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Jogo do quartão na Chamusca é mostra de virilidade

Jogo do quartão na Chamusca é mostra de virilidade

Homens e mulheres concordam que este é um jogo masculino

Na Quarta-Feira de Cinzas os quartões voam na Chamusca. Quem deixa o cântaro de barro ficar em cacos paga sete euros ou uma rodada de copos de vinho. As mulheres já participaram em tempos mas este é sobretudo um jogo de homens.

Quem ouve pela primeira vez os homens do jogo do quartão na Chamusca, que sai à rua sempre na Quarta-Feira de Cinzas, parece ouvir uma espécie de relato feito na primeira pessoa. O grupo passeia pela vila e vai atirando o cântaro de barro de mão em mão como quem passa uma bola numa partida de andebol. “Ó Pitosga, ó Mário, ó Zé Pedro, ó Vitinho!!”, gritam os homens a avisar que o quartão vai voar pelos ares. Há quem o agarre com os dois braços, bem agarrado. Outros deixam que o cântaro se escape entre as mãos. Esses pagam sete euros, depois de ouvir alguns assobios. Antes, a penalização ficava-se pelo pagamento de uma rodada de tinto na taberna mais próxima. “Ó senhor presidente, chegue-se à frente!”. Sérgio Carrinho, no último ano de mandato, sai do edifício da câmara para entrar no jogo. Não fosse ele político, aproveita para fazer um discurso. “Esta é uma tradição genuína. São vocês que a inventam, que a executam e que a gozam e a gente amanhã limpa os cacos. Embebedem-se mas não se aleijem”, avisa antes de deitar ao chão, de propósito, um dos quartões. No dia 13 de Fevereiro o grupo fez o roteiro por cafés e tabernas onde lhes foi oferecida comida e bebida. “Amanhã é que é pior, porque acordamos com os braços um bocadinho inchados mas é uma tradição engraçada”, confidencia José Pedro Carapinha, 32 anos, agente da PSP.As mulheres já chegaram a participar, mas tanto eles como elas acham que este é um jogo masculino. Uma oportunidade para os homens da terra mostrarem a virilidade. “As mulheres ficam a ver como é o meu caso”, diz a sorrir Joana Calvo, 19 anos, estudante. Tal como Sofia Gonçalves, 21 anos, também estudante, é da opinião de que este é um jogo de homens. O professor de filosofia Nuno Barreiros, 43 anos, não entra numa praça de toiros mas gosta de tentar a sorte no jogo do quartão. Faz tudo por não deixá-lo cair porque, como docente, sentiu bem os cortes na carteira e sete euros dão jeito para o mês. Acredita que a técnica do basquetebol é útil para tentar não fazer a loiça em cacos. “Técnica foi o que não demonstrei agora”, admite com humor por sua vez, Vítor, agente da PSP, 38 anos. Há quem lance o quartão a girar para tornar mais difícil a sua recepção, confirma o veterano José Salvaterra, 60 anos, carpinteiro reformado. Antigamente, entre um lançamento e outro ainda se bebia mais. Quando não havia dinheiro para investir em quartões os jogadores iam ao fundo dos quintais buscar os cântaros que iam sendo deixados de lado por estarem lascados. Os cerca de 150 quartões usados no jogo custaram 650 euros à organização. Os cerca de 60 participantes foram acompanhados por largas dezenas de populares pelas ruas da vila. O jogo, bem regado, iniciou-se à tarde, depois do tradicional almoço, e só terminou ao cair da noite.
Jogo do quartão na Chamusca é mostra de virilidade

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