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Ser autarca é que lhe enche as medidas

Ser autarca é que lhe enche as medidas

Pedro Ribeiro, vice-presidente da Câmara de Almeirim e candidato à presidência do município pelo PS

Pedro Miguel César Ribeiro, 38 anos, nascido no dia dos namorados, 14 de Fevereiro, enamorou-se da política em 1991 começando por colar cartazes. Dois anos depois já estava sentado na assembleia municipal. Em 1997 foi para vereador sem tempo e a partir de 2001 assumiu o cargo a tempo inteiro. É actualmente vice-presidente da autarquia e candidato à presidência esperando ser eleito para ocupar a cadeira de Sousa Gomes, de quem foi delfim. Nos últimos tempos houve algum afastamento entre ambos, mas Ribeiro diz que continua a ter uma boa relação com o presidente que conhece há 20 anos. Diz que se for eleito vai continuar o bom trabalho que tem sido feito pelo PS no concelho nos últimos 24 anos, mas com um cunho diferente. Assume que não precisa da política para viver, mas que o que mais gosta é de ser autarca.

António PalmeiroDurante muitos anos a Câmara de Almeirim não teve vice-presidente nomeado. Como é que conseguiu chegar a este cargo?Sendo o número dois da lista foi algo natural. Só no mandato de 2005 é que passou a haver vice-presidente. É o presidente que nomeia e não tive qualquer tipo de influência. Conseguiu ter autonomia nos seus pelouros, o que também não era uma tradição na câmara. Foi um reconhecimento?Os vários vereadores têm áreas adstritas. Na câmara não existem chefias intermédias, chefes de divisão e de departamento, e os vereadores acabam por ter um trabalho mais no terreno. Já sou vereador há alguns anos e nunca houve negociação. Tenho, por ser vice-presidente, um conjunto de tarefas delegadas que podem ser usadas nas faltas ou impedimentos do presidente. Em 2005 apesar de estar em lugar elegível na lista para a câmara acabou por ir para adjunto do governador civil. O que se passou?Era o número três da lista e entendi, fruto de uma situação anterior, não me disponibilizar para ser vereador a tempo inteiro. Em 2004 houve um episódio que me fez tomar essa decisão. Na altura o governo era do PSD/CDS e não havia qualquer intenção de ir para outro cargo. Na altura fui convidado também para trabalhar como assessor de uma pessoa no grupo do PS no parlamento europeu. Apesar de ir ganhar três vezes mais, não aceitei porque não era o tipo de trabalho que mais gostaria de fazer. Ainda fui trabalhar como funcionário da administração tributária e depois fui convidado para adjunto do governador civil. Que episódio foi esse?Foi uma questão interna na câmara que não teve a ver com o presidente.Foi preciso haver um desentendimento entre o presidente e o então vice Francisco Maurício para regressar à câmara. Na altura era também presidente da concelhia do PS e entendi que por uma questão de solidariedade devia voltar. Vê-se a regressar à sua actividade profissional.Aprendi com o actual presidente que é fundamental que quem está nos cargos políticos possa ter um sítio para regressar. Não ficar dependente da política e dos cargos. Isso permite uma grande independência numa série de coisas. É técnico tributário nas Finanças, mas ser vereador ou presidente de câmara tem outra relevância.Já passei por vários lugares e se me perguntarem qual é o que mais gosto, sem dúvida é o de ser autarca. Não fui para Bruxelas precisamente porque não era uma coisa que me estimulasse. Tem uma boa relação com a chefe de gabinete do presidente da câmara?A relação é estritamente profissional. Se houver um assunto da câmara sobre o qual temos que falar, falamos. É só isso. E com o presidente também é uma relação estritamente profissional?Não. Conhecemo-nos há muitos anos. Não houve grandes mudanças no nosso relacionamento.Então o que é que se passou para ele não apoiar a sua candidatura à câmara e até dizer que está envolvido num movimento independente?