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Enterrar bem o chouriço com as viúvas aos gritos

Enterro do entrudo na Póvoa de Santa Iria mobilizou dezenas de pessoas

Pode não haver Carnaval à brasileira com sambistas de biquíni a dançar à chuva mas não falta o enterro do entrudo com as maiores cusquices do ano gritadas no meio da rua ao megafone. É uma tradição antiga que o Grémio Dramático Povoense faz questão de recriar todos os anos.

Celina Dias, 15 anos, não quer acreditar no que os seus olhos vêem: um desfile fúnebre com viúvas aos gritos e um “morto” descomposto deitado numa carreta com uma erecção do tamanho de uma casa. Habitante da parte nova da Póvoa, um aglomerado de dezenas de prédios de 12 andares, Celina só por coincidência passou na zona antiga da Póvoa de Santa Iria na noite de 13 de Fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas. Foi assim que se viu a assistir ao “Enterro do Chouriço”.“Não conhecia nada disto. Grandes malucos”, desabafou para o MIRANTE, antes de tirar uma foto para meter no Facebook. À semelhança de outras localidades a Póvoa de Santa Iria enterrou o entrudo com a distribuição de muita “merda” e a revelação pública das cusquices do ano. Houve dezenas de pessoas na rua a ouvir e a provar que, mesmo às portas de Lisboa, se consegue manter a tradição viva. Houve notícia de infidelidades; de gente que pede dinheiro emprestado e até de lojas de chineses que recebem cada vez mais a visita de gente “rica”.De megafone na boca do leitor do testamento e a banda a tocar a marcha fúnebre de Chopin, o enterro percorreu a zona histórica da Póvoa. Falou-se da loja da Adelaide, do Café da Isabel, do João Sapateiro e do Talho do Valdemar. Os gritos das viúvas acordaram muitos moradores, a julgar pela abertura repentina de algumas persianas. “Há gente na zona nova da Póvoa que não imagina que estamos a divertir-nos desta maneira”, conta Rui Benavente, presidente do Grémio Dramático Povoense, associação que mais uma vez dinamizou a iniciativa. “O povo fica em casa a ver televisão em vez de se vir divertir. Mas percebemos que a maioria tem de se levantar de madrugada para ir trabalhar para Lisboa. Nós não, vivemos e trabalhamos na Póvoa, por isso estamos bem”, conta Pedro Horta e Rute Fontera, dois namorados que se juntaram à festa. O pobre entrudo acaba queimado em frente à sede do Grémio, só se salvando as botas e a poderosa erecção para o ano seguinte. “Malvado, morreste outra vez, é todos os anos a mesma coisa!”, lamentou a viúva, para gáudio do povo.Algumas passagens do testamento do “malvado”Só em festas importantesNa Póvoa de Santa IriaAparecem os representantesDa Junta de FreguesiaJulgam-se gente importante E não se juntam ao povo Foram notícia n’O MIRANTE E não vimos nada de novoO entrudo e amigõesNuma tarefa conjuntaDeixa merda e cagalhõesPrós engravatados da JuntaVendem peixe compram casasTêm parque prá camionetaQualquer dia ganham asasE compram uma avioneta. Este rei dos foliõesQue nunca se aquietaDeixa-vos mil cagalhõesPara encherem a camionetaO sapateiro do centroTem trabalho com farturaMas do que ele gosta maisÉ de espreitar pela ranhuraCom a montra cheia de malasIsto não é o que pareceA Adelaide vende perfumesE o Dimas nem aparece Ao morrer o carnavalQue partiu sem grande afrontaDeixa carradas de merdaPara actualizar esta montraApesar de muitas queixasContinua a poluiçãoOs vizinhos estão zangadosMas não acham soluçãoE foi assim que o entrudoAo morrer cheio de doresDeixou um bidon de merdaPara acabar com os odores

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