Um atleta ribatejano que arrisca a vida em provas de resistência para não morrer parado
Paulo José Lopes é ultra-trail runner, fazendo provas que chegam a durar cinco horas
Participar em provas de corrida com 70 quilómetros, sempre a trepar montanhas, com uma duração até cinco horas, não é para os fracos de pulmão. Paulo José Lopes descobriu cedo na vida que um problema cardíaco podia matá-lo se não praticasse desporto. Na ânsia de viver apaixonou-se por uma modalidade que também é de risco.
A escolha de Paulo José Lopes, 39 anos, não era fácil. Podia escolher entre morrer de insuficiência cardíaca no sofá de casa a qualquer momento ou a escalar uma montanha numa prova de atletismo com 60 e 70 quilómetros. Decidiu trepar as montanhas.Paulo, natural de Torres Novas, é um apaixonado pela vida e é agente da PSP em Vila Franca de Xira. É um ultra-trail runner, já tendo somado quatro importantes vitórias na modalidade, sempre a título individual. Tudo isto no seu primeiro ano na modalidade, 2013, o que o faz ter grandes esperanças quanto ao futuro.Paulo participa em provas de corrida que chegam a durar mais de cinco horas, com distâncias que vão desde os 40 aos 70 quilómetros. Para tornar tudo ainda mais difícil as provas disputam-se sempre em montanhas, como a Serra da Estrela, Montejunto ou Sameiro. Trepar a Serra da Estrela, por exemplo, pode demorar uma manhã inteira. “A prova mais dura em que participei foi na Serra de Aire, em Caminha. Foi uma prova que me marcou e foi também a única que não consegui acabar. Ia obter um excelente lugar, mas a 3 km do fim perdi-me. Foi uma prova com chuva, gelo, tudo. Foi mágica”, conta.Paulo é de Moreiras Grandes, Torres Novas e entrou no curso da polícia aos 23 anos. Foi aí que veio trabalhar para Vila Franca de Xira. Conheceu a sua esposa e fixou-se em Alenquer, uma vila que considera calma, bonita e acolhedora para viver. Sempre foi aconselhado pelos médicos a praticar desporto, devido a uma insuficiência cardíaca. “Durante a noite chego a ficar com a pulsação muito baixa. Um dia terei de levar um pacemaker, mas até lá vou continuar a praticar desporto. Ainda não levei o meu corpo ao extremo, é verdade que tenho receio de não conseguir terminar uma prova, mas tento não pensar muito nisso”, partilha. A mulher sofre com todas as suas provas mas compreende a luta do marido.Paulo tem consultas regulares no cardiologista para que nada falhe. “No ultra-trail é imprescindível ter esse acompanhamento. Correr estas provas faz-me sentir vivo”, conta a O MIRANTE.Começou a jogar futebol e foi convidado para integrar o plantel do vilafranquense, mas os turnos da polícia não o permitiram. Jogava com os amigos. Aos 30 anos virou-se para as bicicletas e ao fim-de-semana fazia BTT. “Comecei logo a obter bons resultados no BTT, o que me fez ir para o circuito nacional, onde consegui alguns primeiros e segundos lugares”, recorda.Em 2012 decidiu começar a correr, aliciado por um amigo. Hoje em dia treina cinco vezes por semana, fazendo também treino de bicicleta para não “massacrar os joelhos e os tornozelos”. Vai de autocarro para o trabalho e regressa a casa a correr, pelos montes, entre Vila Franca e Alenquer. Apesar das provas serem difíceis Paulo só consegue inscrever-se com dois a três meses de antecedência. “Provas com 800 participantes esgotam num instante. Esta é uma modalidade que está a crescer bastante”, conta. Está inscrito na Associação de Trail Running de Portugal e corre sempre sozinho, levando o abastecimento às costas.Este ano vai participar no circuito nacional, que consiste em oito provas de dificuldade média/alta. Quer vir a chegar às provas de 100 quilómetros dentro de um ano. O sonho é correr no Mont Blanc (Suíça), prova que dura 24 horas e tem uma distância de 168 quilómetros.“O desporto é muito importante para aliviar a cabeça do dia a dia, se muita gente fizesse desporto não precisava de tomar certos medicamentos”, diz com um sorriso.O único apoio que recebe é de uma empresa de suplementos alimentares. Tudo o resto é pago do seu bolso. Gosta de ir à Corrida das Lezírias em Vila Franca para conviver com os amigos, simpatiza com o Benfica mas não é doente pelo clube. A polícia é a sua segunda família e adora a profissão.
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