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A filha de pai cigano que foi à procura das suas origens e realizou um filme premiado

A filha de pai cigano que foi à procura das suas origens e realizou um filme premiado

Leonor Teles teve a sorte de o pai ter rompido com a tradição senão muito provavelmente estava casada e não tinha um curso superior
Filha de pai cigano que já faleceu, Leonor Teles resolveu ir à descoberta das suas raízes e realizou uma curta-metragem sobre a vida dos ciganos no Casal dos Estanques, em Vialonga. O filme “Rhoma Acans” obteve o primeiro lugar no festival de Vila do Conde e uma menção honrosa no IndieLisboa. Mas a principal recompensa desta jovem de Vila Franca de Xira, com 21 anos, foi descobrir que se o pai não tivesse rompido com a tradição cigana, hoje muito provavelmente já estava casada, já tinha filhos e não tinha um curso superior. Leonor concluiu no ano lectivo passado a licenciatura em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema.O casamento do pai com uma mulher fora da comunidade cigana foi um choque para todos. “O meu pai nunca se integrou totalmente na comunidade cigana e nunca gostou das tradições inflexíveis e retrógradas”, refere. Cresceu e vive em Vila Franca de Xira e o modo de vida de Leonor foi sempre diferente da de uma jovem cigana. Algumas primas já estão casadas há alguns anos e já têm filhos. Ao fazer o filme “Rhoma Acans” percebeu o quão diferente podia ser. “É complicado falar com uma miúda cigana de 15 anos e perguntar que sonhos têm. Elas não sabem responder porque nunca pensaram nisso e estão formatadas para viverem segundo a cultura”. Leonor Teles diz que há raparigas com vontade de sair da comunidade cigana mas “se o fizerem ficam sozinhas no mundo”, explica. Apercebeu-se que as jovens ciganas saltam uma etapa na vida, a adolescência, que é essencial. “Elas passam de brincar às casinhas para terem maridos aos 14 anos”. Por isso defende que a mudança de mentalidade tem necessariamente que passar pela educação e pela frequência da escola, espaço onde podem ter acesso a outras vivências e culturas. “O crescimento de um jovem na cultura cigana é árduo porque é limitado. É difícil para um cigano arranjar emprego fora da comunidade”, salienta a jovem realizadora. Considera que a ideia que se tem dos ciganos pode ser errada e que muitas vezes assenta em comportamentos de algumas pessoas. Mas refere que em todo o lado há pessoas boas e más. “A grande maioria dos ciganos já não é nómada. Alguns arranjaram empregos e querem fazer uma vida integrada na sociedade. Mas quem é que vai alugar ou vender uma casa a um cigano?”, questiona. O que significa Rhoma Acans“Rhoma Acans” significa “olho do cigano” em romani, dialecto antigo da comunidade. O documentário foi rodado no 2º ano de licenciatura. “Apaixonei-me pelas pessoas”, principalmente pela Joaquina que é uma miúda de 15 anos com um casamento falhado. O filme foi rodado apenas em três dias e os residentes mostraram-se entusiasmados com o facto de terem sido escolhidos para fazer parte. Começa com uma breve história da família Teles e da sua evolução até se expandir para fora da cultura cigana. Leonor afirma que mesmo antes de entrar no curso de cinema já tinha vontade de explorar a sua origem. “Não fico vaidosa com os prémios. O filme só me ajudou a perceber o que quero fazer na vida”. Está a estagiar numa produtora e para já não quer avançar para nenhum projecto porque não é fácil aos 21 anos apresentar ideias fortes e originais que tenham sucesso no cinema.
A filha de pai cigano que foi à procura das suas origens e realizou um filme premiado

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