“O Ateneu é a galinha e os alunos são os pintainhos”
Ateneu Artístico Cartaxense
Fundado a 1 de Dezembro de 1880, o Ateneu Artístico Cartaxense é uma referência ao nível da formação desportiva de crianças e jovens no concelho do Cartaxo. A associação tem hoje 1455 associados e 566 alunos distribuídos por mais de uma dezena de modalidades. Um projecto sólido alimentado pela dedicação e empenho de dirigentes, professores, pais e alunos. Maria João Rodrigues iniciou o seu segundo mandato como presidente da colectividade.
Como surgiu o Ateneu Artístico Cartaxense? O Ateneu Artístico Cartaxense surgiu de uma ideia de várias pessoas da terra. Foi fundado a 1 de Dezembro de 1880 e dedicava-se sobretudo à promoção do desporto amador e de actividades culturais e recreativas. Inicialmente chamava-se Grémio Artístico Cartaxense. Tinha um forte cariz social, era um ponto de encontro. Hoje toda a gente pode sair e ir à discoteca. Na altura para as meninas conseguirem sair diziam que vinham para o Ateneu e assim era tudo muito mais fácil. Havia bilhar, snooker e campeonatos de ping-pong. Qual a importância do Ateneu na educação e formação dos jovens do concelho? O Ateneu é uma peça fundamental. No concelho do Cartaxo é provavelmente o único sítio onde se consegue realmente dar uma formação desportiva a crianças e jovens, sobretudo ao nível da ginástica. Ao aprenderem ginástica e ao ganharem gosto pelo desporto estão a ganhar bases sólidas para a vida adulta. Costumo dizer que o Ateneu é a galinha e os alunos são os pintainhos. As pessoas estão cada vez mais desligadas do associativismo? Fazemos com que os pais sejam associados mas para alguns é mesmo uma obrigação. A questão do pagamento de quotas preocupa imenso a colectividade porque há sócios que efectivamente cumprem o pagamento e pagam a quota certinha todos os meses mas também há muitos que se desleixam e estão durante anos sem pagar. Ou seja, reconhecem a importância da colectividade mas não se envolvem. O que nos falta é esse envolvimento das pessoas. A sua participação num projecto de que efectivamente gostam mas ao qual não dão muita atenção. O cariz cultural do Ateneu ainda está vivo? Infelizmente foi-se perdendo muita coisa com o tempo. O Museu de Miniaturas e a biblioteca, que existem no primeiro andar, estão praticamente inutilizados. Os pais vêm deixar os meninos, alguns aproveitam e estão um bocadinho no bar ou simplesmente esperam pelos filhos. Tirando isso, há só três ou quatro sócios que vêm ver os jogos de futebol e outros que continuam a vir beber o café e ler o jornal depois de almoço. Como chegou à presidência do Ateneu? Sou associada do Ateneu desde os nove anos quando ainda existia a figura do sócio infantil. Fui praticante de ginástica rítmica, frequentava o bar e acabei por nunca me afastar do Ateneu. Mais tarde, os meus filhos frequentaram também aulas de ginástica e ténis. Era um namoro antigo este convite para integrar a direcção (risos)... Acabei por entrar para os órgãos sociais em 2009. Entretanto em 2011 fiz parte da direcção e em 2013 assumi a presidência. É a primeira presidente mulher no Ateneu. Qual o peso deste cargo na sua vida? É um orgulho conseguir continuar a história desta colectividade e proporcionar condições a todos estes miúdos que frequentam o Ateneu diariamente. Nunca quis isto para promoção pessoal, nem para dizer “eu sou a presidente”. Aliás, não consigo dizer “eu faço”, mas sim “nós fazemos” porque tudo é desenvolvido em conjunto por toda a direcção. Sinceramente gostava de ter mais disponibilidade... Acho que o Ateneu precisa de ter um director disponível para estar cá a qualquer momento e eu nem sempre consigo por questões profissionais. Quando um dia quiser deixar a presidência vai ser fácil encontrar novos candidatos? Não, nunca é fácil. Isto acaba por funcionar como uma empresa e mesmo que não apareça ninguém novo, tenho que assumir na mesma as funções até aparecer uma nova equipa para formar direcção. Nós tentamos sempre junto dos pais angariar novas pessoas mas as pessoas não têm disponibilidade ou vontade e outras não têm tempo. Costuma-se dizer que quando a crise chega a primeira coisa onde os políticos cortam é na cultura e no desporto. Concorda? Aqui foi muito antes de a crise chegar. O município estabelecia um protocolo anual com as várias colectividades do concelho no sentido de as subsidiar mas desde 2010 que não recebemos qualquer tipo de apoio. Sabemos que o poder local não tem dinheiro e o grande apoio tem vindo da parte da Junta de Freguesia