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“Não somos sempre as mesmas pessoas ao longo da vida”

“Não somos sempre as mesmas pessoas ao longo da vida”

António José Soares, 46 anos, gestor de empresas, Santarém

António José Soares, 46 anos, é gestor da empresa Confidentia, em Santarém, onde reside. É casado e tem três filhos. Foi pára-quedista mas seguiu carreira como gestor de empresas. A organização é um dos seus fortes, mas nem sempre foi assim. Foi obrigado a disciplinar-se. Um dia por semana escapa-se para ir almoçar fora com a mulher. Nos tempos livres joga ténis, corre e anda de bicicleta pelo mato.

Senti necessidade de me formar em gestão quando a minha empresa começou a crescer. Quando era pequena era fácil de gerir. Depois começámos a sentir algumas lacunas. Decidi fazer a licenciatura, o que me ajudou a compreender alguns dos desafios. Agora já estou a terminar o mestrado na área de gestão de sistemas de informação. O conceito de 15 minutos em Santarém é muito diferente do conceito de 15 minutos em Lisboa. Em 15 minutos em Santarém vamos a todo o lado. Em Lisboa, muitas vezes, em 15 minutos não saímos da rua onde moramos. Foi bom usufruir de alguma calma da região quando cheguei há sete anos. Há menos trânsito. Por outro lado também estamos mais longe de outras coisas. Temos menos escolha na área da saúde, menos espaços de convívio e estamos mais longe da praia, uma coisa de que a família gosta.Gerir o tempo é um exercício muito difícil de fazer. Tenho o tempo todo muito dividido e tento focar-me. Quando estou a trabalhar concentro-me no trabalho. Quando estou com a família dedico-me totalmente. Isto embora não se consiga estar a trabalhar e esquecer os problemas da família e vice-versa. Jogo ténis, corro e ando de bicicleta pelo mato. Não tenho o hábito de usar fato e gravata. Só se o ambiente for formal e a isso obrigar. Tive que obrigar-me a ser organizado. Foi uma necessidade. A partir de determinada altura da minha vida comecei a ter tanta coisa que fazer que tive mesmo necessidade de me organizar. É um esforço que faço. Marco coisas a mim próprio e digo: «já está, agora tens que fazer». Só sou mais organizado de há dez anos para cá mas até aí não tinha tantas responsabilidades. Não planear é planear o fracasso. Durante muito tempo tive essa frase escrita no meu e-mail porque queria passar essa mensagem às pessoas. Um dia por semana escapo-me com a minha mulher para almoçar. É um almoço a dois. Jantar é mais difícil porque temos os miúdos, já estamos mais cansados e há muitas noites em que trabalho até tarde. Há dias em que consigo levar o meu filho mais novo à escola e assistir ao treino de hóquei. Ao fim de semana passamos muitas horas juntos. Às vezes perco a cabeça e tiro três semanas de férias. Prefiro trabalhar arduamente o ano inteiro e tirar depois vários dias seguidos. Deixar de pensar no trabalho é difícil mas sempre dá tempo para descomprimir. As férias são à medida do orçamento familiar. Durante o ano fazemos umas escapadinhas à Serra da Estrela, Madrid ou Londres. Quando morava no Cacém roubei uns pneus de jipe com uns amigos e o meu pai, que era militar, teve alguns problemas à conta disso. Tínhamos abandonado os pneus e lá tivemos que ir buscá-los. Lembro-me que brincava muito no quartel com filhos de militares. Jogávamos à bola com recrutas. À tarde, depois da escola, vagueávamos pela carreira de tiro. Sentíamo-nos meio infiltrados. Mais tarde fui voluntário nos pára-quedistas. Gostei muito de saltar. A minha experiência militar ficou-se por aí. Não somos sempre as mesmas pessoas ao longo da vida. Somos sempre nós próprios e as nossas circunstâncias, como diria Ortega y Gasset. Para se ser sempre o mesmo era necessário que as circunstâncias da vida fossem sempre as mesmas, o que normalmente não acontece. As coisas nunca são preto ou branco. Há vários níveis de cinzento.Ana Santiago
“Não somos sempre as mesmas pessoas ao longo da vida”

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