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Tese de doutoramento sobre ciberjornalismo de proximidade destaca O MIRANTE como um caso à parte

Tese de doutoramento sobre ciberjornalismo de proximidade destaca O MIRANTE como um caso à parte

Pedro Jerónimo entrou nas redacções para saber como se processa a construção das notícias no contexto do jornalismo online

É uma tese de doutoramento que aborda a imprensa regional o que é pouco usual. Tem por título “Ciberjornalismo de proximidade: A construção de notícias online na imprensa regional em Portugal”. Pedro Jerónimo, um jovem investigador de Leiria não se limitou a mais um estudo quantitativo em frente ao monitor de um computador e foi observar a realidade no interior de três jornais regionais tradicionais. Uma das conclusões é que a produção noticiosa continua a destinar-se às edições em papel. Em termos de produção própria de vídeos, de foto-galerias e de prioridade ao online para a divulgação de notícias, O MIRANTE é um caso à parte.

O que é exactamente o ciberjornalismo? É o aproveitamento do meio internet para fazer jornalismo. Pode-se explorar várias potencialidades. Multimedialidade (vídeo, fotografia, áudio); hipertextualidade ligando os leitores para outra fonte e Interactividade, aproveitando o meio para jornalistas poderem comunicar com o público e vice-versa. No campo da imprensa regional é muito residual a presença de elementos multimédia. E há muitos exemplos de jornais que têm um site onde colocam a capa da edição e as chamadas dos destaques, mais nada. A hipertextualidade acaba muitas vezes por levar os leitores para outros lados e afastá-los da notícia que estão a ler? A ideia da hipertextualidade era dar mais informação aos leitores. Ligá-lo a informação já existente. Mas estudos mais recentes referem que as pessoas preferem não se dispersar. Actualmente os utilizadores preferem ter um bloco de texto maior e lerem tudo sem terem de sair dali do que andar a saltar de link em link. Como evoluiu a imprensa regional em Portugal com a internet? De uma maneira geral a passagem do papel para a internet foi feita através de uma mera transposição de conteúdos. De 2000 até 2012 houve uma ligeira melhoria mas salvo raríssimas e muito residuais excepções a nível, por exemplo, da produção própria de vídeos ou inserção de foto-galerias (e nesse caso está claramente em destaque O MIRANTE), quase todos continuam a fazer a simples transposição de conteúdos do papel para o online.Em que é que a sua investigação se distingue de outros trabalhos do género? Apercebi-me que os estudos no domínio do ciberjornalismo e sobre o aproveitamento das potencialidades da internet pelos jornais eram feitos à frente do monitor. Muito centrados em dados quantitativos. Achei que seria importante ir para dentro das redacções e tentar perceber como se processa a construção das notícias no contexto do ciberjornalismo. Foi bem recebido nas redacções? Não me teria sido possível fazer este estudo se não fosse a total abertura das redacções em franquear-me as portas. Um ambiente de redacção é quase sagrado. Abrir a porta a alguém para poder estar lá a estudar é uma situação excepcional e para mim foi muito importante.O que encontrou? O MIRANTE tem 26 anos. No caso do Região de Leiria estamos a falar de um jornal com quase 80 anos. No caso do Reconquista quase 70. Principalmente estes dois últimos viveram grande parte da sua existência no período pré-internet. Ainda que se tenham renovado as redacções e que estejam lá jornalistas jovens, o peso de décadas de produção em papel ainda é muito importante e evidente. Percebe-se dentro das duas redacções que a prioridade ainda é publicar para o papel. A internet está em segundo plano. Como é que as redacções encaram as edições online? No caso específico do Região de Leiria, o que é desenvolvido na internet é mais por voluntarismo dos jornalistas do que propriamente por estratégia da empresa. Não é o caso de O MIRANTE onde a internet é assumida claramente e as chefias de redacção têm um papel importante na implementação dessa estratégia. O fundador do jornal, Joaquim Emídio, que continua a administrar a publicação mandou colocar em todo o lado, a seguir a O MIRANTE, a frase, “Semanário Regional - Diário Online”. Friso isso várias vezes na minha tese. O Região de Leiria pertence a um grupo empresarial, o Reconquista é da Igreja que é provavelmente o maior grupo media do país e O MIRANTE pertence a um particular. A escolha destas três redacções teve isso em conta? Teve e é curiosa a postura do proprietário de O MIRANTE. Quando temos um projecto nosso somos mais exigentes. Queremos sempre melhor. Pude observar isso. É extraordinário o percurso de alguém que não tem formação nenhuma em jornalismo que cria um jornal local, que evolui para regional e que tem a visão daquilo que deve ser um jornalismo de proximidade ao ter a preocupação de ter em conta na contratação de jornalistas a sua área de residência, para ter jornalistas o mais próximo possível das populações, por exemplo, ou ao assumir claramente, perante o público o jornal em papel e o ciberjornal. O Joaquim Emídio disse-me algo muito interessante. “A mim o que me importa é que as pessoas sejam informadas por O MIRANTE. Não me importa