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Moinho de vento na Peralva é um palco nobre para a etnografia

Moinho de vento na Peralva é um palco nobre para a etnografia

Rancho Folclórico “Os Camponeses” quer preservar vivências, tradições, usos e costumes do povo dessa aldeia.

Quatro grupos de tocadores de instrumentos tradicionais tiveram oportunidade de actuar no domingo, 1 de Setembro, num palco muito especial: um moinho de vento no cabeço de uma aldeia. A iniciativa foi organizada pelo Rancho Folclórico “Os Camponeses” da Peralva, uma aldeia da freguesia de Paialvo, em Tomar, que pretende demonstrar que o folclore não é só dançar modas antigas trajado a rigor. Apesar do intenso calor, dezenas de pessoas dirigiram-se até ao Casal do Perninha e, à sombra das árvores, assistiram ao desfile de sons típicos. Actuaram os ranchos folclóricos Camponeses de Malpique (Santa Margarida), de São Miguel de Carregueiros, de Minjoelho, para além do grupo anfitrião. Alguns anónimos juntaram-se à festa e tocaram depois da apresentação dos grupos. Nuno Fonseca, elemento do grupo etnográfico da Peralva, frisou que em frente ao moinho iriam passar os instrumentos usados pelo povo, e representativos da região até finais de 1920. Flautas de cana, castanholas de cana, pinhas, pedrinhas, ferrinhos, reco-reco, almudes e tambores, entre outros. “Rever este moinho é, ao fim e ao cabo, rever um livro com 180 anos de história. Era aqui que se faziam as trocas das farinhas. Deixavam-se vinte quilos, levavam-se 12, 15, 16 ou 18 que era a maquia naquele tempo”, ilustrou. A aldeia da Peralva está rodeada por vários olivais e campos de cultivo, “vivência de gente pobre, simples e humilde que viveu e morreu sem sequer saber que viveu”, disse. O Rancho “Os Camponeses” da Peralva quer mostrar, com esta iniciativa, que pode fazer mais do que bailar, dançar ou cantar. Por exemplo, no dia 11 de Agosto a Peralva teve a sua primeira mostra gastronómica de grãos-de-bico, um certame organizado pelo rancho, uma vez que esta leguminosa sempre foi muito cultivada nos solos argilosos da aldeia. “Comer grão e feijão deixou de ser chique e as pessoas preferem ir ao fast-food. É errado porque o grão tem muitas potencialidades que queremos começar por divulgar aqui, na nossa aldeia”, atesta Susana Jorge, outro dos elementos do rancho, que se encontrava a vender pastéis de grão e bolos de massa. “Podemos dizer que a Peralva, nesta altura, se pode intitular como a capital do grão”, referiu. De perto, a observar o evento etnográfico, estava Ilídio Silva, proprietário do moinho branco e azul, pintado de fresco e recuperado de propósito para esta ocasião. O peralvense, funcionário público, desdobrou esforços, com a ajuda da esposa e elementos do rancho, para que o moinho estivesse a funcionar em pleno nesse dia, podendo ser visitado gratuitamente por quem quisesse. Muito provavelmente, é o único moinho que se encontra a laborar no concelho. Tudo começou quando, há uns anos, viu o terreno à venda. Do moinho apenas restavam as ruínas. Como em criança ia brincar para ali, acalentava um dia vê-lo a funcionar de novo. Comprou o terreno e, sem apoios, foi trabalhando na sua recuperação durante doze anos. “Havia um desejo sentimental de fazer isto. O mais fácil foi recuperar as paredes e o mais difícil foi arranjar as madeiras para reerguer o seu interior. Os conhecimentos que existiam nesta área foram-se perdendo. Tive que ir à zona Oeste, Alcobaça e Caldas da Rainha, pedir ajuda às poucas pessoas que ainda trabalham nisto e procurar madeiras adequadas para as peças”, contou. Depois de reunir todas as peças deste “puzzle” colocou os carpinteiros, que ia buscar e levar a casa, a trabalhar. Um trabalho exaustivo e moroso mas que, neste dia em particular, sente que não foi em vão.
Moinho de vento na Peralva é um palco nobre para a etnografia

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