Odete Elias
Empresária, 50 anos, Foros de Salvaterra (Salvaterra de Magos)
“Sinceramente acho que os homens são muito mais difíceis, gostam de mandar, de se impor, de se sentirem superiores. A mulher também é complicada, mas é com as coisas mais práticas, do dia-a-dia, gosta de ter tudo à sua maneira”* * * “Estou cansada desta austeridade e destes impostos e da ausência de perspectivas, tenho dúvidas que isto vá mesmo melhorar. Não sei onde mais posso cortar. Sempre que ligo a televisão as notícias são piores do que no dia anterior”
Ficou feliz com a escolha do novo Papa?Pelas primeiras impressões pareceu-me uma escolha acertada. Mas continuo a dizer que como o Papa João Paulo II não vai surgir um tão cedo. Não sei bem porquê mas ainda está muito presente, tocava as pessoas. Não concordo é com toda a mobilização que se gerou em torno desta eleição e de outras. Mesmo tratando-se da eleição do Papa, existem outros assuntos mais importantes no mundo que precisam de mais atenção, como tantas crianças que continuam a morrer à fome. Nunca pensou em ser bombeira?Muitas vezes (risos). Gosto de ajudar os outros. Infelizmente os bombeiros não são reconhecidos como mereciam, salvam muitas vidas, mas as pessoas só se lembram deles quando são precisos. Um dos meus maiores sonhos era mesmo ser médica cirurgiã. Trabalhei durante muitos anos numa quinta e quando os animais morriam ia sempre abri-los para ver os órgãos. É um interesse que tenho desde pequena. Já praticou alguma arte marcial?Não, nem nunca pensei sequer nisso. Nunca vivi nenhuma situação mais complicada, mas se me surgir pelo caminho sou uma mulher que não tem medo de ir à luta. É verdade que as mulheres são mesmo complicadas?Sinceramente acho que os homens são muito mais difíceis, gostam de mandar, de se impor, de se sentirem superiores. A mulher também é complicada, mas é com as coisas mais práticas, do dia-a-dia, gosta de ter tudo à sua maneira. Na sua casa quem é que manda?Sou eu (risos). Tento sempre conversar com o meu marido, mas em relação à organização e gestão da casa acabo por ser eu a tomar as decisões. Como é que ocupa os tempos livres?Tenho duas casas de repouso e todo o meu tempo é dividido entre as duas. Não tenho tempos livres, nem tenho sentido necessidade até agora, porque o meu trabalho deixa-me realizada. Faço-o com prazer, quase não sinto que estou a trabalhar. Há sete anos que não tiro férias. Mesmo quando vou às compras estou sempre a ligar para saber se está tudo bem. O que a comove?Trabalho com idosos e o que mais mexe comigo é mesmo a doença, especialmente quando noto que já nada consigo fazer a não ser proporcionar as melhores condições possíveis. Às vezes tenho medo de chegar à velhice, pensar que posso sofrer é muito triste. Prefiro partir antes.Nunca pensou em enveredar por uma carreira política?Não. Os políticos são uns grandes gatunos e não querem saber de nada. Estou cansada desta austeridade e destes impostos e da ausência de perspectivas que isto vá mesmo melhorar. Não sei onde mais posso cortar. Sempre que ligo a televisão as notícias são piores do que no dia anterior. Tento viver o dia-a-dia. Existem meses que não consigo sequer tirar um ordenado. Dá para comer e pagar as despesas fixas. Não se vive, vai-se sobrevivendo. Se pudesse emigrava?Não olhava sequer para trás se tivesse uns anos a menos. Em Portugal já nada se consegue, isto está a rebentar. Se eu começar a ter dívidas, encerro a minha actividade para minha grande pena. É este o país que temos.Vai dedicar-se a uma horta quando se reformar?Não, nem pensar! Se lá chegar, o que eu vou querer é paz e sossego. Já trabalhei no campo o que me chegasse. Qual é o seu sonho?Gostava muito de um dia construir um lar de cuidados continuados, mas com as exigências que o Estado coloca é praticamente impossível. Em Foros de Salvaterra existem muitas pessoas idosas que precisavam de ajuda e tirando estas casas de repouso não existe mais nada.
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