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Carisma do industrial João Mendes Godinho Júnior evocado em homenagem póstuma

Personalidade do empresário foi evocada na manhã de sábado na biblioteca municipal de Tomar durante uma homenagem póstuma que assinalou o centenário do seu nascimento, dinamizada pela MG - Associação Memorial Mendes Godinho.

A 10 de Junho de 1991, o empresário João Mendes Godinho Júnior foi condecorado pelo então primeiro ministro Aníbal Cavaco Silva, numa cerimónia que se realizou no Convento de Cristo, em Tomar. A pedido dos filhos, foi acompanhado pelo amigo António Queiroz e Mello. Quando chegou à porta de acesso ao jardim da Charola, João Mendes Godinho ficou atrapalhado porque não trazia o convite consigo. As pessoas que ali se concentravam para ver quem passava, reconheceram o empresário e assistiram à cena irrompendo numa salva de palmas. “O polícia, simpaticamente, riu-se e disse: já não precisa de convite. Faça o favor de entrar. Foi para mim a grande homenagem das pessoas de Tomar, que não a do Governo da Nação”, recordou António Queirós e Mello.A história reveladora da personalidade de João Mendes Godinho Júnior foi contada na manhã de sábado, 25 de Maio, na biblioteca municipal de Tomar durante uma homenagem póstuma que assinalava o centenário do seu nascimento, dinamizada pela MG - Associação Memorial Mendes Godinho. Para além de familiares e amigos foram muitos os antigos trabalhadores do antigo grupo industrial que marcaram presença na sessão marcada por momentos emotivos como aquele em que o filho do homenageado, José Maria Mendes Godinho, ex-membro do conselho de administração e actual presidente da associação MG, convidado a fazer uma retrospectiva, referiu que preferia não falar nesse dia porque está emocionalmente muito ligado ao pai. Também com a voz trémula, Rosário Mendes Godinho Baeta Neves recordou o momento da inauguração da fábrica da Platex, a 13 de Outubro de 1961, ocasião em que o seu tio-padrinho a pegou ao colo e disse: “É a menina que vai pôr a fábrica a trabalhar”. Pegando na sua mão, levantou o manípulo após o que referiu: “são mais duzentos novos trabalhadores”, recordou Rosário Baeta Neves, acrescentando que acabou por escolher formar-se na área de gestão e economia devido ao tio. “No mundo empresarial existem três categorias: o empresário, o accionista e o gestor. O Dr. Mendes Godinho juntava numa só pessoa todas elas. A sua busca pelos novos negócios, o risco calculado que respondia com o património pessoal de uma família, a sua visão estratégica, a capacidade de gerar riqueza e os conhecimentos de gestão permitiam-lhe a concretização de objectivos”, referiu. A sobrinha do homenageado recordou ainda que o mesmo tinha uma vasta cultura, falava várias línguas e tinha uma rede de contactos nacionais e internacionais que o tornavam numa pessoa “ímpar”. Presente na sessão, o presidente da Câmara de Tomar, Carlos Carrão, também se referiu a João Mendes Godinho Júnior como “uma figura ímpar do século XX tomarense”, acrescentando que, enquanto cidadão desse concelho, só lhe pode estar “imensamente grato” por tudo o que fez. O autarca caracterizou-o como “um homem de ampla visão, de rectos procedimentos, hábil administrador de empresas e sábio gestor de recursos humanos, ou, para lhe fazer mais jus, sábio gestor de pessoas”. Carlos Carrão recordou que “o herdeiro de duas gerações de uma família empreendedora”, que já tinham mudado a face do concelho, não quis limitar-se a gerir o património, percebendo que a melhor estratégia defensiva em qualquer sector de actividade, e especialmente no mundo empresarial, passava por investir com rigor mas sem ceder ao medo do desconhecido. “A prova de que tinha razão é que, apesar de todas as dificuldades por que tem passado, e do fim do grupo empresarial, uma das indústrias que lançou, a Platex, hoje IFM, continua a laborar, cinquenta anos depois”, sublinhou. O fim das Fábricas Mendes Godinho - grupo fundado por Manuel Mendes Godinho, falecido em 1924 - teve lugar em Março de 2007, altura em que a Fabrica das Rações Sol, em Vale Florido, a última empresa do emblemático grupo empresarial, fechou portas, num processo conduzido pelo Estado. O grande património empresarial acabou por sucumbir à crise económica na década de 90 com o grupo a desmembrar-se e com os maiores credores a ficarem com as empresas como pagamento das dívidas. Além do Estado, também o Banco Espírito Santo acabou por receber boa parte do património edificado do grupo, como todo o quarteirão da rua Everard, entretanto cedido à Câmara Municipal de Tomar que ali está a construir o Museu da Levada. “Penso que aqui não se verifica o mito das três gerações: o avô fez, o filho continuou e o neto estragou. O que aconteceu foi que, após o colapso de 1974, o grupo não teve apoio para se voltar a capitalizar, sendo difícil sustentar a enorme constelação de trabalhadores que ali trabalhavam”, frisou Luís Pedrosa-Graça.

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