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“Nunca programei a minha vida”

“Nunca programei a minha vida”

Paulo Moreira, 43 anos, construtor civil, Chamusca

É o mais velho de oito irmãos e por isso começou a trabalhar cedo, primeiro no campo e, mais tarde, na construção civil. Vive no Pinheiro Grande numa bonita vivenda que reconstruiu a partir de uma casa antiga. É casado, tem uma filha e o pouco tempo livre é dedicado à família. Garante que estende sempre a mão a um amigo que precise de ajuda.

A minha infância foi atípica e por isso nunca sonhei em ser isto ou aquilo. Sou o mais velho de oito irmãos e isso fez-me acatar responsabilidades desde muito novo. A minha mãe ia trabalhar e eu tinha que tomar conta dos meus irmãos. Interrompi os estudos após a 4.ª classe para ir trabalhar. Tinha dez anos. Mais tarde, com 13 anos, fiz o 5.º e 6.º ano e completei o 9.º ano à noite já quando trabalhava. Vivo na Chamusca desde os dois anos e meio e foi nesta vila que estudei, cresci e morei até me casar e mudar para o Pinheiro Grande. Comecei a dar serventia e logo que tive idade colectei-me nas finanças para começar a trabalhar em nome individual. Vi que tinha jeito para as obras, fui tirar a carta de pesados e comprei uma camioneta. Trabalhava muito aos fins-de-semana e as pessoas começaram a dar-me trabalho e as coisas foram acontecendo. Mais tarde formei uma sociedade mas acabei por comprar a quota da empresa “Construções Paulo Moreira” em 2000. Nunca programei a minha vida. Sempre trabalhei quando me pediam, fosse aos feriados ou aos fins-de-semana. Penso que foi isso que me ajudou a crescer. As solicitações levaram a que pusesse mais pessoal a trabalhar comigo e a adquirir novas máquinas. Em 1997 constitui a empresa, com outro sócio, porque a facturação assim o exigiu. A empresa chegou a ter 24 trabalhadores mas, com a crise, neste momento somos nove funcionários. Fazemos obras em todo o país.Fui forcado durante 23 anos e pegava de caras. A minha despedida das arenas foi em 2007. Conjuguei sempre o trabalho com este hobbie e tirava férias nos dias que coincidiam com as corridas de toiros. Desde pequeno que me lembro de ficar fascinado sempre que via um forcado a pegar um toiro. Um dia, em 1984, estava à pesca e convidaram-me para ir treinar com um grupo de juvenis. Fui para ver mas acabei por ficar. Comecei em 1984, depois passei pelos Forcados Amadores do Ribatejo (1987 a 1993) e terminei nos Forcados Amadores da Chamusca (1994 a 2007), fazendo hoje parte dos órgãos sociais. O forcado é vaidoso. Só quem veste esta pele é que consegue explicar o que sente. O medo é ultrapassado pelo desejo de querer vencer, de querer pegar o toiro. Costumava dizer que no instante em que saltasse as tábuas o medo passava. Quando punha o barrete na cabeça, esquecia o resto. Se tivesse o azar de não pegar à primeira tinha redobrada vontade de lá ir novamente. É fascinante vir na cara do toiro. E depois os amigos que fazemos são para a vida e como uma segunda família.Quando falo da Chamusca fico sempre arrepiado. Adoro a Festa da Ascensão e tento ir à vila todos os dias, mesmo depois de um dia de trabalho. Acabo sempre por encontrar família e amigos e confraternizar. É uma festa única, muito ribatejana. Um ponto de encontro para todos os chamusquenses. A entrada de toiros é um espectáculo digno de ser visto. De há uns meses a esta parte, levanto-me todos os dias às 5h15 da manhã. Antes trabalhava mais no meu concelho mas agora, com a crise e as mudanças no mercado, tenho ido mais para Lisboa, Costa da Caparica ou Cascais. Saio da Carregueira às seis da manhã e pegamos ao trabalho às 7h30 da manhã, junto à Assembleia da República. Entramos cedo para fugirmos ao congestionamento do trânsito e largamos o trabalho às 16h30 pela mesma razão. Ao final da tarde, já estou na Chamusca para carregar o carro com material ou ir ver outra obra que tenha em curso. Fazer mal dá o mesmo trabalho que fazer bem por isso é melhor fazer bem. Gosto que as coisas fiquem bem feitas e temos que dar o nosso melhor. Também temos que ser o mais correctos e não falhar com quem acredita em mim e nos dá trabalho. É fundamental sermos sérios. Trabalho ao lado dos meus colaboradores e vou-lhes dando indicações de como acho que o trabalho deve ser feito. Os meus tempos livres são escassos. A família é a mais penalizada. Acabam por ir de férias e só vou ter com eles aos fim-de-semana ou, num passeio programado, já não me apetece sair de casa porque estou cansado. É difícil desligar nesta actividade. Se não consigo fazer tudo no sábado, tenho que o fazer no domingo de manhã. Normalmente, o domingo é sagrado e almoçamos sempre juntos. Gosto muito de ficar por casa e no Verão, de usufruir a piscina ou ir até ao rio.Sou uma pessoa simples, humilde e amiga de toda a gente. Quando alguém precisa da minha ajuda estico-lhe sempre a mão. Acho que, por muita força de vontade que tenha tido, o factor Sorte também esteve lá. Gosto muito de ir à pesca mas só vou uma a duas vezes por ano. Sou do Sporting e gosto de ir ao estádio. Não tenho jeito para a cozinha. Sou sócio da minha esposa em casa. Ela faz e eu como. Eu sujo e ela limpa (risos). Mas trato do quintal e ajudo em tudo o que for preciso. Nunca tiro muitos dias seguidos de férias mas aproveito quase sempre os feriados encostados ao fim-de-semana.Elsa Ribeiro Gonçalves
“Nunca programei a minha vida”

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