Rosário Santos
Empresária, 55 anos, Sobralinho (Vila Franca de Xira)
“Há pessoas que passam na passadeira com a maior das calmas e isso não é correcto. As pessoas devem ter algum respeito pelos automobilistas. Mas também há condutores que não respeitam os peões”* * * “Com tanta gente a precisar não devemos deitar roupa no lixo. Quando me pedem, por norma dou. Tudo o que tenho a mais e que deixa de servir aos meus filhos tento dar a quem precisa”
As máquinas hoje em dia são feitas para durar?Já não duram o que duravam antigamente. Para o nosso negócio é mau porque o cliente tem a máquina dentro da garantia e quando termina essa garantia ele começa a pensar duas vezes se a deve reparar. Neste momento a maioria das pessoas manda reparar a máquina de café automática, uma varinha ou um microondas, por exemplo. As pessoas estão a aperceber-se que as coisas são como os empregos, não são para toda a vida. Antigamente tínhamos um ferro eléctrico que durava a vida inteira. Hoje em dia a vida útil são 5 anos, 2 de garantia e 3 fora. Isto se a pessoa o estimar e souber utilizar. Dá esmola na igreja?Dou. E ainda hoje quando vinha a caminho dei para os bombeiros. Não sou rica, mas acho que há pessoas em pior situação que eu. Não costumo deitar roupas fora. Com tanta gente a precisar não devemos deitar roupa no lixo. Quando me pedem, por norma dou. É uma dádiva que o nosso povo tem. Somos todos muito peixeiros mas nas horas difíceis somos solidários uns com os outros. Tudo o que tenho a mais e que deixa de servir aos meus filhos tento dar a quem precisa. Luta com o marido pela posse do telecomando?Não. À noite quando ele se senta para ver TV adormece logo e o comando é meu (risos). Não há guerra entre futebol e telenovela. Quando isso acontece eu mudo e vou ver a telenovela para outra televisão.Já buzinou na passadeira?Às vezes tenho vontade disso. Já buzinei várias vezes, mas em algumas alturas apetece buzinar mais. Há pessoas que passam na passadeira com a maior das calmas e isso não é correcto. As pessoas devem ter algum respeito pelos automobilistas. Mas também há condutores que não respeitam os peões.A quem dava um prémio?À ex-presidente da Câmara de Vila Franca, Maria da Luz Rosinha, apesar de ouvir alguns comentários não muito simpáticos acerca da senhora, achei que nos tempos difíceis que enfrentou fez um bom trabalho. Acho que foi uma mulher de armas. Também deixou a câmara sem dívidas. Isso é uma coisa boa.O que precisávamos para ganhar mais dinheiro?Primeiro tem de haver trabalho. Depois temos de trabalhar mais e melhor. Há gente que trabalha mas não trabalha bem. É mau para o país ter mão-de-obra sem qualidade. Esta crise é útil para deitar abaixo empresas do tipo biscateiro, sem qualidade, que não se prepararam. No meu ramo, por exemplo, já quase desapareceram os biscateiros. Com as novas leis temos de dar garantia das reparações que fazemos e as pessoas sabem que mandar reparar num sítio credenciado é muito melhor e seguro. O que a tira do sério no Sobralinho?Nem sei. Entro aqui de manhã e saio à noite. Não sei nada do que se passa por cá.Que mensagem deixa à troika na hora da saída?Que não voltem. É mulher para correr uma maratona?Só se for devagarinho.Qual o seu petisco favorito?Gosto muito de sável.Que impressão tem do passeio ribeirinho entre Alhandra e Vila Franca?Esta semana fui lá à tarde com uma irmã. Não sei se faria o percurso sozinha. Se temos o azar de alguém se meter connosco não sei quem nos acode. Pelo que vi, andar sozinho naquele espaço pode ser perigoso. Mas é um passeio agradável e a repetir. Se visse uma pessoa na rua a assaltar outra o que faria?Às vezes podemos ter ideia de fazer uma coisa e acabamos por fazer outra completamente diferente. A minha primeira intenção era ajudar a vítima a livrar-se do ladrão. Mas não faço ideia do que aconteceria depois.Dorme com a sua empresa?Durmo, nós temos três portas abertas, somos 24 pessoas e ao final de todos os meses é um grande balanço que temos de organizar. Sou uma pessoa que se preocupa, até demais, com os outros. Quando estiver mau para mim está mau para eles. E as coisas hoje em dia não estão muito fáceis. Os empregados têm sempre a ideia que os patrões estão cheios de dinheiro à conta deles e isso nem sempre é verdade. Felizmente tenho uma equipa muito forte comigo.
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