Os moradores de um prédio de apartamentos situado em Monte Gordo no concelho de Vila Franca de Xira fecharam-se a cadeado para impedir mais uma tentativa de os políticos se imiscuírem nas suas vidas. Agitando um papelucho do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, onde se lia que o edifício podia ruir a qualquer momento, a presidente da câmara foi lá para os despejar. Despejar!!!, Vê lá tu??!! Vamos lá despejar aquilo, deve ter dito aos advogados, técnicos e polícias no mesmo tom de voz com que manda a senhora da limpeza despejar o cesto dos papéis lá do gabinete. É com coisas destas que eu embirro. A mim também me tocam regularmente à campainha da porta para me tentarem convencer a mudar de fornecedor de televisão por cabo ou a frequentar igrejas com nomes estranhíssimos que se costumam instalar em caves e garagens de alguns prédios e eu faço o mesmo. Não abro a porta e corro ainda mais os ferrolhos. Alguns encanzinam-se com a minha atitude e tocam na campainha que nem uns desalmados. Uma vez um deles até me deu pontapés na porta, imagina!! Nem assim me convencem. Não abro. Não abro. Não abra, porra!!!Dirás tu que no tal prédio não se trata de mudar de credo religioso ou de fornecedor de televisão por cabo. Que existe o risco de aquilo ir encosta abaixo. Eu respondo-te que no meu caso também me são lançadas maldições bíblicas. Afiançam-me que vou para as profundezas dos infernos; que vou ver os jogos da bola com interferências de discursos do presidente de Angola; que a má sorte se abaterá sobre mim de tal maneira se eu não marcar consulta no professor Karambola que até em casa me arrisco a ficar paralisado por inexplicáveis ciáticas. A minha mãe também me agitava à frente da cara os avisos contra o álcool, as drogas e o tabaco e bem me avisava das manobras da vizinha da frente que insistia em andar nua pela casa. E qual foi o resultado, qual foi??!! Pois...foi esse mesmo que está a pensar. E olha que era a minha santa mãe. E o meu pai não me dizia para estudar??!!! Dizia, claro que dizia. Quanto mais ele dizia menos eu pegava nos livros. O ser humano é assim mesmo. Quanto mais gritarem à porta do prédio que o mesmo vai cair mais o pessoal se aferrolha e não sai. E se o prédio cair os sobreviventes se encarregarão de pôr a câmara em Tribunal por não ter feito nada para evitar a tragédia. Para já não falar do banquete que será para os jornalistas.Lembro-me sempre do homem que ia a descer do eléctrico em andamento e se estatelou mesmo em frente à paragem apinhada de gente. “Ah!Ah!Ah! O quê??!!” Gritou ele para a matula que ria a bandeiras despregadas. “Cada um desce como quer!!”. Se um gajo quer estar num prédio em risco de ruir porque não pode estar se está naquilo que é seu?!! Além disso aqui há tempos o tal laboratório também anunciou que um edifício de uma escola de Torres Novas estava em risco de cair e ele ainda lá está inteirinho da silva. E quantas vezes já foi anunciado o fim do Mundo desde que o Mundo é Mundo??!! E quantas vezes é que o Passos Coelho e o Gaspar anunciaram o fim da crise??!! Quantas??!!! E a crise acabou?!!!Estou a acompanhar a novela das multas que a Inspecção do Ambiente aplica à Ecolezíria, gestora do Aterro de Resíduos Urbanos da Raposa, Almeirim e que o Tribunal anula. Já são sete. E nem sequer ficamos a saber se as águas que saem da ETAR do aterro para a Ribeira de Muge estão ou não poluídas. As decisões do Tribunal são tomadas porque a ETAR não é gerida pela Ecolezíria mas por uma empresa contratada para esse efeito. A curiosidade é saber quantas vezes mais a Inspecção vai multar a Ecolezíria antes de decidir mudar a pontaria e decidir aplicar as multas a quem deve. Dezassete vezes? Vinte e sete vezes? Setenta e sete vezes? A persistência é uma coisa admirável. Tão admirável que se perdoa tudo o mais a quem a pratica com denodo. Tu nunca ouviste a expressão: “Burro...mas persistente” ?Saudações desobedientesManuel Serra d’Aire