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O vício do associativismo é difícil de curar

O vício do associativismo é difícil de curar

António Silva Fernandes foi, até dia 12, presidente do Centro de Recuperação Infantil de Benavente

O seu nome fica para sempre ligado à instituição, onde ajudou a comprar uma nova viatura, construir as novas instalações e um novo lar para pessoas com deficiência. Diz que o associativismo é uma “doença” e confessa sair com saudades.

Aos 71 anos, António Silva Fernandes está de saída da gestão do Centro de Recuperação Infantil de Benavente (CRIB), instituição a que dedicou 19 anos da sua vida. Diz que a “doença” do associativismo é difícil de curar, está contra quem anda nas associações só para ganhar dinheiro ou visibilidade e confessa sair com saudades mas com a sensação de dever cumprido para com a comunidade. Foi pelas suas mãos que o CRIB recebeu uma nova carrinha de transporte de utentes, novas instalações e um novo lar para pessoas com deficiência. O município de Benavente reconheceu o seu empenho na comunidade com a atribuição da medalha de mérito municipal de grau ouro.Natural da Golegã, António Fernandes foi com os pais para Salvaterra de Magos quando tinha sete anos. Um dos seus primeiros trabalhos foi como ajudante de pintor mas como não se dava bem com os cheiros da tinta tentou arranjar outro emprego. Serviu na guerra do Ultramar e quando voltou a Portugal entrou no então chamado comissariado de desemprego, como fiscal de terceira classe. Com o passar dos anos a instituição foi mudando de nome e António acabou no que é hoje a Segurança Social, com o cargo de sub-inspector. Além de inspeccionar as firmas sobre as contribuições para a Segurança Social, era responsável por fiscalizar as baixas, subsídio de desemprego e abonos, entre outras tarefas. Por causa das promoções de trabalho foi obrigado a mudar várias vezes de concelho, tendo prestado serviço em Lisboa, Óbidos, Chamusca, Mafra, Tomar e Santarém, onde se reformou.Conheceu a mulher e casou em Benavente. Há 18 anos tomou conhecimento do CRIB pela primeira vez, quando o convidaram para integrar uma lista. António não era um estranho do associativismo, já tinha passado pela direcção de uma creche, pela Filarmónica Benaventense, pela Filarmónica de Óbidos e só não aceitou um cargo de dirigente desportivo em Tomar porque era incompatível com o seu trabalho.“Ao fim de dois anos no CRIB a direcção caiu por desavenças existentes no seu seio, em que havia coisas com que eu não concordava. Depois senti-me na obrigação moral, porque fui um dos causadores da direcção cair, de apresentar uma lista. Pensei que era uma lista para perder e que iria haver outra lista concorrente. Afinal a minha foi a única que apareceu e acabei por ser presidente do CRIB à força”, recorda.Começaria nesse momento uma relação com a instituição que só se quebrou na última sexta-feira, 12 de Dezembro, com a eleição dos novos corpos sociais. “Acho que a minha actividade foi positiva, cumpri com tudo o que prometi nos actos de posse sempre com a ajuda de quem me acompanhou nas diferentes direcções. Saio com alguma pena e saudade”, confessa com emoção. Para ele, o associativismo está em risco. “É com pena que vejo o futuro desta sociedade, em que os jovens não se aproximam das instituições”, lamenta. António Fernandes defende que quem está nas associações não deve ser remunerado nos cargos. “Quem vem para uma instituição deve vir com o espírito de servir e de missão e não de servir-se a ele próprio. Sou totalmente contra o facto de os órgãos directivos das associações serem remunerados. O voluntariado vive do espírito de missão”, refere.António Fernandes confessa ter passado “muitas noites sem dormir”, envolto nos problemas da instituição e no financiamento ao novo lar do CRIB. Mas, nota, o legado deixado “compensou em muito” os sacrifícios feitos. “Ajudámos a desenvolver algo para a nossa comunidade e isso é o mais importante”, conclui.
O vício do associativismo é difícil de curar

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