Jornais regionais em papel vão resistir à concorrência da Internet
Henrique Granadeiro considera que o jornalismo de proximidade é uma garantia de futuro
Na conferência sobre o futuro da Europa, realizada em Santarém, o conhecido gestor disse que Portugal tem sido uma voz demasiado submissa aos interesses alemães e defendeu uma reformulação do plano de ajustamento financeiro com mais dinheiro e mais tempo para ser cumprido.
Os jornais locais em papel vão resistir à concorrência da Internet e continuar a existir durante muito tempo, graças ao noticiário de proximidade que os diferencia dos periódicos generalistas de grande circulação que, esses sim, terão tendência a optar somente pelo suporte digital, como aliás já se começa a verificar. A convicção foi partilhada por Henrique Granadeiro, presidente do conselho de administração da Portugal Telecom (PT), durante uma conferência realizada esta segunda-feira em Santarém integrada nas comemorações do 25º aniversário do jornal O MIRANTE.O orador sublinhou que os jornais sempre tiveram muita dificuldade na forma de lidar com o conceito de gratuitidade que os utilizadores associam à Internet e demoraram algum tempo a encontrar modelos de negócio para tornar rentáveis as edições online. Henrique Granadeiro realçou que hoje já há esses modelos de negócio definidos, com o acesso a informação paga através da Internet ou de telemóvel, e que o suporte digital deverá ser o caminho exclusivo para os maiores jornais nos próximos tempos.Já quanto aos jornais locais e regionais, considera que o sentimento de pertença dos cidadãos a determinada comunidade é um ponto a favor que permite vaticinar que esse conceito de jornalismo de proximidade vai viver ainda muito tempo em cima do suporte em papel. Granadeiro diz que enquanto as coisas forem como são há um lugar para os jornais regionais, desde que saibam adaptar-se aos novos tempos e novos públicos e dinamizem uma oferta cumulativa em suporte digital, que tanto pode ser de imagem como de vídeo.Uma visão que o director geral de O MIRANTE, Joaquim António Emídio, partilhou, afirmando a concluir a palestra, realizada no Teatro Sá da Bandeira, que O MIRANTE podia ser “o jornal das oito cidades” mas optou por ser um jornal próximo de todas as freguesias e lugares da região, mesmo daqueles onde nem os políticos vão em campanha eleitoral.Portugal tem sido uma voz submissa e suplicanteA intervenção inicial de Henrique Granadeiro versou sobre o futuro da Europa e o cenário de crise que se vive, tendo o patrão da PT referido que Portugal nunca ultrapassará a actual situação sem a ajuda e a solidariedade da União Europeia. Para isso, referiu, é necessária a conjugação de três factores: mais dinheiro, mais tempo para cumprir o memorando assinado com a troika e financiamento externo a taxas de juro mais favoráveis para se poder voltar a uma trajectória de crescimento económico.O gestor exortou ainda os governantes nacionais a baterem o pé à Alemanha, referindo que Portugal tem sido uma voz demasiado dócil, submissa e suplicante e que o nosso país não tem de andar a pedir favores às instituições comunitárias, pois tem direito a ser ressarcido pela alienação da sua política monetária e cambial com a adesão ao euro.Criticando a arrogância da Alemanha na actual conjuntura e também os seus erros no passado, Granadeiro defendeu ser necessária mais firmeza nas negociações, recordando que, durante a segunda metade do século XX, esse país teve um perdão de 50 por cento da sua dívida para se recompor economicamente da II Guerra Mundial que provocou e pagou a outra parte num prazo muito dilatado de tempo. O administrador da PT exortou mesmo os muitos estudantes presentes a pesquisarem sobre o Tratado de Londres de 1953 onde ficaram consagradas as condições de financiamento da recuperação da Alemanha Ocidental, depois da II Guerra Mundial. Esse acordo, que envolveu 26 países, com especial relevância para os Estados Unidos, Holanda, Reino Unido e Suíça, onde estava concentrada a maior parte da dívida germânica, adoptou três princípios fundamentais: o perdão de metade da dívida alemã; o reescalonamento do prazo da dívida para um prazo longo; e o condicionamento das prestações à capacidade de pagamento do devedor. Factores que, para Granadeiro, legitimam que Portugal defenda uma revisão ou reformulação do actual plano de ajustamento financeiro e do memorando negociado com a troika.
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