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Exímio Manuel Serra d’Aire

Os portugueses perderam a vocação marinheira há muito tempo. Já Fernando Pessoa pregava que “navegar é preciso”, mas a malta não é muito dada à poesia e faz orelhas moucas das sentenças do poeta. Se por mares nunca dantes navegados já deixámos de vogar há muito, actualmente já nem estradas inundadas conseguimos percorrer. Um aspirante a marinheiro residente em Alpiarça ficou três horas pendurado numa árvore à espera de socorro porque não conseguiu atravessar de motorizada uma estrada do campo inundada ali para as bandas de Almeirim. Alguém lhe devia ter explicado que nesse dia o mais aconselhável era usar uma mota de água.Este azarado náufrago não foi sequer capaz de se redimir da asneira com uma gesta heróica pondo-se a nado rumo à costa, como fez Camões para salvar os Lusíadas. Não! O único trabalho a que se deu foi trepar a uma árvore e ali aguardar pacientemente que os bombeiros o fossem buscar, esfomeado e encharcado. Decididamente, já não há heróis. E este exemplo é um atentado à memória dos navegadores lusitanos e dos marítimos que faziam do Tejo o seu ganha-pão até há algumas décadas atrás. Santarém já está cercada por cartazes da candidata do PS à câmara, Idália Serrão, actual deputada da Assembleia da República e da assembleia municipal e ex-secretária de Estado e ex-vereadora. A meio ano das eleições e com a visibilidade que tanto cargo político lhe confere ou proporcionou, surpreende-me que a candidata tenha necessidade de, com tanta antecedência, lembrar aos escalabitanos que existe. Imagina agora se, por todo o país, aqueles candidatos que quase ninguém conhece se lembrassem de fazer o mesmo antes de abrir oficialmente a época de caça ao voto. Não podíamos sair de casa sem levar com um cartaz de um político nas trombas, o que obviamente não se recomenda a quem quer levar uma vida saudável e na graça de Deus.Por falar em Deus, não posso deixar passar em claro a oportuna intervenção de um padre de Benavente que na Sexta-Feira Santa recomendou ao seu rebanho jejum de televisão por esses dias. Sempre gostei desta forma subliminar de se apelar à procriação, para mais numa altura em que o défice de natalidade no nosso país é atroz e põe em causa o sistema de Segurança Social a médio prazo. E ser um padre a dizê-lo é ainda mais louvável. Não podendo (ou não devendo) ele mesmo dar o exemplo nessa gloriosa cruzada, poderia ficar calado, roído pela inveja ou pelo despeito de a hierarquia da Igreja lhe cortar as vazas nesse campo. Mas não! Só faltou dizer: paroquianos e paroquianas desliguem a TV e engalfinhem-se mesmo aí, no sofá ou no chão da sala, que daqui a nove meses eu cá estarei para abençoar os frutos do vosso amor. Lindo!Por último resta-me lamentar a demissão do agora ex-ministro Miguel Relvas. A classe da má língua, onde obviamente me incluo, perde uma óptima musa, mas infelizmente tratou-se de um desfecho que muitos já esperavam. Quem concluiu uma licenciatura de três anos em apenas um estava destinado a acabar um mandato de quatro anos muito antes do tempo. Saudações académicas do Serafim das Neves

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