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As salinas de Rio Maior, as noivas e uma memória afectiva

As fotos de Ana Francisco registam o esplendor da luz. Foi bom termos feito uma pausa nas salinas de Rio Maior em Agosto do ano passado. A minha filha mais velha já não se lembrava; os meus netos e o meu genro não conheciam. As fotos são excelentes e saltaram logo para o álbum de recordações da minha gente em Londres. Mal sabem eles que neste tempo é moda as noivas da região tirarem fotografias nas salinas. Porque é bonito e porque, como em todas as modas, alguém deu o primeiro passo e começou assim uma tradição. Mas há outra coisa - a memória afectiva. Foram também um pouco meus, estes caminhos no passado, no meu tempo de criança. Partíamos de Santa Catarina às 3 das manhã de um dia para chegar à Feira de Rio Maior ao fim da tarde desse dia. A velocidade das vacas (a Boirisca e a Benfeita) era de 2 quilómetros por hora. Os farnéis das mães e das avós eram à base de pão alvo, azeitonas, ovos cozidos, bacalhau albardado, coelho guisado e frango corado com batatas pequeninas. O inevitável barril de vinho (a água-pé não chegava ao Verão) seguia no carro de bois, neste caso carro de vacas. Quando caíam as primeiras águas de Setembro eu dormia debaixo do carro e só os animais, fortes e pacientes, apanhavam essa chuva miúda. Os meus avós compravam na feira cabos de cebola de Alvorninha para todo o ano e, no caminho de regresso, nas salinas de Rio Maior, um saco de sal para a salgadeira no mês de Dezembro. E matava-se o porco em Dezembro porque havia frio e as moscas desapareciam de casa com o frio. Uma só mosca podia estragar uma peça de carne. Hoje, 2015, alguém sabe onde está essa carne saborosa das salgadeiras do meu tempo? Alguém pode dar indicações? Apetece escrever como Carlos Pinhão em A BOLA nos anos 70 e 80 - «Ai que saudades, ai, ai.»José do Carmo Francisco

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