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Antigos trabalhadores ainda sentem saudades da Mevil que faliu há 18 anos

Três amigos conheceram-se na fábrica de Vila Franca e com o fecho fundaram uma empresa do mesmo ramo

Fez este mês de Maio 18 anos que uma das mais importantes indústrias de Vila Franca foi à falência. Quase duas décadas depois os trabalhadores ainda esperam pelo dinheiro dos salários e subsídios que ficou em dívida. Restam as boas recordações e no caso de Manuel Baptista, José Fernando e Alípio Carvalho as histórias de luta da empresa que empregou mais de 200 pessoas e a grande experiência que os levou a singrar num negócio por conta própria após o fecho dos portões da Mevil.

“Ai que saudades!”, solta num desabafo Manuel Baptista a chegar às antigas instalações da Mevil - Metalomecânica Vilafranquense que faliu em 22 de Maio de 1995. Os colegas José Fernando e Alípio Carvalho libertam um suspiro de confirmação dos bons tempos que passaram juntos a trabalhar na fábrica que chegou a empregar mais de 200 pessoas. Foram momentos de angústia os que viveram quando se começou a falar no fecho da unidade. Mas ao contrário de muitos outros desempregados a desgraça da Mevil acabou por dar sorte a estes amigos que juntamente com um administrador fundaram uma fábrica do mesmo ramo, a Gromil, em Porto Alto. Na memória ficaram os bons momentos de camaradagem e a esperança de um dia destes virem a receber os créditos a que têm direito no processo de insolvência. José Fernando, 74 anos, foi serralheiro, caldeireiro, mecânico e chegou a técnico de prevenção ao longo 35 anos que trabalhou na fábrica. Alípio Carvalho, 63 anos, recorda a dureza do trabalho a operar a calandra na fabricação e moldagem de chapas e placas de grande dimensão. Passou 15 anos na empresa. Três décadas foi o tempo que Manuel Baptista viveu como serralheiro. O dia da paragem total da empresa foi 9 de Junho de 1995. Uma data que nunca mais vão esquecer. Manuel Baptista diz que a queda da Mevil se equipara ao fecho de um hospital. “Vemos aos poucos Vila Franca de Xira a morrer, ela que era tão vivida pelas pessoas na rua há 30 anos”, desabafa. A camaradagem entre trabalhadores é o que mais destacam Manuel Baptista e José Fernando do tempo na Mevil. “Havia muito ensinamento que os serralheiros davam aos mais jovens, que ganhavam em capacidade de trabalho. Fornecíamos linhas inteiras de produção para as maiores empresas, cimenteiras, celuloses e para a Siderurgia Nacional”, exemplificam. As peças produzidas eram gigantescas, como os vagões de mercadorias entregues à CP. Em determinadas zonas da cidade tiveram de ser cortadas árvores e deitados muros abaixo para os camiões puderem passar com as cargas, recorda Manuel Baptista.Alípio Carvalho destaca a proximidade entre colegas oriundos de Vila Franca, de Samora Coreia, Salvaterra de Magos e outras localidades. Os membros de comissões de trabalhadores e sindicalistas eram mais pressionados. “Estive de 1973 a 1980 sem ter aumentos por ter pertencido a comissões de trabalhadores.”, conta. Datas que consideram importantes estão na ponta da língua e são debitadas com orgulho. Nas grandes cheias de 67 e durante dois dias, tiveram de ajudar a limpar toda a água e lama que invadiu as instalações na encosta da cidade.A seguir ao 25 de Abril com a empresa ocupada, os trabalhadores criaram piquetes junto à oficina. A situação durou dois a três meses para evitar que as máquinas fossem levadas e fosse garantida a capacidade de produção. A 11 de Março de 1975, a notícia do golpe militar organizado pelo general Spínola chegou à Mevil durante um plenário de trabalhadores. Criou-se um grupo que, munido com ferros, foi de camião para Lisboa. O golpe falhou e os trabalhadores regressaram a casa. Trabalhadores considerados credores privilegiados ainda não viram o dinheiro A falência da Mevil foi decretada pelo tribunal em 22 de Maio de 1995 e desde então que os trabalhadores da empresa e outros credores esperam receber as verbas a que tem direito. 82 Ex-trabalhadores da empresa têm a haver quase 310 mil euros de salários e subsídios em atraso. Em Novembro de 2012, o Supremo Tribunal de Justiça colocou, de forma definitiva, os trabalhadores em primeiro lugar na lista de credores, em vez dos bancos e do Estado como em instâncias inferiores fora decidido. O Sindicato das Indústrias Transformadoras, de Energia e Actividades do Ambiente (SITE) reconhecia que o dinheiro poderia levar meses a chegar aos destinatários mas reconhece-se hoje que é preciso pressionar o tribunal e saber por que razão tarda em ser emitido despacho para liquidação das verbas. Recorde-se que a venda da empresa rendeu cerca de 500 mil euros. José Fernando tem a haver cerca de 23 mil euros, Alípio Carvalho quase nove mil euros e Manuel Baptista tem a receber cerca de 6500 euros. A Mevil já estava em crise pelo ano de 1971. Acumulou dívidas a bancos, fornecedores e ao Estado, que começaram a resultar em acções de penhora de bens. No pós 25 de Abril foi intervencionada pelo Estado entre 1975 e 1979 e devolvida a novos gestores. Um estudo de viabilidade económica concluía nos anos 90, que a empresa tinha muitas encomendas e trabalho seguidas de períodos de falta de trabalho; uma legislação laboral rígida que não permitiu a adequação ao mercado; falta de capitais próprios e de adaptação ao meio envolvente.

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