“Queremos desassossegar mais pessoas e aumentar a ligação à comunidade”
Canto Firme de Tomar Associação de Cultura
Simão Francisco, 26 anos, actual presidente da direcção da Canto Firme - Associação de Cultura, não é adepto de uma gestão de “Terra Queimada”. Sabe que o património de trinta e cinco anos de actividade é valioso e quer aproveitar o melhor que foi feito e evitar repetir o que não correu bem. Mas tem ideias próprias e quer agitar as águas. O ano passado trouxe actividades para a rua e levou outras a vários locais. Está a reorganizar a contabilidade e a base de dados dos associados. Tem projectos em carteira e não se importa de errar porque acha que pior que errar é não tentar.
A nova direcção da Canto Firme tomou posse há pouco mais de um ano. Era obrigatório fazer mudanças? O que mudou desde então? Foi um ano que mais pareceu uma década (risos). Tínhamos uma imagem muito antiquada e tentámos transformar o que já existia em algo mais apelativo. Concordámos, em uníssono, que estava na hora da Canto Firme sofrer alterações e começámos por mudar o Logotipo. Também fizemos algumas mudanças no hall de entrada na sede. Ainda mantemos as fotografias e os cartazes antigos nas paredes mas a nossa ideia passa por criar um espaço-museu para aquele espólio, colocando no seu actual lugar informações actualizadas relativas às nossas iniciativas e informações úteis para alunos e professores. Vai surgir uma nova colectividade? Não falaria numa “nova” Canto Firme, falaria numa Canto Firme Jovem. Somos herdeiros desta história de 35 anos e não podemos deitar fora uma coisa tão rica. Queremos pegar no bom trabalho que já foi feito, melhorá-lo e torná-lo consistente. Queremos também perceber o que não correu bem para não voltarmos a cometer os mesmos erros. Ganhar métodos, sobretudo. O que é que distingue a Canto Firme das outras associações culturais? Sabemos que temos pouca variedade mas o pouco que temos é bom. Não podemos perder objectivos nem a noção do trabalho que esses objectivos nos dão a conquistar. Quando qualquer pessoa se empenha naquilo que está a fazer os frutos aparecem. Fazemos uma gestão inteligente da associação, que já vinha de antes, que é de ter pouco mas bom, sempre através do trabalho. Uma associação tem que ter sócios. Como é que está a Canto Firme a este nível? Temos, actualmente, cerca de dois mil sócios. Quando chegámos sentimos necessidade de fazer uma melhor gestão do ficheiro de associados e do controle das quotas. As anteriores tentativas não foram bem sucedidas. Neste momento temos uma pessoa quase a tempo inteiro com esse sector que é fundamental. Também fizemos a centralização da contabilidade. Como temos dois projectos diferentes de financiamento (o ensino articulado/vocacional e os cursos profissionais) o que acontecia é que tínhamos duas empresas a trabalhar, cada uma num destes financiamentos. Optamos apenas por uma empresa que, neste momento, faz a gestão da contabilidade da associação. O Coro Misto, a Oficina de Teatro e o Conservatório de Artes são as vossas apostas estratégicas ou existem outros caminhos a desbravar? Tentamos ser justos naquilo que fazemos nestas três valências mas temos que apostar mais no marketing. Temos que fazer uma maior divulgação da imagem da própria instituição. Na vertente da “venda do produto” penso que já demos um passo em frente mas estamos a anos-luz de outras associações. É uma das falhas que estamos a tentar colmatar, daí termos decidido criar, com a prata da casa, o Gabinete de Produção e Comunicação que não existia até agora. Pretendemos no futuro vir a contratar alguém que se dedique exclusivamente a esta área. Como é que se convence um jovem a vir estudar música ao invés de ir jogar futebol? Neste momento o nosso trabalho de sensibilização e captação passa muito pela demonstração ao vivo do que fazemos e ensinamos. Vamos às escolas, creches e jardins-de-infância e realizamos concertos em diversos sítios para tentar chamar a atenção dos mais jovens. Por exemplo, todos os anos fazemos um concerto em Ferreira do Zêzere no qual chamamos as Filarmónicas a participar. Através disto já conseguimos captar mais jovens mas para avançarmos com outras formas de captação teríamos que ter