Carolina Lopes está em cima de um escadote, no palco do Teatro Taborda, a rever o texto com Jorge Palma. A sala de espectáculos do Teatro Taborda, em Santarém, está vazia porque os jovens, ambos de 18 anos, estão a fazer um último ensaio, quatro horas antes de apresentarem a peça “Às Escuras” que decorreu na noite de sábado, 16 de Novembro. Carolina e Jorge garantem que não estão nervosos até porque já não é a primeira vez que representam esta peça. Confessam, no entanto, que momentos antes de subir para o palco dá sempre um “friozinho na barriga”.Os jovens são dois dos elementos do grupo de teatro An!mal, que surgiu há cerca de seis anos e é um prolongamento da aula de Oficina de Teatro da Escola Alexandre Herculano, em Santarém. Carolina e Jorge estudam em Lisboa (ela Comunicação Social, ele Publicidade) mas continuam ligados ao grupo de teatro escalabitano. Gostavam de ser actores mas têm consciência da dificuldade que existe para conquistarem esse sonho. Até tomarem um decisão definitiva vão continuando a conciliar os estudos com o teatro em Santarém.O grande impulsionador do An!mal é Rui Lopes, professor de Português e de Oficina de Teatro na Alexandre Herculano. Em 2005, quando os alunos concluíram a disciplina de Oficina de Teatro continuaram os seus percursos académicos para o secundário. Como aí já não havia qualquer disciplina de teatro, alguns desafiaram o professor a criar um grupo de teatro. O assunto ficou “latente” durante dois anos até que em 2007 arrancaram com o projecto, com 22 jovens alunos.Este ano têm 12 jovens e Rui Lopes justifica a ligeira diminuição do número de actores com o ingresso da maioria dos jovens na universidade. Outra razão é o facto do Ministério da Educação ter excluído esta disciplina do programa escolar. “Era no 9º ano que eles usufruíam de um maior contacto com o teatro porque tinham a disciplina durante o ano inteiro, enquanto no 7º e 8º é só um semestre. Assim fica mais difícil que o bichinho do teatro se instale neles”, afirma Rui Lopes.No primeiro ano de actividade participaram no Festival PANOS da Culturgest, em Lisboa, com a peça ADN. Segundo o professor e director do grupo teatral, o PANOS dá a possibilidade aos jovens de estrear peças escritas para esta faixa etária, o que não existe com tanta frequência. E também permite ver encenações diferentes da mesma peça. Desde aí são presença assídua nesse festival de teatro.A ligação ao Círculo Cultural Scalabitano (CCS) começou a “germinar” na altura da Oficina de Teatro da escola. O professor Rui Lopes tinha o hábito de levar alguns actores de Santarém à escola, no chamado “Ciclo de Visitas” para os alunos terem um contacto mais “real” com a actividade. Depois, todos os anos os alunos apresentavam a peça que andaram a ensaiar no Teatro Taborda, onde o Veto Teatro Oficina costuma ensaiar e apresentar alguns dos seus espectáculos. A parceria surgiu quando o Veto decidiu chegar a um público mais jovem, também para renovar o seu grupo de actores. Foi nessa altura, em 2007, que o An!mal ganhou forma.O nome foi escolhido ao acaso pelo professor Rui Lopes - que foi nomeado director do grupo teatral - que garante não existir uma justificação para a origem da designação. “Estávamos juntos a tentar escolher um nome e surgiu esse, meio na brincadeira, e ficou”, conta. Ensaiam aos sábados de manhã. “A grande prova de fogo é ensaiarmos ao sábado de manhã. Quem aparece aos ensaios é porque quer mesmo ser actor porque o sábado de manhã é quando gostamos de estar na cama ou sair e fazer outras actividades”, refere Rui Lopes, em tom de brincadeira.Em média, apresentam duas peças por ano. Também criam as suas próprias peças de teatro. “O Estendal 1”, “O Estendal 2” e “O Gajo” são alguns dos nomes de peças criadas e encenadas pelo grupo. Este ano o grupo sofreu algumas alterações com o facto de terem jovens actores que já não estão na idade de, por exemplo, participarem no festival PANOS (limite de idade é 18 anos) e serem considerados adultos mas que continuam ligados ao An!mal porque não querem sair. Santarém tem que apostar mais na programação culturalAlém da peça “Às Escuras”, apresentada no sábado, o An!mal aceitou o desafio dos responsáveis do Espaço C, novo bar do CCS, e quinzenalmente, às quintas-feiras (começa esta quinta-feira, 21 de Novembro), vão apresentar “Diarreia de Amor”, uma novela teatral com vários episódios e “reviravoltas surpreendentes consoante a imaginação”. Também já começaram a trabalhar a encenação da peça “Menina Júlia” de Strindberg. O objectivo é continuar a participar no Festival PANOS.Rui Lopes e Francisco Selqueira, actor do Veto e membro da direcção do An!mal, afirmam que os jovens gostam de fazer teatro e que não existe falta de actores. No seu grupo têm inclusive miúdos que vêm de Amiais de Baixo, Albergaria (concelho de Santarém) e Almeirim todas as semanas para os ensaios. O problema, dizem, é a falta de aposta por parte dos responsáveis na cultura. Francisco Selqueira vai mais longe e dá o exemplo do município de Torres Novas que tem apostado “forte” na cultura e tem dado resultados. “Foram buscar um excelente programador, investem dinheiro na cultura e os espectáculos estão sempre cheios. Santarém, infelizmente, está na cauda do distrito na aposta da cultura e do teatro. Se não se fizer essa aposta, as colectividades não conseguem divulgar os seus trabalhos sozinhas”, lamenta.Actor do Veto há muitos anos, Francisco Selqueira considera que a parceria com o An!mal foi muito importante. Trouxe um tipo de público, mais jovem, que não vinha aos espectáculos do Veto, cujo público é mais adulto.