Candidatura de Santarém a património mundial pode ser ressuscitada
Ex-presidente da câmara José Miguel Noras diz que existem movimentações para reformulação do processo, suspenso há uma dúzia de anos, com vista à classificação, pelo menos, da Igreja da Graça. Actual líder do município revela que ainda nada sabe em concreto.
O centro histórico de Santarém ainda pode vir a ser classificado como património mundial, embora a uma escala muito mais reduzida do que a prevista na candidatura original, suspensa no início de 2002, e que pode contemplar apenas a Igreja da Graça, onde se encontra sepultado Pedro Álvares Cabral. Pelo menos é essa a esperança do antigo presidente do município escalabitano e impulsionador do processo original, José Miguel Noras, que está envolvido em contactos e negociações com entidades portuguesas e brasileiras que poderão ganhar forma com a apresentação de uma candidatura renovada.“Conquanto ainda seja cedo para um balanço do trabalho informal no que toca a esta ‘ressurreição’ da candidatura, não é arriscado adiantar que, pelo menos, a Igreja da Graça de Santarém já reúne todas as condições, incluindo apoios internacionais, para ver o mérito do seu quilate histórico e patrimonial reconhecido à escala planetária”, diz José Miguel Noras a O MIRANTE. O ex-autarca, homem ligado às questões da cultura, da história e do património, crê no sucesso dessa missão. “Nunca deixei de acreditar e de combater para que Santarém visse o seu nome, formal e explicitamente, premiado em sede da UNESCO, mediante inscrição na lista única do Património Mundial. Nesta luta, estou bem acompanhado, mas sou apenas uma ‘formiga’ que nunca desiste de se movimentar pelas causas em que acredita”, diz. Com ele estão outras individualidades nacionais e brasileiras empenhadas em concretizar um objectivo que Noras considera de elementar justiça. “O que mais desejo consiste em assistir à reparação que é devida à nossa terra, com toda a justiça e inequívoco merecimento. Santarém é o mais perfeito resumo da História de Portugal e acrescentará valor à UNESCO. Oxalá a UNESCO venha a acrescentar valor a Santarém”.O actual presidente da câmara, Ricardo Gonçalves (PSD), não se compromete para já sobre esse processo. Diz que tem uma reunião marcada com Noras para debater algumas questões, mas não tem conhecimento de nada em concreto no que diz respeito a uma possível reformulação da candidatura. Para já apenas garante que apoiará o que achar que “for bom para Santarém”.“Prestação do embaixador Jorge Ritto foi deplorável”No depoimento a O MIRANTE onde revisita o processo falhado de candidatura de Santarém a património mundial, José Miguel Noras ajusta também contas com o passado, apontando o dedo ao então embaixador de Portugal junto da UNESCO, em Paris, Jorge Ritto, cuja prestação classifica como “deplorável”.“Houve um grande azar: inscrito o nome de Santarém na lista indicativa do Património da Humanidade, em 1996, apreciada favoravelmente a candidatura a nível nacional, em 2000, e remetido (nesse mesmo ano) todo o processo para a sede da UNESCO, a Embaixada Portuguesa em Paris não esteve à altura das circunstâncias”, considera. E porquê? “Sabe-se hoje que o responsável diplomático de Portugal junto da UNESCO, que havia mandado fazer obras de adaptação aos seus gostos na embaixada, subitamente quis mudar de instalações, talvez por não gostar da vizinhança. Na verdade, os serviços diplomáticos de Israel, que ficavam paredes meias com a nossa embaixada, monitorizavam toda a envolvência. Assim, depois de uma fortuna gasta no edifício, o Ministério dos Negócios Estrangeiros consentiu que o Dr. Jorge Ritto (então embaixador) mudasse de residência oficial. Com tamanhos ‘trabalhos domésticos’ pela frente, nem sequer informou Cláudio Torres quanto à data da reunião do Comité Mundial, onde este insigne historiador, Prémio Pessoa em 1991, era o único português com assento” e onde devia defender a candidatura escalabitana, explica Noras. Por considerar que havia todas as possibilidades de acolhimento da candidatura de Santarém, a autarquia procedeu à actualização do processo, conforme havia sido solicitado. O dossier reformulado veio a ser entregue na Comissão Nacional da UNESCO, em Dezembro de 2001. “Quanto a mim, a prestação de Jorge Ritto para com Santarém foi deplorável, neste domínio”, conclui o antigo autarca.
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