mais verbas do que aquelas de que dispomos actualmente. Qual é o maior desafio para um dirigente associativo? O maior desafio de qualquer associação de cultura é ligar a mesma à comunidade, promover actividades diferentes das que já são feitas por outras associações ou fazê-las de forma diferente e, acima de tudo, inovar. Qual foi o pior momento? Tivemos três meses de ordenados em atraso nas escolas do ensino artítico e sempre na expectativa que tudo se iria resolver no dia seguinte. Passávamos o tempo a tentar descobrir como podíamos motivar as pessoas para virem trabalhar. Chegámos ao ridículo de já nos rirmos de nós próprios. O mais curioso, é que há quatro anos que as escolas do ensino artístico vivem com este problema de sucessivos atrasos. Há dois anos chegámos a ter cinco ordenados em atraso. Mas só este ano quando as escolas da região de Lisboa e do Algarve sofreram na pele o mesmo problema é que houve uma euforia de manifestações artísticas. Que projectos gostavam de ver realizados? Temos um sonho, desde o início, que passa por ajudarmos no processo de integração da comunidade cigana de Tomar. Pretendiamos promover uma troca de experiências culturais que façam aquelas pessoas sentirem-se mais inseridas na comunidade para que a comunidade as sinta de outra forma. Também queremos avançar com projectos que mexam mais com a comunidade. Achamos que mais do que conseguirmos fazer muito boa música ou música erudita, é possivel transformar quem nos rodeia. Queremos criar uma associação comunicativa, que promova o debate de ideias e que envolva a comunidade num crescimento de ideia de sociedade. Queremos, e já está em andamento, abrir a Canto Firme a novas linguagens musicais, como o Jazz e vamos criar um Curso Livre de Teatro. Ter apenas 26 anos tem funcionado como uma vantagem ou uma desvantagem? Acho que é uma vantagem porque nesta idade ainda somos malucos (risos). Não temos medo de arregaçar as mangas e de errar porque sabemos que podemos vir a aprender com os nossos erros. Tem algum episódio mais caricato para partilhar? Há um que me marca. Não sei porquê mas até ao dia 9 de Janeiro de 2014, altura em que tomei posse, era o Simão e agora passei a ser o Dr. Simão. É algo que me choca um bocadinho porque eu não tirei Medicina. Sou apenas o Simão, que está à frente da Canto Firme. “O que se faz aqui dentro não deve ser só nosso” “É bom estar entre amigos” continua a ser a frase mais repetida dentro da Canto Firme - Associação de Cultura de Tomar, que comemorou 35 anos de existência a 18 de Fevereiro, num momento em que se encontra numa fase de rejuvenescimento e de maior abertura à comunidade. A direcção liderada pelo jovem Simão Francisco decidiu transformar uma colectividade, encarada por muitos como algo elitista e encerrada em si própria, numa colectividade mais arejada e sem receio de se mostrar ao mundo. Com apenas 26 anos, o actual presidente da direcção quer espalhar mais cultura, agitar mais consciências, semear mais conhecimento e desassossegar cada vez mais as pessoas. Para Simão Francisco a Canto Firme tem que reforçar a sua ligação à comunidade. Alguns dos principais sinais de abertura foram dados o ano passado. A colectividade já organizou diversos concertos de rua, tocou nos Transportes Urbanos de Tomar, criou a Orquestra de Sopros do Médio Tejo, participou na Festa Templária, promoveu a Festa da Música e dinamizou um ciclo de concertos nos claustros do Convento de Cristo. Com cerca de dois mil associados, há já alguns anos que a Canto Firme ministra Cursos Profissionais de Música, em parceria com a Escola Secundária Jácome Ratton de Tomar, mas é no seu Conservatório de Artes, sedeado no edifício-sede (que tem 14 salas de aulas e um auditório para 250 pessoas) que se encontra o palpitar do seu coração. A instituição, que conta com 40 colaboradores, entre professores e funcionários, abrange neste momento cerca de 320 alunos, distribuídos por Tomar, Mação e Vila do Rei. Tem um Coro Misto, composto por 60 coralistas, que continua a ser dirigido pelo maestro António de Sousa, o sócio número 1 da colectividade, uma Orquestra de Cordas e uma Oficina de Teatro com cerca de 20 actores.
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