Edição de 2013.05.30
Três Dimensões
“A Comarca de Vila Franca de Xira é uma grande família”
Choca-me a falta de princípios. Sou uma pessoa extremamente humana. Dói-me muito assistir a situações de desrespeito pelas pessoas de mais idade. Fui criada numa família onde as gerações interagiam. Do mais novo ao mais velho, todos têm o seu papel. Parece agora que quando uma pessoa chega a uma determinada idade é colocada na prateleira. Tive uma infância privilegiada com muitos brinquedos. Vivi os primeiros anos da minha vida em A-dos-Francos, concelho das Caldas da Rainha. Lembro-me de brincar no campo com os meus primos. Depois vim morar para Odivelas. Nunca estive num infantário. Andava sempre com os meus pais que eram comerciantes. Eles trabalhavam muito e ainda hoje a vida deles continua a ser exemplo para mim. Fui uma criança pacífica. Gostava de brincar com as bonecas, e nunca criei problemas de maior. Também nunca me faltou nada. Sonhava ser hospedeira de bordo, cirurgiã ou advogada. O primeiro sonho acabou por desaparecer à medida que cresci. Depois segui a área das letras e acabei mesmo por optar pelo curso de Direito. Outro dos meus sonhos era tirar o curso de História, mais para me enriquecer culturalmente, mas depois comecei a trabalhar e o projecto continua suspenso. Na universidade aprende-se muita coisa, mas o trabalho no terreno ensina ainda mais. Vila Franca de Xira é uma cidade do campo. Eu gosto muito do campo. Fartei-me da Comarca de Lisboa e como estava a morar em Camarate, onde tenho escritório aberto, acabei por me mudar para a Comarca de Vila Franca de Xira. É uma grande família. Os funcionários são delicados e estão sempre disponíveis para ajudar. Em Lisboa era tudo muito mais impessoal. Foi uma mudança muito positiva.Não sou uma pessoa fácil. Quando tinha 20 anos costumava dizer que nem sabia como me aturava a mim própria. Sou do signo escorpião e acho que isso não ajuda muito. Com o tempo penso que me tornei mais acessível.Sou apaixonada por animais. Tenho cães, gatos e muitos pássaros. Desde caturras, rabos-de-junco ou periquitos. Outra das minhas paixões são plantas. Dá-me tudo muito trabalho, mas é algo de que gosto muito. Custa-me ver um cão enfiado num apartamento o dia todo. Não basta gostar de animais, é preciso ter condições mínimas ou então não vale a pena ter. Deixei de trabalhar ao fim-de-semana. Tive de impor essa regra a mim própria. A advocacia é um trabalho muito absorvente. É preciso ter cuidado com a própria saúde. O tempo livre que me resta é muito pouco e tento aproveitá-lo da melhor forma possível. É difícil desligar-me da profissão. Estou a mudar a minha vertente profissional e a dedicar-me mais às empresas, o que me provoca menos stress. Iniciei-me no restauro de móveis. Tinha um cliente que ia deitar algumas mobílias fora e acabei por ficar com elas. Comecei a restaurar e gostei muito do resultado final. Tenho vindo a aprofundar os conhecimentos na área. Nos tempos livres para além de tratar dos animais e das plantas, aproveito também para sair, passear e estar com a família. Viajo muito em trabalho e quando tenho férias gosto é de ficar serena a descansar. Não vale a pena casar por casar. Sou solteira mas não coloco a ideia de vir a casar. Não aconteceu simplesmente. Dediquei-me muito ao trabalho e à família e acabou por não sobrar muito tempo. É algo que não me preocupa muito. Este tipo de vida também me dá muita liberdade. Embora não tenha filhos meus acabo por ter muitos “filhos do coração” que vou ajudando. Ser filha única é uma grande responsabilidade. Chega-se a uma determinada altura em que passamos a tomar algumas decisões em relação aos nossos pais. Não ter com quem dividir esta responsabilidade não é fácil. Vivo com os meus pais e a nível de tarefas de casa não me preciso de preocupar porque eles já estão reformados, embora eu saiba fazer tudo. Eduarda Sousa
Três Dimensões | 29-05-2013