“Cabeça a funcionar, mãos controladas, soluções encontradas e realizadas” é a máxima de Manuel Lopes de Sousa, 89 anos, mais conhecido como “o inventor de Abrantes”. Na tarde de quinta-feira, 16 de Maio, foi homenageado pela “Tagusvalley” e pela Nersant - Associação Empresarial da Região do Ribatejo, numa cerimónia que teve lugar no edifício INOV.POINT, no Tecnopólo do Vale do Tejo, em Alferrarede, onde está patente uma exposição com peças da sua autoria e contagiou os presentes com a sua vitalidade e boa disposição. Iniciou a sua vida activa com apenas 14 anos como aprendiz de serralheiro (sem direito a remuneração) mas depressa iniciou um percurso de engenho e trabalho, construindo peças artísticas de ferro forjado ou concebendo máquinas como aquela que faz um arame em “S”. De todas, destaca-se o primeiro “descarolador” de milho com limpeza total feito em Portugal, mas só em 1951 regista a sua primeira patente de invenção com o n.º890: uma máquina de cortar legumes, frutos e tubérculos. A partir daqui desfilam mais dez patentes concedidas entre muitas máquinas “imaginadas e as mãos a construir”. Manuel Lopes de Sousa nasceu em Abrantes, na freguesia de S. João, a 7 de Setembro de 1923. Aos 21 anos, forma a firma “Baptista & Lopes”, fazendo trabalhos de canalizações, serralharia civil e artística para todo o país. Dois anos mais tarde casa-se com Emília Rosa Lopes, sua companheira de sempre na labuta pela vida e do matrimónio nascem três filhos. Em 1950 forma a empresa Baptista Lourenço Silva & Lopes, que abrange também o ramo da reparação automóvel. Nesse mesmo ano constrói as suas próprias instalações para continuar a actividade de serralharia civil, reparação e construção de máquinas agrícolas. Em 1952 constrói o seu primeiro reboque, não seriado, com peças adquiridas de material militar da Base das Lajes nos Açores. Seis anos mais tarde constrói e faz aprovar os reboques agrícolas M.L.S. De seguida constrói o primeiro reboque basculante fabricado em Portugal, inteiramente executado nas suas instalações (excepto o cilindro hidráulico que importava da Alemanha), começando o seu fabrico em série.Em 1972, inventa uma máquina para limpeza de cereais, leguminosas e outros produtos, cuja utilização se expande por todo o país, em especial na região do baixo Mondego. Durante anos a “MDF” do Tramagal comercializa-a em exclusivo, tendo mandado, de uma vez só, vinte unidades para Angola. Também esta invenção é galardoada, em 1972, com uma medalha de prata no Salão Internacional dos Inventores de Bruxelas e premiada na Feira Internacional de Lisboa de 1971 e com o prémio BPA na Feira Nacional de Agricultura de Santarém em 1980, que se destinava a galardoar o melhor invento ou inovação em máquinas agrícolas. Orgulhoso abrantino, pugna pela sua terra sempre que lhe é possível e a par da sigla “MLS” pinta, sempre em local bem visível, o nome Abrantes em todas as máquinas que fabrica. Homenageado já por diversas vezes - a 14 de Julho de 1995, numa cerimónia pública, recebeu da Câmara Municipal de Abrantes a medalha da cidade pelo papel de relevo na vida comunitária - sempre que possível expõe as suas máquinas nos mais diversos certames. O MIRANTE publicou uma entrevista com Manuel Lopes de Sousa em Dezembro de 2002 na qual dizia que o seu maior gozo era criar coisas novas e que “a criatividade está em toda a gente, mas na maioria dos casos não é agitada, não é despertada”. Dez anos volvidos sobre estas palavras, a sua indústria só fabrica o que a sua imaginação concebe. Empenhado em nunca deixar um desafio por resolver, com 88 anos desenvolveu um protótipo de aerogerador de eixo vertical que ainda se encontra a aperfeiçoar. Actualmente continua a trabalhar, a criar e a aprender. Não desiste do objectivo de despertar a criatividade nos mais jovens, procurando que tenham sempre presente a sua máxima.