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Incapacidade de estar parado tem sido o motor que o leva mais além

Alberto Pires, 71 anos, foi funcionário da EDP e licenciou-se em direito o ano passado

Aos 71 anos Alberto Pires, de Vila Franca de Xira, é um homem que não consegue estar parado. Além da sua ligação ao movimento associativo da cidade acabou uma licenciatura em direito e vai fazer exame na Ordem dos Advogados para realizar antes de morrer o sonho da sua vida: ser advogado.

Alberto Pires, 71 anos, é um homem que não consegue estar parado nem tem paciência para ver telenovelas na televisão. Reformado da EDP, Alberto dedicou-se a colaborar com o movimento associativo de Vila Franca de Xira e ainda concluiu, no último ano, a licenciatura em Direito, faltando apenas realizar o exame na Ordem dos Advogados para exercer aquela que é a sua profissão de sonho.Além de presidente da assembleia-geral dos Bombeiros de Vila Franca de Xira, Alberto Pires é também membro da mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca e faz parte dos órgãos sociais da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Lisboa.Natural de Chaves mas a viver em Vila Franca há várias décadas, Alberto completou o curso comercial e complementou-o com outro curso de electricidade antes de começar a trabalhar. A família não era rica e Alberto tinha 10 outros irmãos em casa. “Com 14 anos ninguém me dava trabalho, acabei por ir trabalhar para uma oficina de assistência da Phillips”, recorda a O MIRANTE. Reparava auto-rádios e rádios de mesa. Ao fim de dois anos a Hidroeléctrica do Douro (mais tarde adquirida pela EDP), abriu concurso para operadores e Alberto candidatou-se, entrando com facilidade. Estava-se em Outubro de 1960. “Comecei por ser operador de quadro e chefe de equipa de uma sala de comando. Mais tarde soube da abertura de vagas na Central Termoeléctrica do Carregado e decidi vir”, conta. Na central do Carregado Alberto realizou trabalho de secretariado e ainda hoje, mesmo depois de reformado, continua a colaborar com a empresa no acompanhamento de visitas de estudo que são feitas aquela estrutura. “Conjuntamente com dois colegas mostramos a central a um número elevadíssimo de estudantes que a vão visitar e ver como funciona uma central termoeléctrica. Todos os anos passam lá entre 3 a 4 mil alunos por ano, vindos de todo o país”, explica. Em 2007, durante uma viagem de comboio, decidiu que estava na altura de abraçar outro projecto. Ao ler o jornal viu um anúncio sobre o programa “Maiores de 23”, de acesso ao ensino superior, e foi realizar as provas de admissão para tirar um curso de Direito. Completou o curso em 2012. “Entrei numa turma com 80 alunos, 70 deles alunos dos 18 aos 23 anos. Eu era o avô da turma, foi uma felicidade porque todos os miúdos me acolheram com carinho e expectativa”, conta. Em alguns trabalhos Alberto chegou a dar uma ajuda aos mais novos. “Sobretudo em questões de direito internacional, onde eles estavam menos familiarizados, como a Nicarágua e Timor Leste”, refere. Ser advogado era a sua profissão de sonho e já enquanto era funcionário da EDP costumava usar os tempos livres para ir para os tribunais ver julgamentos a decorrer. “Tive um problema de saúde que me abalou um bocado mas dentro de pouco tempo vou fazer o exame à ordem e quero abrir um escritório em Vila Franca”, garante. Alberto Pires diz que não quer morrer sem ir à barra do tribunal viver essa experiência. “Lamento ver muita juventude sem emprego e admiro muito alguns jovens que se desdobram com espírito de entrega nas novas tecnologias mas chegam ao fim do curso e as portas estão fechadas, não há solução. Vejo alunos com grande vocação e sem saídas. Sinto uma grande angústia ao ver isso. Custa-me ver gente com 25 anos a sair do seu país”, lamenta. Considera que os cursos profissionais que eram leccionados no antigo regime, apesar de conotados como um símbolo fascista, eram importantes para preparar os jovens para uma entrada imediata no mercado de trabalho. “Foram cursos muito importantes e houve gente que conseguiu arranjar trabalho graças a esses cursos”, explica.

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