É uma pergunta que tem que fazer a ele.Quem é que vai ser a sua chefe de gabinete se for presidente da câmara?Não terei nenhuma chefe de gabinete até porque é um cargo que vai acabar. Se tivesse, era um homem. Há um conjunto de pessoas que encaixariam no perfil. É natural que o presidente cumpra o mandato até ao fimAtendendo aos problemas de saúde e ao facto de não poder recandidatar-se, acha que o presidente devia sair antes do fim do mandato?Essa é uma decisão pessoal. Nas eleições ele disse que levaria o mandato até ao fim. Fiz parte duma lista sabendo isso e acho natural que leve o mandato até ao fim cumprindo a sua promessa.Como tem visto algumas polémicas na área do desporto que é da competência do presidente, nomeadamente com os 20Kms de Almeirim?Fui durante dois mandatos vereador do desporto. Cada um gere as suas áreas como entende. Nunca tive polémicas porque sempre fui tentando resolver os problemas quando eles iam surgindo. Sei que vai havendo algumas situações em que os clubes se queixam, mas não me fica bem comentar as áreas de outras pessoas que dependem do executivo. Nunca se manifestou acerca da retirada de pelouros à vereadora Fátima Pina por razões alegadamente económicas. Concordou?Na altura tive oportunidade de dizer o que pensava a quem de direito. Na câmara, por não haver chefias intermédias, justifica-se haver quatro vereadores a tempo inteiro. Destacou-se pelas actividades ambientais e por algumas políticas de mobilidade, mas um município não é só isso. Vivemos uma alteração profunda do poder autárquico. No pós-25 de Abril foi a de fazer infra-estruturas. Depois foi a aposta ainda em algumas obras para a qualidade de vida. E agora estamos numa encruzilhada em que a aposta em termos de fundos comunitários é precisamente nas questões ambientais e de mobilidade. O país também está numa situação que não permite grandes obras e até, na maior parte dos casos, elas estão feitas. O que é que pode ser feito no concelho?O futuro do concelho passa por aproveitarmos o que temos de bom. Temos que aproveitar o milhão de visitantes que vem à sopa de pedra e podemos maximizar as relações entre o município e a Compal. A empresa precisa de produtos agrícolas e é fundamental que estes sejam produzidos no concelho. Uma articulação maior entre os sectores do vinho e dos enchidos, a recuperação do melão de Almeirim como imagem de marca. Temos dos melhores agricultores do mundo e temos que ter a capacidade de vender bem. Os políticos podem usar a sua influência para a existência de uma cadeia de mais valor. E em outras áreas?Temos que apostar também nas questões sociais porque o poder central está cada vez mais a demitir-se destas funções. Temos que aprender a fazer milagres. Se tivermos que sacrificar algumas coisas, como as festas, devemos fazê-lo para redistribuir apoios por quem mais necessita. A câmara deve apoiar também o desporto na área da formação e na cultura. E sobretudo iniciativas que representam mais-valias, como a prova dos 20 Kms de Almeirim que traz à cidade cerca de três mil atletas e familiares destes. E para o futebol sénior a câmara deve continuar a dar dinheiro? Defendo que os clubes devem ter futebol sénior, mas de uma forma sustentável. Os seniores devem servir de exemplo para os mais novos, mas temos que perceber que os clubes, não só de Almeirim mas no geral, têm que viver com o que têm, nem que seja apenas oferecer o jantar aos jogadores no final dos jogos. Quem está neste escalão deve jogar por gosto e não pode querer viver do futebol.Com o Pedro Ribeiro em presidente a câmara vai mudar muito?Acho que a nível interno podem ser feitas algumas mudanças até em termos de hierarquia. Não acho que devemos ter 10 chefes de divisão ou de departamento mas também não devemos ter zero como agora. E isto não significa que se vá esbanjar dinheiro, até porque nalguns casos os funcionários que já são da câmara não vão ganhar mais ou se ganharem é muito pouco. Ao contrário do que as pessoas pensam, que se gasta mais dinheiro com chefias, estas servem para poupar. Porque pôr as pessoas a falar, a partilhar reduz a duplicação de tarefas. A câmara tem um conjunto vasto de funcionários de excelência. Gente que é preocupada, que cumpre as suas tarefas e se preocupa com a defesa da sua entidade patronal. “O PS está perfeitamente pacífico”Há muito tempo que se falava que ia ser candidato mas só há umas semanas se assumiu. Ainda não tinha apoios?Não foi isso. Houve uma mudança de estatutos no PS que ficou finalizada em Setembro. E só a partir dessa altura ficou claro como iria ser a escolha dos candidatos. Não vale a pena andar um ou dois anos antes a dizer que sou candidato sem perceber o que é necessário fazer. Mas o que parecia uma sucessão natural, em paz, acabou por não ser. Ainda não explicou o que se passou para o presidente da câmara não o apoiar.Tem que lhe perguntar a ele. O PS está perfeitamente pacífico. O partido elegeu José Marouço para a comissão política concelhia com cerca de 100 votos e seis abstenções. Na altura, quando ele foi a eleições, disse que o seu