Abelhas
O meu vizinho Agnelo Ferreira é um homem de saberes, prático, pioneiro e de convicções. Faz apicultura como hobby e sempre me falou da importância das abelhas e da sua preocupação pela crescente ameaça à espécie.O tempo vem-lhe dando razão, não só é mais comum ler sobre a importância das abelhas como um ser fundamental à vida na Terra, como as ameaças à sua existência são cada vez mais assustadoras.É mediático falar-se do lobo, do lince, do panda etc. No entretanto, esquecemo-nos do essencial: abelhas, borboletas e minhocas. Devido à contaminação do meio estes seres estão fortemente ameaçados.Ao que se sabe, as abelhas são responsáveis por quase 80% da polinização das plantas existentes na Terra. Só isto é suficiente para se compreender a dimensão da verdadeira importância destes insetos. Um exemplo interessante é a produção de café, constata-se que, quando há abelhas por perto de uma plantação de café a produção aumenta cerca de 15%.Na prática, a abelha está presente em toda a história da humanidade, sempre esteve e está intimamente associada ao ser humano e sua evolução. As abelhas são indicadores biológicos do equilíbrio ambiental, essenciais no esforço da conservação, da biodiversidade e na sustentabilidade do meio. À parte as questões ambientais, o que está em risco, é também a produção de alimentos. É urgente que se reconheçam as abelhas, e outros animais polinizadores, como essenciais para a sustentabilidade da produção mundial de alimentos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) aponta para números absurdos pela perda da polinização devido à diminuição dramática do número de abelhas.A importância económica desta atividade é significativa e tudo o que já se disse, justifica uma especial atenção ao tema. Localmente, nas nossas matas, serras e até aldeias, vilas e cidades, temos ainda, excelentes condições para desenvolver esta atividade.As autarquias, as associações de apicultores, as cooperativas e as próprias associações de desenvolvimento local, tudo devem fazer para incentivar o aumento da apicultura. O Programa Apícola Nacional tem que se traduzir num verdadeiro instrumento facilitador, e não num elencar de medidas muitas vezes distantes da realidade. Como sempre está tudo legislado e regulado, existe um diagnóstico, uma análise swot e um plano para o sector. Ao lado de tudo isto podem estar as pequenas medidas, mas não menos significativas, como o aproveitamento dos meios urbanos para desenvolver a apicultura. O exemplo vem de Paris: “apicultor produz mel sobre telhado da Ópera Garnier em Paris”. Se isto é possível em Paris, imaginem em Santarém, Abrantes ou Tomar. Os bons exemplos devem ser seguidos sem muita demora. Carlos A. Cupetocupeto@uevora.pt Professor na Universidade de ÉvoraPS – Já depois de escrever estas linhas soube que o presidente Obama ordenou uma investigação e aplicação de medidas em 180 dias sobre os efeitos dos pesticidas nas abelhas.
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