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Ferroso Serafim das Neves

Acho muito bem que os responsáveis do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, prefiram beber e dar a beber água do poço, do que água da rede pública. Num local onde todos os anos se realiza a Feira da Agricultura, até pareceria mal que fosse de outra maneira. Claro que mesmo entre agricultores há diferenças de opinião relativamente à qualidade das águas. O meu bisavô, por exemplo, que toda a vida esteve ligado à lavoura, achava que a água do poço que tinha lá na quinta, era uma mixórdia intragável. Viveu até aos 99 anos e nunca a bebeu. Em matéria de líquidos dedicou-se de alma e coração a outros produtos naturais. Por aquelas goelas nunca correu qualquer outro líquido que não fosse vinho. A empresa Águas de Santarém diz que, segundo a lei, o CNEMA devia estar ligado à Rede Pública mas num país em que as leis são mais intermitentes que lâmpadas fluorescentes com arrancadores avariados e passíveis de tantas e tão desvairadas interpretações, parece-me acertado seguir a lei natural da vida. Eu lembro-me que nos filmes de cobóis, cavaleiros e cavalos bebiam água dos riachos lado a lado e eram todos saudáveis, pelo menos durante aquelas duas horas de cinema. Tendo o CNEMA sido inaugurado em 1994 e não tendo havido até hoje ninguém a queixar-se de alergias ou diarreias, porque é que decidiram embirrar com os homens? O que não mata engorda, Serafim. O que não mata engorda. Deixem lá o pessoal do CNEMA e os seus convidados beber aguinha do poço tranquilamente.Na localidade da Bemposta, concelho de Abrantes, são os serviços municipalizados que dizem ao povo para não beber água da rede porque ela tem alumínio a mais. A coisa já dura há um mês e não há meio de ficar resolvida. Ora aqui está um caso que os homens do CNEMA podem utilizar para sustentar a sua insistência em não se ligarem à rede pública. Quem vai à Bemposta levar água sem alumínio são os bombeiros, temporariamente elevados à qualidade de aguadeiros. Pelo menos enquanto não chegam os incêndios florestais. Nessa altura calculo que o alumínio deixe de ser problema. Ou porque desapareceu ou porque saiu um artigo numa revista científica a dizer que afinal o alumínio faz bem ao esmalte dos dentes. Em Portugal os grandes problemas resolvem-se assim. Começa tudo a fazer barulho, as notícias e comentários são às carradas e depois de duas semanas nunca mais se houve falar do caso. Evapora-se tudo por estas bandas.Um dia destes roubaram-me a maçaneta da porta que era de latão. Como estava bem polida devem ter pensado que era cobre. Vais ver que ainda recebo uma carta da DECO a dizer que fizeram queixa de mim por fraude. As campanhas de defesa do consumidor tiveram ampla repercussão e os reclamantes são cada vez mais. E não me refiro apenas aos que descem as avenidas de Lisboa de braço no ar. Um dia destes vi uma senhora na secretaria da câmara a pedir o livro de reclamações porque nunca mais lhe davam uma casinha. E sei de pessoas que só não pediram o livro de reclamações na Cáritas por causa de pacotes de massa de marcas brancas porque estavam demasiado cansadas para escrever.Lembras, no teu último e-mail, a passagem pela câmara municipal de Santarém de um tal senhor Moita Flores que oferecia bilhetes para touradas e porcos assados ao povo. Foi uma lembrança oportuna. O senhor declarou publicamente, dirigindo-se a uns paspalhos que dizem que a dívida da câmara de Santarém é dele: “É minha o caraças!”. Perante isto só poderei acrescentar uma coisa. “Minha é que ela não é”. Tenho dito!Um abraço a crédito Manuel Serra d’Aire

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