candidato à câmara seria eu. Isso estava implícito na votação. As pessoas estão a apoiar-me como candidato, como todos os presidentes das juntas de freguesia. Mas fala-se de pessoas no PS ligadas a candidaturas independentes. Se alguém ficar ligado a esses movimentos terá que o assumir. Mas muita água ainda vai passar debaixo da ponte. Não teme clivagens nas autárquicas?O PS tem que se preocupar com os seus candidatos, o seu programa, com o que quer apresentar aos eleitores. Não o preocupa que o presidente da câmara Sousa Gomes, militante histórico, venha dizer que pode estar numa candidatura independente?Pretendemos que todos os que são militantes apoiem o PS. As pessoas são livres de tomar as posições que quiserem. Se aparecerem movimentos independentes as eleições podem não ser fáceis para o PS. Quem anda muito a olhar para trás e para os lados acaba por não olhar para a frente e pode tropeçar. Obviamente que se as coisas forem pacíficas, se estiver toda a gente a remar para o mesmo lado, é mais fácil atingir os objectivos. O PS governa a câmara há 24 anos, 20 dos quais com maioria absoluta. É reconhecido que se fez um bom trabalho. O que se pretende no meu caso, com cunhos diferentes, é continuar a fazer esse trabalho.Mas gostaria de ter o apoio de Sousa Gomes?Gostaria de ter o apoio de todos os que se revêem nos programas do Partido Socialista e claro que o apoio dele é importante. É amigo do secretário-geral do PS, António José Seguro. E se ele chegar a primeiro-ministro e o convidar para um lugar…Não vou. Conheço-o há cerca de 20 anos. Mas entre ter funções governativas e autárquicas prefiro as autárquicas. Tem feito um percurso sobretudo na política. É legítimo que as pessoas o olhem como mais um carreirista, um político profissional. Os políticos profissionais ou carreiristas têm várias diferenças em relação a mim. Esses por norma não têm profissão e na maioria dos casos têm uma coluna vertebral muito maleável porque precisam da política para viver. Felizmente não preciso da política para viver. Quando em 2005 não entrei para vereador a tempo inteiro tinha direito a receber perto de 18 mil euros de subsídio de reintegração, mas não os pedi. Um político profissional entre um cargo de nomeação ou de eleição prefere o de nomeação porque não tem que se sujeitar a uma votação. Já começou a contactar as pessoas que quer na sua lista?Não. Tenho algumas ideias que na altura certa transmitirei às pessoas. O próximo passo vai ser o de encontrar os candidatos às freguesias.Três presidentes das quatro juntas não se podem recandidatar. Não vai ser uma tarefa fácil.O que está perspectivado é em colaboração com eles encontrar as melhores soluções.“A vida que faço não seria diferente se tivesse casado”É vice-presidente da câmara, presidente dos bombeiros, está em várias colectividades. Ainda tem tempo para a vida pessoal?Vou tendo. Com alguma dificuldade. A única forma que tenho de ter um tempo para mim é marcar na agenda um fim-de-semana e sair de Almeirim. Não é possível estar em Almeirim um fim-de-semana sem ter que ir a um conjunto de actividades. É por falta de tempo que nunca se casou ou por opção ideológica?Sempre tivemos os dois uma vida bastante atarefada e não é nenhuma opção ideológica. Até sou católico. Não sou casado de papel passado. A vida que faço não seria diferente se tivesse casado no papel.Ser vereador da protecção civil e presidente dos bombeiros parece uma questão de dupla personalidade.Foi uma das questões que levantei e que conversei com o presidente da câmara. Tem vantagens e desvantagens. Os bombeiros são uma associação com uma personalidade jurídica muito diferente das outras. O comando tem uma autonomia muito grande e competências próprias. Não há uma subordinação à direcção, que não dá ordens do ponto de vista operacional. Foi como dirigente de associações de estudantes que começou o gosto pela política?O bichinho da política começou em 1991. Um dos episódios que me marcou foi a campanha entre Mário Soares e Freitas do Amaral. Numa noite fui ao café com o meu pai e deu-se uma discussão de pontos de vista entre quem apoiava um e outro. Essa situação marcou-me. Alguns dos meus amigos eram do PSD e da JSD e costumávamos estar no café Grupo 4. Mesmo em frente estava um tapume inundado com cartazes do PSD. Perguntei ao meu pai se conhecia alguém no PS que não me importava de ir colar cartazes. Fui falar com o presidente da câmara e comecei a colar cartazes.
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