do Cartaxo. A maior parte das empresas portuguesas não tem política de mecenato. O Ateneu tem patrocinadores privados? Temos o apoio de alguns patrocinadores privados, mas não existe efectivamente um grande investidor. As nossas receitas vêm essencialmente da quotização, das mensalidades dos atletas que servem para pagar os ordenados dos professores, de donativos e eventos de solidariedade. Se não fosse o trabalho conjunto que é feito entre alguns pais mais dinâmicos e a direcção, no sentido de organizar eventos, claro que uma colectividade destas nunca mais conseguia ter dinheiro para suportar tudo. São sempre precisos novos equipamentos porque estes são materiais de desgaste rápido e, por exemplo, um trampolim custa na ordem dos cinco, seis mil euros. Que desafios se impõem ao Ateneu? Estou na direcção há quatro anos e coincidiu exactamente com o período de maior crise. De facto o nosso maior receio era que as pessoas não conseguissem suportar o pagamento das mensalidades e retirassem os filhos das aulas. Felizmente, tem-se conseguido superar essa situação. O que muitas vezes acontece é que as pessoas acabam por reduzir o número de vezes de treino por semana para conseguirem manter as inscrições e é legítimo que assim seja. Estamos sempre atentos caso haja alguma situação que mereça uma atenção especial da nossa parte e claro que contamos com a ajuda dos professores nesta tarefa. Na maior parte das cidades e vilas do interior a ligação dos jovens às colectividades cessa quando ingressam no ensino superior ou entram no mundo do trabalho. É assim no Cartaxo? Isso irremediavelmente acaba por acontecer. Eles entram na faculdade e começam a ter as suas vidas em outros locais como Lisboa, Porto ou Coimbra. A maioria deles deixa de praticar as modalidades e os que não o fazem, começam a praticar nas cidades onde estão a estudar e já não voltam para o Ateneu. Uma associação ao serviço da formação desportiva da comunidade do Cartaxo O Ateneu Artístico Cartaxense nasceu a 1 de Dezembro de 1880 pela mão de um conjunto de ilustres da terra motivados pela vontade de promover o desporto amador, a cultura e as actividades recreativas. Um projecto que tornou o Ateneu numa referência ímpar ao nível da formação desportiva de crianças e jovens no concelho do Cartaxo. A ginástica é uma longa tradição na história do Ateneu Artístico Cartaxense, que hoje oferece uma formação diversificada nas áreas de motricidade, tumbling, trampolins, aerosaltos e ginástica de manutenção. Apesar de a ginástica fazer parte do ADN da associação, a oferta desportiva não se fica por aqui. Ao seu dispor, a comunidade tem outras nove modalidades: a pesca desportiva, o triatlo, a natação, o basquetebol, o ballet, as danças modernas, as danças de salão, o ténis e o judo. A associação tem hoje 1455 associados e 566 alunos distribuídos pelas mais de uma dezena de modalidades leccionadas por um quadro de 18 professores. A participação dos ginastas João Fernandes, Isabel Barba e José Nunes no 23º Campeonato do Mundo de Ginástica por Grupos de Idade, que decorreu na cidade de Daytona Beach, Estados Unidos da América, foi o grande destaque do Ateneu Artístico Cartaxense em 2014. O triatlo foi também motivo de orgulho ao alcançar o 2º lugar a nível nacional. No basquetebol, as equipas do Ateneu destacaram-se com bons resultados a nível regional, apesar de a modalidade existir apenas há dois anos. Em 2015, as expectativas da associação estão viradas para a natação e para o ballet. Duas modalidades que têm vindo a crescer e a atrair cada vez mais atletas. Para além da sede, no Largo Vasco da Gama, no Cartaxo, fora de portas a colectividade dispõe ainda do Pavilhão Desportivo do INATEL e das Piscinas Municipais do Cartaxo para a prática das modalidades de basquetebol, triatlo e natação. Com uma forte ligação à comunidade local, a colectividade promove regularmente iniciativas, nomeadamente o Desfile do Rei e da Rainha das Vindimas, a Atnarte (feira de artesanato durante as festas da cidade), saraus de ginástica e eventos de solidariedade. O Ateneu tem sido ao longo de 134 anos um projecto sólido alimentado pelo associativismo e pelo empenho dos dirigentes, professores, pais e alunos que, em equipa, trabalham diariamente para garantir o sucesso da colectividade. A formação desportiva de jovens e seniores e a valorização dos atletas são as prioridades da direcção do Ateneu, presidida por Maria João Oliveira, que a 31 de Janeiro iniciou o segundo mandato.
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