Saber acumulado é o ingrediente principal da Padaria “Tia Olímpia”
Belmira Marto Antunes aprendeu o essencial da profissão de padeira e boleira com a mãe
Deve quase tudo o que sabe de panificação à mãe e por isso, quando Belmira Marto Antunes decidiu abrir, há 18 anos, uma padaria nos Boleiros, em Fátima, escolheu o nome pelo qual ela era habitualmente tratada. “Tia Olímpia”. Muitos clientes pensam que a Tia Olímpia é ela. Belmira não se dá ao trabalho de desfazer equívocos. Se herdou o jeito e os conhecimentos também pode usar o nome da progenitora com toda a propriedade...e com orgulho. “A minha mãe era muito conhecida em todo o concelho. Era uma pessoa fora do vulgar”, refere.
Natural de Boleiros, Belmira Antunes fez apenas a quarta classe e confessa que não gostava muito da escola. Preferia ajudar a mãe que, para ganhar a vida, fez um forno a lenha onde cozia pães de quilo para vender aos vizinhos e conhecidos. “Lembro-me de ir com ela aprender a fazer os bolos típicos de Boleiros com duas senhoras viúvas da terra”, conta. Entre os 18 e os 21 anos chegou a trabalhar numa fábrica de têxteis em Minde mas acabou por estragar uma vista e saiu do “castigo” dois anos depois. “Voltei novamente para junto da minha mãe e, mesmo depois de casar, continuei a ajudá-la pois já tinha clientes certos. Chegávamos a cozer pão todos os dias da semana e bolos às quintas-feiras”, recorda, acrescentando que, nessa época, era tudo amassado a braços. Com grande experiência no fabrico do pão caseiro, Belmira Marto Antunes decidiu abrir negócio após a mãe falecer. “Os clientes dela vieram pedir-me para que continuasse a cozer pão pois não existia tanta oferta como hoje”, explica. A situação coincidiu com o momento em que o marido, António Antunes, estava sem trabalhar devido a um acidente. “Deu-me incentivo e é uma pessoa com uma criatividade fora de série. Admiro as ideias e o jeito que tem para o negócio”, reconhece. Depois de 11 anos a trabalhar numa pequena padaria em casa, decidiu construir instalações de raiz, que equipou com a mais moderna tecnologia, e que foram inauguradas a 30 de Abril de 2006. Para além de bolos caseiros como as Ferraduras, que os noivos costumam entregar aos convidados e o Bolo de Cabeça, feitos com uma massa de quinze ingredientes, Belmira Antunes coze todos os dias várias variedades de pão. Não faz pastelaria fina porque não compensa o trabalho que dá. “Na altura das festas faço os bolos que vão nas fogaças”, refere. Neste ramo desde sempre, está mais do que habituada a horários nocturnos acordando sempre às três e meia da manhã, excepto no dia de descanso semanal. A Padaria só fecha ao público no dia de Natal e Ano Novo e funciona por turnos, pelos quais rodam os nove colaboradores da empresa. Quando Belmira chega já saíram várias fornadas de pão que têm que ser colocadas em cestos, devidamente embaladas e etiquetadas, para serem despachadas. É o marido que trata das entregas a partir das seis da manhã por Torres Novas, Entroncamento e Golegã enquanto um dos funcionários vai para Fátima. Pelo meio-dia, é comum estarem os dois em Fátima para abastecerem os restaurantes que ficaram sem pão. A jornada de trabalho chega a durar 18 horas e só termina pelas sete horas da tarde, com a empresária a deitar-se o mais cedo que pode para recuperar forças. Ao longo dos anos, o sector da panificação transformou-se por completo e Belmira Antunes refere que foi obrigada a crescer tendo, para além do marido, o filho do meio e a nora a trabalhar consigo. Uma das coisas que lhe custou foi habituar-se a trabalhar com a amassadeira. “Chorei muito, porque nem sempre a massa saía como queria, até conseguir aprender a lidar com esta máquina”, recorda. Enquanto trabalha gosta de ouvir rádio e também de cantar o fado, um dos poucos hobbies que tem para além de passear com o marido e amigos. É uma pessoa de fé, devota de Nossa Senhora de Fátima e de Nossa Senhora do Livramento, padroeira de Boleiros mas no 13 de Maio sabe que é impossível ir à Cova da Iria. Belmira Antunes, que começou do nada, atribui o seu sucesso ao trabalho e dedicação mas, sobretudo à qualidade do pão que apresenta aos clientes, não admitindo falhas na sua confecção e no asseio. Recentemente, a padaria “Tia Olímpia” foi contratada para fornecer a massa do pão aos supermercados Ulmar (antigos Ponto Fresco), prova do prestígio que alcançou no mercado, graças ao saber acumulado de quem a gere e ali trabalha com afinco. “Basta-me olhar para o pão para saber se está ou não bem-feito” atesta. O futuro é uma incógnita para Belmira Antunes que está disposta a ensinar a sua arte a quem quiser seguir-lhe as pisadas. “O meu marido sabe alguma coisa mas ninguém sabe fazer o que faço porque ninguém foi criado nisto como eu. É preciso ter cuidado com os ingredientes e com a temperatura da massa. Basta deitar água a mais ou esquecer o sal para deitar tudo a perder”, sublinha.
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