Um alfacinha de gema com o coração no Cartaxo
Frederico Corado conheceu o Cartaxo pela mão do actor José Raposo e gostou tanto da terra e do ambiente que decidiu pôr os seus conhecimentos ao serviço da cultura do concelho. O encenador, que se está a mudar de Lisboa para Vale da Pinta, criou um projecto de teatro comunitário e pretende apresentar cinco peças no Cartaxo durante este ano.
Aos 36 anos, Frederico Corado já realizou filmes, documentários, publicidade e encenou diversas peças de teatro. A fotografia é outra das suas paixões, mas gostava que os dias fossem maiores para ter tempo para tantos interesses. Nos últimos dois anos é no Cartaxo que este “alfacinha” tem desenvolvido grande parte da sua arte como encenador, com um projecto que há muito ansiava, o do teatro comunitário. Este ano está a preparar cinco peças para apresentar no Cartaxo e no horizonte há muitos projectos a desenvolver.Nasceu na Mouraria, em Lisboa, mas está de malas aviadas para Vale da Pinta, no Cartaxo, onde conta já passar o 25 de Abril. Considera que Santarém está “morta” culturalmente, contudo acredita que o Cartaxo e o Ribatejo ainda têm muito para dar ao mundo das artes. “Esta região tem material humano, tem história e espaço para que isso aconteça, tem todas as possibilidades para crescer, haja vontade”, diz a O MIRANTE. A peça infantil que está a preparar para estrear em Março, “A Trisavó de Pistola à Cinta”, tem despertado o interesse de ir à procura das suas raízes ribatejanas provenientes do lado materno.O MIRANTE encontrou-se com Frederico Corado na antiga Escola do Centro, no Cartaxo, que serviu de palco à peça “Pânico”, que esteve em cena até ao dia 4 de Março. Chegou ao Cartaxo há cerca de três anos, pela mão do actor José Raposo, que tem acompanhado na realização dos vídeos para a tertúlia mensal “José Raposo Convida”. Desde aí, e depois de ter trazido a peça “O Prisioneiro da Segunda Avenida” ao palco do Centro Cultural do Cartaxo (CCC), a boa recepção da população fê-lo propor desenvolver o projecto de teatro comunitário na cidade ribatejana. “O Marido Ideal” foi a primeira peça que mobilizou a população para as audições e que motivou a fundação, em 2012, do projecto de criação teatral Área de Serviço.Em criança ganhou o gosto de começar a escrever histórias. A sua primeira peça de teatro foi escrita na máquina de escrever do pai, o realizador de cinema Lauro António. “Era sobre a Revolução Francesa”, recorda com um sorriso. Não se lembra quantos anos tinha, mas era muito novo, porque o texto, que ainda hoje guarda, tinha os erros próprios da infância. Teria 8 anos quando deu a voz ao popular anuncio da Nesquik, mas apenas com 15 dias teve a sua primeira aparição no cinema no filme “O Príncipe com Orelhas de Burro”, de António de Macedo.“Ter um pai realizador de cinema e uma mãe publicitária deu-me a motivação para estar com os sentidos despertos para tudo o que estava à minha volta”, confessa, lembrando que nunca sentiu o “peso” de ser filho de quem era e que sempre teve liberdade de delinear o seu rumo. “Quem faz teatro também come”Motiva-o contar histórias e a cumplicidade que se gera com as pessoas com quem trabalha, mas lembra que trabalhar num projecto de teatro comunitário nem sempre é fácil, sobretudo em peças com um elenco de 50 pessoas, em “que se tem que gerir 50 egos diferentes” e o desafio é maior.“As pessoas no Cartaxo estão mais disponíveis, há uma maior abertura e há vizinhança. Aquelas coisas que acho que se estão a perder em Lisboa”, diz Frederico Corado, mostrando o seu encanto pelas gentes e pela cidade do Cartaxo, que ressalva, apesar de ter uma câmara municipal “completamente nas lonas” se disponibilizou para apoiar todos os projectos.Frederico Corado considera que é muito complicado viver da arte. “As pessoas não se capacitam que quem faz teatro também come”, diz, revelando que é comum ligarem-lhe a pedir borlas para espectáculos, situação que no Cartaxo não ocorre e que mostra o “respeito que têm pelo espectáculo”. Feliz no Cartaxo, Frederico Corado quer continuar a contribuir para a vida cultural do concelho sugerindo, até, que algumas das peças da Área de Serviço poderiam circular pelos teatros do distrito. “Temos que começar a pensar criar um dinamismo de troca aqui à volta”, deixa a sugestão. Peça de teatro infantil encenada por Frederico Corado no Cartaxo“Trisavó de Pistola à Cinta”, de Alice Vieira, sobe ao palco do Centro Cultural do Cartaxo (CCC) no domingo, 16 de Março, pelas 16h00. A peça encenada por Frederico Corado conta no elenco com Carolina Viana, Paulo Cabral, Pedro Cavaca, Pedro Ouro, Mauro Cebolo, Rosário Narciso e ainda com a participação especial de Alice Vieira. O bilhete custa 3 euros e as reservas podem ser efectuadas através do 243 701 600 ou do e-mail: centroculturalcartaxo@gmail.com.Muitos projectos para mexer com a vida cultural do CartaxoDepois de ter apresentado a peça “Pânico” e do projecto de teatro infantil, Frederico Corado está já a ensaiar a peça “O Inspector Geral”, que estreia em Abril. Este ano estão também agendadas as peças “8 Mulheres” e “A Caixa” que sobem ao palco do CCC em Maio e Novembro, respectivamente. Um documentário sobre a presença das pessoas do Cartaxo na I Guerra Mundial e um filme são outros dos projectos que estão a ser desenvolvidos por Frederico Corado, que colaborará também com a encenação de peças de Marcelino Mesquita, no âmbito das comemorações em 2016 dos 160 anos deste ilustre natural do Cartaxo.
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