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Vinte e dois por cento dos empresários agrícolas do Ribatejo são mulheres

Trabalhos especializados tradicionalmente efectuados por homens também já são feitos por elas

O sexo feminino está a chegar em força à agricultura: vinte e dois por cento dos empresários agrícolas do Ribatejo são mulheres, segundo dados da Agrotejo, referentes a 2012. São também cada vez mais as mulheres que se ocupam de trabalhos agrícolas especializados até aqui tradicionalmente masculinos, como a poda das vinhas ou a condução de máquinas. A tecnologia esbateu as diferenças entre trabalhos de homens e mulheres embora elas continuem a ganhar menos.

Dia de sol no campo. Um rancho de mulheres vislumbra-se ao longe da estrada de Alpiarça. São sobretudo mãos femininas que agora fazem a poda das vinhas pelos longos corredores, lamacentos nos dias de chuva. Cada uma segue o seu carreiro, debruçada sobre a cepa, de mãos embrenhadas em arames quase farpados cortando talões com uma tesoura de podar. O trabalho era até há alguns anos tradicionalmente masculino. Foram os homens que ensinaram as mulheres. Não é difícil aprender a técnica, dizem elas. Muitas começaram a executá-la ainda pequenas nas vinhas da família. É certo que é preciso força de mãos para apertar a tesoura mas há outros trabalhos mais duros. “Pior é cavar”, assegura Maria Alice Colhe, 69 anos. Em dois dias a mulher de Alpiarça aprendeu a olhar para as cepas e a saber o que há para cortar. Depois de alguma prática o trabalho torna-se mecânico. “A inovação tecnológica permitiu que deixasse de existir na agricultura trabalhos de homens e de mulheres”, explica Mário Antunes, da direcção da Agrotejo, União Agrícola do Norte do Vale do Tejo, na Golegã, que lembra que hoje em dia há tesouras de poda que exigem menos esforço físico. Mas não é só à poda que as mulheres se estão a dedicar. Há dez anos que elas aprendem a conduzir máquinas agrícolas na associação. A formação em Mecanização Básica e Condução de Veículos Agrícolas, ministrada pela Agrotejo, tem 12 alunos, dois dos quais são mulheres. Nos outros cursos, como o de aplicação de produtos fitofarmacêuticos ou higiene e segurança no trabalho, as mulheres ocupam normalmente 40 por cento dos lugares. A associação vê a chegada em força das mulheres à agricultura com naturalidade. Não só na execução de trabalhos especializados no campo como em funções empresariais. Vinte e dois por cento dos empresários agrícolas da região do Ribatejo são mulheres. Elas destacam-se sobretudo na horticultura e cereais, mais do que na floresta ou pecuária, áreas ainda ocupadas maioritariamente por homens, segundo dados estatísticos da Agrotejo referentes ao ano passado.A engenheira zootécnica, professora e coordenadora do curso de produção agrícola da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes, Manuela Barreiros, tem este ano menos raparigas que rapazes no curso (seis raparigas em 50 alunos) mas ainda assim reconhece que elas são mais concentradas e envolvidas. “Vieram com a consciência daquilo que querem”. A docente concorda que as mulheres estão a destacar-se cada vez mais no sector da agricultura, sobretudo em termos empresariais, mais do que na execução de tarefas específicas no campo. MULHERES RECEBEM MENOS E NÃO LEVAM VINHO Na poda das vinhas, que se iniciou em Novembro, cortam-se os talões para tornar a cepa forte. As pernadas secas separam-se com um pequeno serrote que as mulheres trazem à cintura. À medida que o ritmo de trabalho acelera as vides vão-se acumulando no chão mas já não se fazem molhos como em outros tempos. Sílvia Miranda, de Fazendas de Almeirim, tem 45 anos e o oitavo ano. Não se arrepende de ter deixado a escola cedo para trabalhar no campo. A conterrânea Odete Fitas, 55 anos, concorda. É mais fácil podar que suportar o gelo da manhã. “Os patrões trazem mais mulheres porque elas recebem menos e não levam os 10 litros de vinho por semana”, diz um homem que acompanha outro grupo de mulheres no trabalho, Fernando Rama, 73 anos, de Alpiarça. O trabalho é tão bem feito por homens como por mulheres, confirma o agricultor António Ferreira, 73 anos, presidente da Adega Cooperativa de Almeirim. Ainda assim elas ganham menos que eles. Levam para casa trinta euros por um dia da trabalho enquanto que os homens merecem 35. “Como têm mais força nas mãos conseguem dar avanço ao trabalho”, explica. As mulheres contentam-se com a jorna do trabalho que durará até final de Fevereiro e não discutem. Antes agradecem. “É um patrão bom que dá trabalho às mulheres”, diz Jesuína Caniço, 76 anos, das Fazendas de Almeirim, sem tirar os olhos das vides. Depois da poda vem a empa, mais um passo na preparação da nova colheita da casta Fernão Pires que será encaminhada para a Adega Cooperativa de Almeirim para fazer vinho novo. Em Setembro a vindima voltará as chamá-las. E será assim até ao lavar dos cestos.

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