se vão ler a notícia no papel ou na internet. O importante é que a leiam em O MIRANTE”.São os jornalistas jovens que mais se interessam pelas edições online e pelas novas tecnologias? De um modo geral é assim. Por vezes essa vontade de alguns jornalistas mais novos esbarra na inexistência de uma estratégia própria da empresa e de uma opção pela Internet. Fiquei surpreendido por em O MIRANTE ser ao contrário. Numa redacção com muita juventude esperava encontrar maior apetência e maior disponibilidade para as questões das novas tecnologias e para a necessidade da celeridade na difusão da informação. Curiosamente verifiquei que são os mais velhos que têm melhor noção disso. Conseguiu alguma explicação para isso? Achei interessante conhecer o percurso profissional das chefias de redacção e constatei que passaram numa fase inicial pelas rádios locais, ou seja, são pessoas que interiorizaram a necessidade de dar a informação assim que a têm. Temos uma notícia vamos já colocá-la online.O papel dos recursos humanos e das chefias é fundamental. Percebe-se que, entre as três redacções que observei, a de O MIRANTE é bem oleada, até na forma de reagir a imprevistos. Estava presente quando a gráfica onde o jornal era feito fechou inesperadamente. Em poucas horas o jornal teve que passar para outra gráfica; passar de três edições semanais diferentes para duas e alterar outras coisas a nível da paginação. Não notei qualquer tipo de stress na redacção. Percebe-se que toda a estrutura e a própria redacção estão preparadas para lidar com isso. Há chefias, o que é importante. Em muitos casos há um director mas na redacção não há quem coordene. Há um dos casos que estudei em que isso é evidente. Os jornalistas estão um bocado a olhar por si próprios. O que pensa do chamado jornalismo do cidadão? Isso não existe. Com a internet e as redes sociais o cidadão comum tem mais meios ao seu alcance para se fazer ouvir mas isso não é jornalismo. Não é fazer jornalismo. O cidadão vai continuar a ser uma fonte de informação mas não substitui o jornalista. O jornalista tem um código ético e deontológico, coisa que não acontece com as pessoas comuns.Ainda lê jornais em papel? Leio. Não sei se o papel vai acabar mas se acabar, o último reduto do papel vai ser a imprensa regional. O MIRANTE vai continuar com conteúdos abertos. Concorda com essa decisão? Acho que faz muito bem. Fechar conteúdos é errado. É preciso considerar que os utilizadores da internet, desde sempre, estiveram habituados a conteúdos gratuitos. Só têm de pagar o acesso à internet. Para avançar com conteúdos pagos é preciso que sejam exclusivos e que valham a pena. Estar a fechar conteúdos que eu posso encontrar no vizinho gratuitamente é dar tiros nos pés.Como foi recebida a sua tese? As leis são sempre pensadas em relação aos meios nacionais. A imprensa regional é sempre esquecida. O simples facto de alguém querer reflectir sobre ela, entusiasmou muitos jornalistas.Completou o seu doutoramento. O que se segue a nível profissional? Eu tive a bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia (Programa UT Austin | Portugal) durante dois anos. Com esta fusão do jornal em que trabalhava, O Mensageiro, quando regressei recebi carta de despedimento por extinção do posto de trabalho. Quando fui à Segurança Social para tratar do subsídio de desemprego, disseram-me que os descontos que fiz, voluntariamente, para um Seguro Social, não contavam para nada a não ser para reforma. Felizmente fui convidado para dar aulas no Instituto Superior Miguel Torga em Coimbra. “Ciberpapel”Pedro Jerónimo nasceu na Alemanha onde os pais estavam emigrados em 1980 mas veio viver para a aldeia da Bajouca, no concelho de Leiria, com dois anos de idade. Quando acabou o secundário deixou o sonho de arquitectura de lado e foi estudar engenharia civil para o Politécnico de Leiria para não sobrecarregar os pais financeiramente. O destino voltou a trocar-lhe as voltas algum tempo mais tarde quando, após o falecimento dos pais num acidente de viação, foi trabalhar para um jornal e abandonou engenharia para se licenciar em Comunicação Social e Educação Multimédia. Concluiu, com distinção, o doutoramento em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais (Universidades do Porto e de Aveiro), no dia 27 de Janeiro deste ano, com a tese “Ciberjornalismo de proximidade: A construção de notícias online na imprensa regional em Portugal”. Um resumo do trabalho já foi divulgado online:“O percurso do ciberjornalismo de proximidade em Portugal é marcado por práticas primitivas, assentes na transposição de conteúdos do meio tradicional; as notícias são o principal conteúdo publicado; a presença da hipertextualidade, multimedialidade e interactividade é residual ou inexistente; e a cultura de produção para o meio tradicional, os recursos humanos e o tempo são os principais factores que determinam as rotinas de produção de notícias online. A Internet é cada vez mais usada na imprensa regional, porém, em rotinas relacionadas com a pesquisa e a comunicação. Os jornalistas estão, em parte, cada vez mais fixos à secretária”.
Tese de doutoramento sobre ciberjornalismo de proximidade destaca O MIRANTE como um caso à parte

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