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O técnico que trabalha numa “oficina do corpo humano”

O técnico que trabalha numa “oficina do corpo humano”

Alexandre Penedo tem clientes um pouco por todo o lado, em toda a região centro

Tirou o curso em Inglaterra para poder produzir todo o tipo de próteses ao serviço da empresa Ortoribatejana, em Santarém.

Ricardo CarreiraDurante a juventude Alexandre Penedo pensou que poderia ser professor de educação física ou treinador de alguma modalidade mas a opção de seguir o negócio de família foi mais forte. Há cerca de 15 anos tirou o curso de técnico ortoprotésico na Universidade de Salford, perto de Manchester, Inglaterra. Ficou habilitado a produzir todo o tipo de dispositivos técnicos ligados à ortopedia, como calçado e palmilhas, mas também coletes para correcção de coluna, aparelhos ortopédicos executados ou adaptados por medida e próteses para colocação de membros artificiais. O curso não existiu em Portugal até há cerca de oito anos e Alexandre foi o primeiro português a frequentá-lo em Inglaterra, depois de não ter conseguido entrada para a universidade pretendida na área do desporto, a sua primeira opção em Portugal. A profissão está incluída na categoria dos técnicos de diagnóstico e terapeutas que inclui 16 profissões, como os radiologistas, terapeutas, podólogos ou os terapeutas da fala.À venda de aparelhos e dispositivos da Ortoribatejana que o seu pai já fazia na loja do centro de Santarém desde 1985, Alexandre Penedo veio juntar o espaço de laboratório e venda na avenida Bernardo Santareno, próximo do hospital. “Não estou nada arrependido da opção que tomei pelas garantias profissionais que tenho, até vendo hoje a vida dos professores, principalmente as deslocações pelo país por onde são colocados”, garante o técnico. Mas Alexandre Penedo viaja e muito. Tem clientes um pouco por todo o lado, em toda a região centro, incluindo Lisboa. A região de Santarém concentra a maior parte do seu trabalho. Os dias são distintos. O Fabrico das próteses ortopédicas para amputados ou vítimas de doenças, principalmente afectados nos membros inferiores, a toma de moldes, a personalização dos dispositivos e os treinos providenciados aos amputados são actividades que requerem tempo, acompanhamento e atenção da sua parte. Desde há três anos conta com uma colega técnica que o auxilia no laboratório. É nesse espaço que tudo se cria e que mais parece uma oficina de trabalhos manuais ou uma carpintaria, com as bancadas e apetrechos presentes, que servem para auxiliar o corpo humano.O material base de trabalho para os moldes é o gesso. O molde é corrigido, alterado e executado o seu encaixe com a adaptação da prótese aos chamados centros articulares (pulso, cotovelo, joelho, tornozelo, pé). A prótese pode ser acoplada ao encaixe por fixação de espigão, por vácuo ou, como mais antigamente, através de cintos de fixação e correias. As próteses são feitas em fibra de carbono e resina acrílica mais resistentes e mais leves. “A maior parte dos clientes, principalmente senhoras, só aparece na empresa quando o mal está feito, depois de dezenas de anos a usar calçado inadequado. Joanetes, calosidades e má posição dos pés afectam quando se chega a uma idade maior, a partir dos 50 ou 60 anos. Só quando não conseguem caminhar é que pedem ajuda. Até lá calçam sapatos com tacões muito altos e de formas estranhas que apertam o pé”, explica Alexandre Penedo. Tem clientes dos 2 aos 85 anos. “Trabalhar com crianças é compensador. Ver uma que entra de cadeira de rodas e que sai pelo próprio pé é algo que nos toca”, assegura.Na Ortoribatejana, o irmão de Alexandre Penedo é director comercial. Há ainda uma funcionária de atendimento e outra técnica ortoprotésica. O estabelecimento recebe ainda estágios curriculares de universitários dos quais Alexandre tem sido monitor.No negócio de fabrico de próteses e componentes ortopédicos há novidades, como as próteses controladas por microprocessador mas o técnico admite que as chamadas próteses biónicas, controladas pela mente, venham a ser comercializadas em dez ou 20 anos. Para o mundo animal também já teve dois pedidos. “Apareceram dois donos de cães a solicitar próteses mas acharam dispendioso. É um mercado em aberto, já se fizeram próteses para golfinhos e elefantes pelo mundo”, exemplifica.
O técnico que trabalha numa “oficina do corpo humano”

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