Alpiarça recupera tradição do Enterro do Galo depois de uma década de interregno
Ofensas pessoais levaram à suspensão de festa que marca o fim do Carnaval
Orlando Melgada segura com firmeza o galo que vai ser o rei da festa. Com um lençol grande branco na cabeça, apertado para fazer uma espécie de crista, Orlando aguarda pelo início do Enterro do Galo de Alpiarça. Os elementos da banda da Sociedade Filarmónica Alpiarcense (SFA) 1º Dezembro dão os últimos acordes para afinar os instrumentos. Estão todos trajados a rigor com o lençol branco à cabeça. Foi Orlando Melgada, 68 anos, quem levou o galo no cortejo desde a sede da SFA até ao pavilhão de “Os Águias”, que se realizou na noite de Quarta-Feira de Cinzas, 18 de Fevereiro.O Enterro do Galo em Alpiarça é uma tradição que remonta aos anos 30 do século passado. A AIDIA - Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça retomou a tradição o ano passado depois de ter estado cerca de dez anos sem se realizar. Os versos que deviam fazer rir a população tornaram-se em ofensas pessoais entre populares o que levou à suspensão da iniciativa. A AIDIA pretende agora retomar a tradição do Enterro do Galo com boa disposição e elevação. Os versos são colocados pelos populares na caixa de correio do Clube Desportivo “Os Águias”. Os elementos da organização escolhem os melhores e aqueles que brincam com as pessoas mas “sem ofender”.Este ano foram seleccionados 230 versos. Os primeiros foram lidos à porta da sede da SFA. Fernando Almeirante foi a quem coube a árdua tarefa de ler o testamento do galo. Cerca de meia centena de populares juntou-se ali para ouvir as calhandrices, numa tradição que assinala o final do Carnaval. Mas a maioria dos curiosos aguardava pela leitura do testamento do galo no pavilhão do Águias. Com tochas a iluminar o caminho, o grupo seguiu pela Estrada Nacional 118, em direcção à sede do clube. Durante aproximadamente uma hora foram lidos todos os versos do Enterro do Galo deste ano. O MIRANTE publica alguns dos versos do testamento do galo de Alpiarça.No passado tão mal nos fezRecordar dá-lhe prazerSaneou agora um homem bomQue nada fez para o merecerFoi uma sacanice maiorFicaram todos assim tão bemCalar a quem tem outra corE muitos dos leitores tambémÉ uma “nova” democraciaQue nos estão a oferecerNesta nossa freguesiaPadre não se pode serPorque esta vida é danadaVejam bem estes caminhosPrémios aos que não valem nadaE aos bons cravam espinhosÉ uma nova lei da rolhaVê-se bem a olho nuÉ uma péssima escolhaMetam a rolha no cuUm concurso foi abertoPara alguém fazer um jeitoPara tudo poder dar certoFoi cozinhado a preceitoAs funções que exigiaSão coisa d’aparvalhar:Conhecimentos sem valiaE saber ler e contarEu, galo, fui ao concursoMas a coisa correu malFui fazer figura de ursoE dispensaram-me da oralAndam pr’aí três jeitososFiguras como estas não háTemos que aturar os manhososNas voltas que Alpiarça dáUm é sabichão a preceitoE deitou as contas à vidaSer vereador fez-lhe jeitoGovernou-se e bateu de saídaOutro é um grande espertalhão:De cá da ponte é progressistaDepois, como bom camaleão,P’ra lá da ponte já é centristaO terceiro não tem bons modosNem uma figura de genteOlha de lado, pisa todos,E manda mais que o presidenteDeixaram o país de rastosSão tantas as barbaridadesCada vez são mais os gastosPara encher o cu de vaidadesAlpiarça não é excepçãoÉ por demais evidenteAquele grande carrãoQue transporta o presidenteDizem que aquele BMFoi uma compra de outros temposSó que o povo agora gemeE ninguém ouve os seus lamentosO seu perfil de barbudoAtraiu votos como o melEm Alpiarça deu tudo por tudoPara parecer o FidelE é por isso mesmo atéQue não acha ser pecadoSer comparado com o ChéE aparecer em todo o ladoÀ Câmara de AlpiarçaVou dar-lhe uma opiniãoQue seja mais democrataE respeite a oposiçãoRespeitem-se uns aos outrosParem com a palhaçadaÉ uma vergonha para todosE não vai levar a nadaÉ tão grande a confusãoQue começa a ser irritanteSe quiser saber da situaçãoÉ só ir ler O MIRANTE
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