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Um professor que acredita ter a profissão mais bonita do mundo

Um professor que acredita ter a profissão mais bonita do mundo

Carlos Alberto Oliveira é natural de Ourém, viveu em Paris e ensina em Vila Franca de Xira

Professor de Francês e Português na Escola Secundária Alves Redol lamenta que os alunos não tenham hábitos de leitura e quer continuar a ensinar enquanto tiver forças para tal.

O professor Carlos Alberto Oliveira, 54 anos, acredita que tem a profissão mais bonita do mundo apesar de todas as dificuldades impostas. Professor de Francês e Português na Secundária de Alves Redol, em Vila Franca de Xira, Carlos Oliveira é um fervoroso defensor da escola pública, acredita que a Internet é boa para o ensino e lamenta que os jovens alunos não tenham hábitos de leitura. É natural de Ourém, estudou em Paris e regressou a Portugal nos anos 80 empenhado em ensinar Francês. Hoje fica triste pela língua francesa já não ser a principal escolha dos alunos, mas está empenhado em mudar esse cenário na escola onde lecciona. A história profissional de Carlos Oliveira começa em Paris, onde se licenciou em língua francesa. Foi com a ajuda de uma professora da escola primária e um padre - ambos portugueses - que conseguiu aprender a língua de Camões. Viria a licenciar-se em Paris em língua portuguesa e fez um mestrado sobre Soeiro Pereira Gomes. Para ajudar a pagar os estudos foi trabalhar numa instituição francesa que dava apoio a pessoas com deficiência. Foi o seu primeiro emprego. “A minha função era vigiar essas pessoas durante a noite e aproveitava para estudar enquanto o fazia”, recorda a O MIRANTE. Carlos sempre nutriu o gosto pelo ensino e logo que a mulher quis regressar a Portugal aproveitou a chance. No início dos anos 80 foi colocado numa escola em Macedo de Cavaleiros, Bragança, e em 1986 foi para Vila Franca de Xira por mero acaso. “Fui colocado na Alves Redol por causa de um código errado no concurso que me levou para lá”, confessa. A verdade é que desde essa altura apaixonou-se pela escola e pela cidade e nunca mais a abandonou. A mulher lecciona em Alenquer e ambos vivem em A-dos-Bispos, lugar onde diz viver com qualidade.O seu dia-a-dia é “intenso” e começa logo às 06h30, só terminando perto das 20h00 em alguns dias. “Ser professor já não é a visão romântica que se tem da profissão. Os professores hoje têm muito mais para fazer do que apenas dar aulas. Eu, por exemplo, pertenço a outros órgãos da escola, sou coordenador do ensino secundário, faço parte do conselho pedagógico, tenho algumas reuniões pelo meio sobre outros assuntos e sou membro da direcção da Associação Nacional de Professores de Francês”, ilustra. Carlos Oliveira diz que um professor quando sente paixão no trabalho demonstra-o nas aulas, mesmo sem querer. “Infelizmente há cada vez menos alunos a estudar o francês em detrimento de outras línguas. Mas estou convencido que o futuro reside na capacidade dos alunos conhecerem o maior número possível de línguas. Hoje em dia ninguém pode garantir que um jovem vá ficar a trabalhar em Portugal. Por isso ele precisa de dominar o maior número possível de línguas. Ninguém contesta o domínio do inglês, mas o francês pode fazer o diferença”, refere. O professor diz que bater nos alunos não é solução para os problemas. “Numa situação de conflito é preciso envolver todas as pessoas, para que haja responsabilização dos pais e alunos. Ser aluno é um trabalho e os jovens têm de perceber que têm de adquirir métodos de trabalho e lutar por valores que lhes vão fazer muita falta quando prosseguirem estudos ou entrarem na vida activa”, refere. Carlos Oliveira diz que boa parte do sucesso ou fracasso de um aluno reside nos seus hábitos de leitura. Um jovem que goste de ler e se interesse por livros ou jornais tem maior probabilidade de ser um bom aluno, algumas vezes até estudando menos que os restantes. “Infelizmente tenho muitos alunos que quando se pede para lerem um livro vão à Internet ler os resumos ou ver um filme que tenha sido inspirado pelo livro”, lamenta. O professor diz que quer continuar a ensinar enquanto puder, apesar de se mostrar frustrado pelas crescentes dificuldades impostas aos professores. “Os desafios são cada vez maiores e mais cansativos. As medidas do Governo provocam uma grande erosão no professor e falta estabilidade na profissão”, lamenta.
Um professor que acredita ter a profissão mais bonita do mundo

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