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Psicadélico Manuel Serra d’Aire

Segundo rezam as crónicas, bastou apenas uma singela hora e meia para que duas mil pessoas consumissem mais de quatro mil litros de sopa no Congresso da Sopa de Tomar que decorreu no sábado. Quer isto dizer que, em média, cada congressista enfardou qualquer coisa como dois litros de sopa durante o período em que dura um jogo de futebol sem intervalo. E não penses tu que estamos a falar de canjas ou caldos-verdes, pratos leves para gente de fino recorte e tripa sensível. Muitas das sopas eram para enfarta-brutos, tendo a contundente sopa da pedra, por exemplo, desaparecido enquanto o diabo esfrega um olho. Houve muito boa gente, provavelmente, que aproveitou para atestar o estômago para o fim-de-semana todo, porque a vida não está para brincadeiras. Se era necessária prova do estado a que chegou a indigência nacional, não é preciso averiguar mais. A sopa dos pobres está aí novamente e em força.É por isso que muita gente deve andar mortinha para que comece a campanha eleitoral para as autárquicas e que com ela apareçam novamente as sardinhadas, os porcos no espeto e os opíparos jantares de carne assada. Em Santarém, sei eu que muita gente já chora a partida de Moita Flores, o candidato mais mãos largas que por ali apareceu no que a esse capítulo toca. As suas campanhas eleitorais foram um autêntico bodo aos pobres, ficando para a história a carnificina que atingiu a espécie suína quando o homem foi candidato à câmara. Tenho o pressentimento que a taxa de mortalidade entre os recos e os níveis de colesterol entre os potenciais eleitores vão agora subir em flecha lá para as isaltínicas terras de Oeiras. Vai uma aposta?Aliás, acho que candidatos que apostam na gastronomia como arma para cativar o eleitorado (como é o caso de Moita Flores) só se deviam poder candidatar uma vez em cada concelho, para assim poderem ir distribuindo de quatro em quatro anos a sua magnanimidade pelo território nacional. A Constituição da República sentencia que somos todos iguais nos direitos e deveres, pelo que é inconstitucional que uns encham a mula à conta da política quando há eleições, outros recebam torradeiras e varinhas mágicas e outros se tenham de contentar apenas com os discurso e a retórica dos candidatos.Se os partidos e os políticos querem ser mais queridos entre a chamada sociedade civil devem começar precisamente por aí, pelo estômago, como antes faziam as mulheres mais avisadas para conquistarem os seus pretendentes (hoje as mulheres já não sabem cozinhar sem Bimby e se fossem por aí acabavam todas solteiras). Não há cidadão eleitor esfomeado que resista a uma boa sardinhada com broa regada a tinto, mesmo que isso implique ter que ouvir uma hora de discursos e ter de apertar a mão a certos candidatos que não interessam nem ao menino Jesus. Já dizia alguém que conhece bem o meio que não há almoços grátis e a sentença aplica-se na perfeição.Fazendo votos de um bom preenchimento da declaração do IRS, despeço-me com um sonoro arroto doSerafim das Neves

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