A influência da genética na bravura de um toiro de lide é pouco significativa
Um animal por melhor que seja nunca agrada a todos os intervenientes de uma tourada
No decorrer do colóquio “O Toiro de Lide e o Espectáculo - Os mistérios da bravura”, organizado pela Associação de Solidariedade Cultura e Recreio Gentes do Cartaxo, o veterinário Vasco Brito Paes defendeu que a genética representa apenas um terço do que o toiro é. O cavaleiro tauromáquico João Telles confessou que ao longo da sua carreira foram poucos os toiros bravos que lidou.
Os caminhos que levam à produção de um toiro ideal para participar numa tourada continuam a ser misteriosos. Essa poderia ser a conclusão do colóquio taurino realizado na praça de toiros do Cartaxo por iniciativa da Associação de Solidariedade Cultura e Recreio Gentes do Cartaxo, que reuniu quatro criadores, um dos quais na dupla qualidade de cavaleiro tauromáquico e um médico veterinário.João Telles, conhecido cavaleiro tauromáquico e representante das ganadarias David Ribeiro Telles e Vale Sorraia confessou que ao longo da sua longa carreira lhe calharam poucos toiros bravos. Uma das explicações que deu para essa situação foi a de que a maioria das ganadarias portuguesas cria toiros para o toureio a pé e não para toureio a cavalo. Disse ainda que o toiro ideal também não existe. “Por norma o toureiro não quer o toiro que o ganadeiro sonha, quer sim facilidade e isso muitas vezes acaba por dar cabo da verdadeira bravura do toiro”.O veterinário Vasco Brito Paes garante que “há uma grande componente na produção de um toiro que não depende do ganadeiro nem de muitos estudos e investigações que possam ser feitos. “É difícil saber qual é a vaca que irá dar os melhores toiros. A melhor vaca nem sempre dá o toiro mais bravo, isso é o mais difícil de uma ganadaria. Os grandes toiros são normalmente filhos de vacas regulares e não de vacas de bandeira”, afirmou.Para ele a natureza de cada animal vai-se revelando a cada momento e nem sequer é possível determinar se um toiro que parece ideal quando está na ganadaria irá manter as mesmas características em praça. “O toiro fala e diz-nos o que é em vários momentos. No campo, na enjaulação, no curral... vai permanentemente dando sintomas e sinais daquilo que ele potencialmente é, mas um terço é genética e dois terços e meio são ambiente”, defende.João Folque, que marcou presença em representação da Ganadaria Palha, partilhou a sua experiência. “O toiro é um animal enigmático mas à medida que o vou observando encontro mais paralelismos ao comportamento do homem. A manifestação da bravura é um acto de coragem, tal como no homem. A mansidão é um acto de cobardia, tal como no homem. Penso que o toiro investe para se defender e não para atacar”, afirmou. No mesmo sentido parece ir a reflexão de Jorge Carvalho. O ganadeiro acredita que um toiro bravo de verdade é o que “no campo não se incomoda quando nos aproximamos dele e que nas corridas tem mobilidade, nobreza e humilha”. Na sua opinião, se não houvesse intervenção do homem na selecção o que se teria era “um toiro bravio”.Praças continuam a não ter condições para os animaisA paixão pelos animais gerou unanimidade entre os oradores relativamente à falta de condições das praças. “A maior parte das praças não tem condições para receber os toiros. Não gosto de ver, por exemplo, a gritaria que muita gente faz em cima dos curros, as varadas desnecessárias que são dadas”, criticou Jorge Carvalho. Entre os aspectos que mais deixam os ganadeiros consternados estão a distância a que os bandarilheiros “cortam” os toiros ao entrarem na praça e também o processo de embolamento que muitas vezes causa lesões na coluna do animal.Aficionado e habituado a acompanhar os toiros em todo o processo, desde o seu nascimento até ao embarcamento, o veterinário Vasco Brito Paes considera essencial que um toiro quando entra em praça esteja “pleno de faculdades para mostrar a bravura ou mansidão que tem”, sendo fundamental não lhe provocar stress adicional, sobretudo no dia do embarque e não fazendo manobras que lhe possam causar lesões.João Andrade, da Ganadaria Prudêncio Silva, diz que se não fosse a paixão pelos animais já não existiriam ganadeiros porque com os preços praticados actualmente a actividade não dá lucro. João Folque, da Ganadaria Palha, defende mesmo que a “condição número um para se ser ganadeiro é ter-se uma paixão louca pelo animal”. Foi revelado que, dependendo de ganadaria para ganadaria, durante os quatro anos em que se cria um toiro o custo é na ordem dos três mil euros, investimento que dificilmente é recuperado. O colóquio, realizado a 28 de Fevereiro, foi moderado por José Cáceres. A conversa decorreu numa sala repleta de aficionados. Entre os presentes destaque para o sócio fundador da Gentes do Cartaxo, Délio Pereira, também presidente da Junta de Freguesia de Cartaxo e Vale da Pinta e para o actual presidente da direcção da associação, César Vasconcelos.
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