistir ao processo de elaboração, ao vivo, de algumas peças. Os visitantes têm a oportunidade de descobrir ou redescobrir os bordados em crivo, habitualmente afastados do espaço público, as famosas colchas de Castelo Branco, a escultura à navalha ou o vestuário em burel.
A mulher sem medo dos toiros que organiza a Feira de Outubro

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