O ex-vereador da Câmara da Golegã, Rui Cunha, vai a tribunal acusado de ter desencaminhado, enquanto funcionário judicial, dezenas de processos. Ora aqui está uma daquelas injustiças com as quais não me conformo. Passamos a vida a ouvir dizer que os tribunais estão entupidos de processos e depois, quando um funcionário decide dar uma de canalizador e começa a desentupir, sentam-no no banco dos réus em vez de lhe darem um louvor? Na próxima semana sai de cena um dos mais inspiradores autarcas da região. Falo naturalmente de António Rodrigues que foi presidente da Câmara de Torres Novas durante vinte anos e presidente da Assembleia Municipal durante um ano. Quantas e quantas vezes aquele divertido companheiro forneceu material para a grande enciclopédia do humor regional? Quantas e quantas vezes foi a musa inspiradora desta nossa troca de correspondência? A pouco e pouco a política recupera aquele ar sisudo e cinzento que deprime qualquer um. Só espero que o município venha a editar um livro com as obras de António Rodrigues enquanto presidente da Assembleia Municipal tal como fez em relação às obras do autarca enquanto presidente da câmara. É certo que não teve muito tempo para mostrar toda a sua valia no actual cargo mas o pouco que fez dá para páginas e páginas. Basta que, tal como aconteceu com o outro livro, o deixem escrever este. Só o relato da última conversa que teve com Xanana Gusmão, seu amigo de infância, segundo julgo saber, a propósito da taxa do IMI a aplicar em Díli, deve ocupar uns dois ou três capítulos, principalmente se ele conseguir transpor para a escrita o tom arrastado do castigador de juízes portugueses.De Setúbal chega mais um calendário com fotos de bombeiros musculosos agarrados a mangueiras. É de lamentar estas coisas. Ao menos aqui pelos nossos lados quando se fala de bombeiros é por coisas sérias. Ainda há dias, na associação de voluntários do Entroncamento, o presidente da Assembleia, sem tocar a sirene nem pedir reforços, apagou uma lista completa que estava a tentar chamuscar a lista da actual direcção. Acho que nem foram necessárias operações de rescaldo.A cantora Cristina Branco ficou possessa quando o fisco lhe foi ao bolso. Chegou a dizer que lhe apetecia viver para sempre na Holanda. O que achei mais espantoso foi ela só se ter apercebido agora que o Estado nos anda a esmifrar há anos com uma carga fiscal de fazer chiar as molas de qualquer camião TIR. Pelos vistos já não devia vir a Almeirim há carradas de tempo. Ou se veio não se deu ao trabalho de ler jornais. Mas ela faz bem em optar pela Holanda. O senhor do Pingo Doce já fez o mesmo há dois anos e não pára de prosperar. Grande fadista o Soares dos Santos. Grande fadista! E se já estiver farta da Holanda vá para o Luxemburgo que ainda é melhor. Na minha modesta opinião a Cristina Branco devia contratar um contabilista que estivesse ao mesmo nível dos músicos que a acompanham. Era uma forma eficaz de evitar desafinanços fiscais. Ólari ló lela!Por falar em fadistas, há um outro que merece destaque. É o Alexandre Alves. Pagou cem mil euros por um terreno que a Câmara de Abrantes tinha comprado por mais de um milhão, com a promessa de construir um complexo industrial na área das energias renováveis... mas aquilo foi um ar que lhe deu. A presidente da câmara anda a tentar reaver a massa mas de cada vez que fala com o homem ele só lhe dá música. Para ver se o convence a mudar de tom meteu-o em Tribunal. Eu ardo de curiosidade. Será que o empresário vai optar pela canção do bandido ou pelo fado do desgraçadinho?Saudações melómanas Manuel Serra d’Aire