Leonor Figueira, 59 anos, tornou-se enfermeira por acaso. Natural de Lisboa, na altura de concorrer à universidade entrou na Faculdade de Belas Artes com o intuito de seguir arquitectura. Corria o ano de 1974 e o mundo estudantil estava em convulsão. A Faculdade de Belas Artes foi uma das que encerrou e Leonor ficou algum tempo com a sua vida estudantil em suspenso. Aproveitou os tempos livres para integrar uma campanha de combate à poluição das praias da Costa do Sol (desde Algés a Cascais).Entretanto, namorava com um rapaz, estudante de Medicina, e como a jovem andava sempre a reclamar que estava farta de não fazer nada, ele falou-lhe numa escola de enfermagem. Leonor Figueira decidiu arriscar, inscreveu-se e conseguiu entrar. “Abominava medicina e sempre disse que jamais entraria numa aula de anatomia porque achava que não seria capaz”. "Quando comecei a frequentar o curso de enfermagem gostei bastante”, explica. Gostou tanto que quando estava a terminar o primeiro ano veio a informação que a Faculdade de Belas-Artes ia reabrir e Leonor podia oficializar a matricula que estava, até então, provisória. A jovem estudante de enfermagem já não voltou atrás e continuou o curso de saúde. Hoje não se imagina a fazer outra coisa.Desde que foi mãe que Leonor Figueira sempre quis viver fora dos grandes centros urbanos, como Lisboa. Quando teve conhecimento que o Hospital de Santarém tinha aberto vagas para enfermeiros não pensou duas vezes e mudou-se para a província. “Há 25 anos Santarém era uma cidade pequena e um meio muito protegido. Sentia-me segura aqui e era o que queria para criar os meus filhos. Tenho maior qualidade de vida, o que não acontece na capital e estou a menos de uma hora de Lisboa. Foi a melhor opção que tomei”, afirma a O MIRANTE.Enfermeira há quase três décadas, Leonor Figueira é enfermeira obstetra no Hospital de Santarém. Tantos anos depois continua a achar fascinante ajudar crianças a nascer. Considera que nenhum parto é igual a outro. Há tempos uma senhora que acompanhava a filha, que ia dar à luz, reconheceu-a como tendo sido a enfermeira que ajudou no parto da filha que se preparava para entrar no bloco de operações para também ela ser mãe. “É muito recompensador as pessoas lembrarem-se de nós. Acabei por ajudar a nascer a filha e a neta daquela senhora”, recorda. Duas vezes por semana dá aulas de preparação para o parto no Hospital Privado de Santarém. Já o faz há cerca de 18 anos. Decidiu começar a fazê-lo porque sempre achou importante que as mães fossem para o parto com o maior conhecimento possível. “As mulheres iam para a sala de partos sem saber o que as esperava, a maioria com medo do parto, e sempre defendi que é importante saberem o que as esperava durante o parto e o que muda depois de sermos mães”, considera.Há cada vez mais mulheres a terem aulas de preparação para o parto mas a crise financeira e a instabilidade dos empregos tem levado muitas mulheres a não serem acompanhadas durante a gravidez. A enfermeira revela que no início da gestação as mulheres escondem da entidade patronal que estão grávidas e muitas não são acompanhadas porque não têm horário para irem às consultas, mesmo no centro de saúde. “Muitas mulheres têm medo de pedir para sair mais cedo para irem ao médico porque não querem perder o seu posto de trabalho”, diz.