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“Ser professor e dar aulas é ter o privilégio de tocar o futuro destas crianças”

“Ser professor e dar aulas é ter o privilégio de tocar o futuro destas crianças”

Maria Teresa Duarte Valente, presidente do Agrupamento de Escolas de Vale-Aveiras

Nascida em Vale do Paraíso, Maria Teresa Valente confessa ter sido uma privilegiada por ter nascido numa localidade com grande qualidade de vida. Quando era pequena brincava aos professores. Começou o seu percurso profissional no ensino, na Escola Secundária Gago Coutinho em Alverca. Mais tarde foi colocada na Escola Básica dos segundos e terceiros ciclos de Aveiras de Cima. É viciada em trabalho mas sempre que tem tempos livres gosta de passá-los com a família. Gosta de ir ao cinema, de ler e de ouvir música.

Quando era pequena costumava brincar aos professores com uma prima mas gostava de ter sido advogada. O meu pai acabou por me tirar essa ideia da cabeça (risos). Fui para economia e só mais tarde para o ensino. Naquele tempo não tínhamos acesso a tantos bens materiais como a juventude de hoje mas não era por isso que não éramos felizes. Tínhamos sempre a capacidade de inventar as nossas próprias brincadeiras. Nasci em Vale do Paraíso, Azambuja. Foi muito agradável crescer lá e considero-me uma privilegiada. Isso possibilitou-me uma vida calma, tranquila, com sol e muito espaço. Os meus pais eram agricultores e sempre fui muito ligada ao que faziam e também ajudava e colaborava no que era necessário. Nas vindimas, por exemplo, sempre trabalhei e ajudava. Era uma coisa que eu gostava.O 25 de Abril de 1974 fez de mim uma idealista e eu pensava que conseguia mudar o Mundo. Eu e outros jovens fizemos cursos de alfabetização para adultos em Vale do Paraíso. Havia muita gente que naquele tempo não sabia ler. Antes, ainda no tempo da ditadura, fui com uma amiga assistir a um teatro em que as pessoas que levaram a peça à cena avisaram que não tinham atado as cadeiras como tinha mandado a polícia. Saímos mais cedo mas sei que o espectáculo acabou por ser interrompido a meio pela polícia. Queriam as cadeiras atadas porque em caso de conflito não as podiam arremessar. Integrei uma lista de cidadãos nas primeiras eleições livres da freguesia de Vale do Paraíso. Foi uma lista única porque fizemos a agregação de todos os partidos. Depois da revolução conseguimos muitas coisas na nossa pequena aldeia. Ser professora é um privilégio mas representa uma imensa responsabilidade. Dei aulas durante quatro anos em Alverca, na Secundária Gago Coutinho, como professora de economia e contabilidade, até ter vindo para Aveiras de Cima. Estamos a ser responsáveis por ensinar jovens que serão os cidadãos de amanhã. Temos o privilégio de tocar o futuro e o dia de amanhã destas crianças. Em 1992 acompanhei o arranque desta escola, foi uma aventura. As aulas iniciaram-se com muito pouco equipamento e demos o nosso início de aulas com os bancos da filarmónica e as cadeiras de jardim do Dr. Ortigão Costa. O equipamento veio chegando a pouco e pouco. Tornei-me presidente do conselho executivo a partir de 1998 e estou em funções directivas até aos dias de hoje. Ser directora de uma escola é uma inquietude que cada vez se torna maior. Os dias das escolas são irrepetíveis. Por muito planeamento que façamos não é possível cumpri-lo porque há sempre acontecimentos de gestão que nos obrigam a fazer adaptações. A escola é como um organismo vivo. Tentamos planificar, planear e cumprir mas é muito difícil, estamos sempre a ser solicitados para situações que não são programadas.Sei sempre à hora a que chego mas nunca a que horas saio da escola. Tirando a segunda-feira, em que não saio mais tarde que as nove, no resto dos dias saio sempre muito tarde. Mas isso é comum a todos os meus colegas. Todos temos um grande sentimento de missão. A internet veio trazer às escolas e aos professores alguns desafios. Pela primeira vez temos alunos que sabem mais que os seus modelos. Todos crescemos e nos orientamos pelos modelos dos nossos pais, eles sabiam sempre mais do que nós. Neste momento temos uma geração em que os filhos sabem mais que os pais no que toca ao digital. E isso traz-nos algumas alterações e já se está a ver o que está a acontecer. Hoje em dia um professor para cativar esta nova geração tem de deslumbrar os alunos. Temos de ser ousados, deslumbrá-los e encantá-los. É uma profissão difícil. Temos de estar presentes perante 30 alunos, conseguir ver o que se está a passar e criar um clima propício à aprendizagem. Hoje com a net eles pensam que ficam a saber tudo mas não ficam. Ainda falta a aprendizagem da vida. Sou viciada em trabalho mas sempre que tenho tempos livres gosto de estar com a família. Tenho amigos que são pessoas simpáticas e disponíveis. Este ano já fui duas vezes a pé a Fátima. É preciso pernas e determinação. Também gosto de ir ao cinema e ouvir música. Gosto de coisas tão diferentes como Tchaikovsky e Paul Simon. Também costumo ler nos tempos livres e passear. Já tive uma altura em que andava a ver os castelos de Portugal. Noutra altura foram os conventos. Sempre que há uma exposição interessante em Lisboa também gosto de ir.Filipe Matias
“Ser professor e dar aulas é ter o privilégio de tocar o futuro destas crianças”

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