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Filarmónica de Minde chega aos cem anos cheia de juventude

Filarmónica de Minde chega aos cem anos cheia de juventude

Colectividade tem escola de música que alimenta a banda com muito sangue novo

Uma sede nova era a prenda de centenário ideal para a associação, que proporciona ensino musical gratuito a muitos jovens da vila e arredores e é uma referência cultural no concelho de Alcanena.

A Sociedade Musical Mindense (SMM), de Minde, concelho de Alcanena, comemora no domingo, 25 de Outubro, 100 anos de existência. A banda filarmónica é rosto da colectividade e tanto participa em festas e romarias como faz concertos de gala, contando com cerca de 60 músicos de diversas faixas etárias mas onde predomina a juventude. A média de idades é de 21 anos, com vários adolescentes mas também com uma grande fatia de elementos entre os 20 e os 40 anos. Mais velhos apenas dois elementos: José Diamantino Oliveira, com 86 anos, e António Costa Santarém, com 72. Praticamente todos os músicos são de Minde (há apenas duas raparigas de Mira de Aire e um rapaz de Casais Robustos) e até o maestro, João Carlos Roque Gameiro, é natural e residente na vila. É maestro desde 2002, tendo iniciado os estudos em termos de formação musical na SMM.A quantidade de jovens na banda é consequência da existência de uma escola de música, designada centro de formação, que durante vários anos teve como mentor Jaime Chavinha e cujo objectivo principal é a formação (gratuita) de jovens para ingressarem na banda. Conta com cinco professores e funciona durante o ano lectivo em horário pós-escolar. “O objectivo é formar os jovens o mais rápido possível para ingressarem na banda. Felizmente não temos um problema que muitas bandas têm, que é a dificuldade de recrutamento”, conta a presidente Anabela Capaz, que acrescenta que todos os anos entram na banda novos elementos. “Há dois anos entraram 10”, recorda.Fundamentais para qualquer colectividade são os apoios financeiros. A SMM recebe apoio da Câmara de Alcanena e da Junta de Freguesia de Minde e não tem razões de queixa: “São dois organismos que têm sempre as portas abertas. A junta está sempre ao nosso lado e ajuda em tudo o que solicitamos mas é o município de Alcanena quem nos dá a maior fatia. O ano passado manifestámos a necessidade de ter alguns instrumentos e o município apoiou-nos prontamente, até com mais do que aqueles que inicialmente tínhamos falado. Já no decorrer deste ano, o município também se prontificou a levar a banda a Cabo Verde. Fomos praticamente 50 músicos. Tivemos uma semana em Cabo Verde e o custo para nós foi zero. Estamos muito gratos à presidente Fernanda Asseiceira, porque foi um marco para nós em ano de centenário”, afirma Anabela Capaz. Agora a direcção não tem dúvidas em afirmar que o que faz mais falta é uma sede nova: “Gostaríamos de ter um local com mais condições, especialmente para o centro de formação. Esta sede é nossa, já tem 50 e tal, 60 anos, temos muito orgulho nela, queremos conservá-la muito bem conservadinha mas com a quantidade de pessoas que aqui temos já se torna apertada”, confessa Paula Vedor, vice-presidente.Uma relação muito especial com a comunidadeO apoio é, de facto, fundamental, visto que é a instituição que fornece instrumentos e fardas. “Um músico pode entrar para a banda e os pais não têm o mínimo custo com ele. Não há qualquer custo associado com a aprendizagem, com o instrumento, com saídas, com fardas, com nada”, explica a presidente. Outra vantagem é o ambiente extremamente saudável que se vive no seio da banda: “Os músicos mais velhos têm uma capacidade de integração muito grande em relação aos mais novos. Não existe uma distância. Os miúdos entram e são apoiados. São músicos, são colegas, são dos nossos e ponto final”, frisa David Feixeira, outro dos elementos da direcção.Além dos apoios da câmara e da junta, a