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“Sei que sou um idealista mas continuo a acreditar que ainda há pessoas de palavra”

“Sei que sou um idealista mas continuo a acreditar que ainda há pessoas de palavra”

Luís Miguel Grilo, 47 anos, responsável da G System, Alverca do Ribatejo
Antes de me dedicar à engenharia informática dei serventia a estucadores. Também na fábrica da Covina e nas OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico). Esta área da informática é um bocadinho inglória porque a evolução é constante. Estamos sempre numa corrida para a acompanhar. Sei que nunca voltaremos ao analógico mas por vezes faz falta. No futuro não teremos memória, gravamos tudo em digital e não vemos nada. É como as fotografias. Muitas vezes nem nos lembramos que as temos gravadas. Sou de Alverca mas não é uma cidade que me satisfaça. Passei a minha juventude em Vila Franca de Xira e aí sim há muitas tradições e características que Alverca não tem. Quando regressei a Alverca verifiquei que ninguém tem feito muito para que ela ganhe vida. Não há planeamento. Não existe um sítio central onde as pessoas se encontrem. Há exagero de grandes superfícies que matam todo o comércio tradicional à sua volta. Alverca é um centro de grandes superfícies. Em cada esquina temos um hipermercado, quando não temos quatro e cinco supermercados seguidos. Não passa pela cabeça de ninguém aprovar uma coisa destas. Esqueço-me das horas quando estou a trabalhar. Gosto de pegar ao serviço sempre às 09h00. Não gosto das empresas onde se começa a trabalhar tarde. Também não gosto de coisas feitas em cima do joelho. Por vezes fico com a sensação que o sector empresarial é uma espécie de selva. Dou muito valor às pessoas de palavra. Sei que são cada vez menos mas sou um idealista. Faz falta haver mais gente assim. Faz-me muita confusão alguém dizer uma coisa hoje e amanhã já não ser assim. Se disser que faço uma coisa é para fazer, independentemente de perder dinheiro. Já tive negócios em que perdi dinheiro por causa de ser assim. Não faço negócios com empresas, faço negócios com pessoas. Quando alguém me aborda é com essa pessoa que trato tudo. Não gosto da maior parte dos políticos mas não me digam que são todos iguais. Seja como for, acho que quem está no poleiro não tem qualquer valor nem ideal. Na juventude estive envolvido na política e vi logo que não podia continuar porque aquilo ia contra os meus valores. Vi os que continuavam, como continuavam e porque continuavam e o que tinham de fazer para continuar na política. Podemos ter aqui pessoas a nível local que vêm de outras áreas e fazem um bom trabalho, admito. Mas os políticos de carreira, que vivem agarrados à mama do Estado, não servem a ninguém. Infelizmente o português é um povo que idolatra o chico-espertismo. Somos capazes de votar livremente em pessoas condenadas em tribunal por corrupção. Isso a mim choca-me. Sou uma pessoa optimista, que acredita no mundo mas vejo o que me rodeia e o caminho das pedras em que andamos. Os portugueses não têm só coisas más, também temos coisas boas, como a solidariedade e a capacidade de nos desenrascarmos. Comecei a praticar atletismo há quatro anos e estou viciado. Já participei em várias maratonas. Treino todos os dias entre uma hora e uma hora e um quarto. Aos domingos gosto de fazer umas corridas de manhã. Levo aquilo a sério. É uma questão de superação pessoal e de alcançar os objectivos a que me proponho. Fui agora fazer a maratona de Sevilha. Esta actividade obriga-nos a uma grande preparação porque o desgaste é enorme. O meu escape é tirar todos os dias uma hora para correr. Em termos de distância já fiz uma prova de 55 quilómetros e ando agora a pensar entrar no triatlo, já ando a aprender natação. Mas as provas que me interessam são as maratonas. Sevilha é a sétima maratona que faço nos últimos quatro anos. Tenho vindo a melhorar em termos de tempo. Não corro para as medalhas, corro para melhorar a minha capacidade de sacrifício e bem-estar pessoal. Quando atingimos objectivos na corrida conseguimos transmitir isso no trabalho. Faz com que pensemos que não há impossíveis. Ajudo a minha mulher na cozinha e se estiver sozinho não morro de fome. Mas tem dias. Estamos um com o outro 24 horas por dia porque trabalhamos juntos e para que as coisas corram bem temos áreas bem definidas nas responsabilidades da empresa. Em casa não luto com ela pelo comando da televisão. Está sempre na Benfica TV. A disputa maior é com o meu filhote. O mundo é tão grande e há tanta coisa para descobrir que sempre que posso viajo. Espero conhecer o Vietname e adoro África. A vida não é só trabalho. Para mim o trabalho é uma parte importante mas não é tudo. O mais importante para mim na vida além de correr é a família e o meu filho. Espero poder vir a dar-lhe ferramentas para ele ter um bom futuro. Acho que não estamos a criar um bom futuro para esta geração mas todos temos de tentar melhorar. Filipe Matias
“Sei que sou um idealista mas continuo a acreditar que ainda há pessoas de palavra”

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