banda da SMM conta com o apoio muito importante por parte da população de Minde. “A população sempre nos apoiou afincadamente e não temos a mínima razão de queixa. A população considera a banda com muito carinho. Quando fomos a Cabo Verde estavam, à vontade, 200 pessoas a ver-nos partir”, recorda Anabela. “Sintomático desta relação tão especial entre a população da freguesia e a banda é que todos os concertos que damos em Minde esgotam. É uma relação muito, muito especial”, conta David Feixeira.Em relação a actuações, a banda já esteve um pouco por todo o país. As deslocações são feitas no autocarro da câmara ou da Rodoviária do Tejo. Quando são deslocações curtas, a viagem é feita nos carros particulares de directores e músicos. “Curiosamente, dentro do concelho de Alcanena fazemos muito poucas festas”, refere Paula Vedor. Anabela Capaz, a presidente, tem uma explicação: “Há bandas com muito menos elementos, que têm um custo inferior, e hoje em dia as comissões de festas têm de fazer contas a tudo. Normalmente nós vamos de manhã e vimos ao final da tarde, o que requer que a comissão de festas custeie o almoço. Estar a pagar um almoço a 45 ou 50 elementos que a nossa banda leva é diferente de estar a pagar o almoço a uma banda que leve 20”.A presidente que também toca e um músico com 60 anos de bandaA Sociedade Musical Mindense tem como presidente Anabela Capaz, de 43 anos, que também faz parte da banda (toca requinta). Vive em Minde, é licenciada em Gestão de Empresas e exerce a profissão de Técnica Oficial de Contas. Entrou para a banda com 11 anos, por influência do pai e do tio, que fazia parte da direcção. Estudou, tirou o curso em Lisboa, casou, teve filhos e nunca desistiu da banda. É presidente desde 2012, na sequência do falecimento do padre Mário Marques dos Anjos, que presidiu à SMM durante 50 anos e que foi um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da instituição. Com uma vida pessoal e profissional ocupada, não é fácil para Anabela arranjar tempo para a banda. “Há alturas em que é muito complicado. Sair do trabalho, chegar a casa, ter a lida da casa para fazer, dois filhos para criar, é muito complicado. Mas a semana sem o ensaio à sexta-feira à noite parece que não termina como deve ser”, assume.Outro elemento é António Costa Santarém. Tem 72 anos, é o segundo mais velho atrás de José Diamantino Lopes Oliveira, de 86 anos, mas é quem tem mais anos de banda, tendo já feito 60. Começou com 12 anos, tocou trompa, trompete e fixou-se depois, até hoje, na percussão. O percurso de 60 anos na banda tem valido a pena: “Sinto-me honrado, satisfeito e realizado por ter conseguido ultrapassar estes anos todos, com amor à camisola e amor à terra”. Numa banda com muita juventude, a sua relação com os mais jovens é boa: “Todos me tratam por senhor António e penso que todos têm o máximo de respeito para comigo. Dou-me bem com toda a gente e toda a gente se dá bem comigo”, afirma.António Costa Santarém vai com a banda a todas as actuações, perto ou longe, e diz-se em condições para o continuar a fazer. A excepção foi a recente viagem a Cabo Verde. O músico ficou em Portugal e a razão foi simples: fobia em andar de avião.Concerto do centenário marca comemoraçõesAs comemorações do centenário da Sociedade Musical Mindense (SMM) decorrem domingo, 25 de Outubro, e têm como ponto alto um concerto de gala, às 16h00, no pavilhão Ana Sonça. De manhã, pelas 10h00, vai haver o descerramento de uma placa comemorativa na sede da colectividade e às 10h30 uma arruada pelas ruas da vila. Às 11h30 será celebrada uma missa solene na Igreja Matriz. Já depois do concerto, pelas 18h00, a SMM organiza um lanche convívio aberto à população e o dia termina com fogo de artifício pelas 21h00. A direcção promete ainda estender as comemorações do centenário durante um ano, até 25 de Outubro de 2016.
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