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Comandante da GNR de Almeirim joga ao ataque no Fazendense

Comandante da GNR de Almeirim joga ao ataque no Fazendense

Cláudio Pereira também pratica futebol federado como ponta de lança

Por vezes faltoso mas nunca maldoso, dentro de campo é a marcar golos que o sargento se sente bem. A prioridade, no entanto, é sempre para a profissão, que garante estar à frente de tudo. Durante os 90 minutos esquece a pele de militar mas a postura de apaziguador está sempre presente.

O sargento Cláudio Pereira, 32 anos, é o comandante do posto da GNR de Almeirim mas às terças, quintas, sextas e domingos despe a farda e veste o equipamento de jogador de futebol. Natural de Trás-os-Montes, o sargento começou por jogar em alguns clubes da região do Porto, até que conheceu a mulher, natural da Azinhaga (Golegã), e mudou-se para o Ribatejo. Foi convidado a jogar no Operário Meiaviense (da Meia Via, Torres Novas), onde esteve duas épocas, até à extinção do clube. Em 2013, a vida profissional levou-o até Almeirim e foi já como comandante do posto que foi jogar para o União local. “Perguntei se podia treinar e não me disseram que não. Comecei em Outubro, já o pessoal tinha feito a pré-época e isso é sempre complicado. Mesmo assim, primeiro o Filipe Rego e depois o Renato Bento (treinadores) acreditaram em mim e deram-me uma oportunidade. Fico contente por ter pertencido à equipa que subiu de divisão”, recorda o militar, que esteve nas épocas 2013/2014 e 2014/2015 no União de Almeirim.No final da época passada, consciente da rivalidade, trocou o União pelo Fazendense, a convite do presidente Botas Moreira: “Recebi vários convites para jogar e um deles foi do Fazendense, que é um grande clube. Disseram que gostavam que eu lá fizesse uns treinos e acabei por ficar. Também acreditaram no meu trabalho, no meu esforço, e não estou arrependido. É verdade que existe uma grande rivalidade com o União de Almeirim mas ninguém levou a mal a minha transferência porque eu por onde passo faço bons amigos”.Em campo, Cláudio Pereira era defesa central mas foi em Almeirim, sob o comando de Filipe Rego, que se transformou em ponta-de-lança. Assegura que tem apetência para marcar golos mas é também um avançado do tipo carraça, que não pára um segundo. Como qualquer jogador, faz as suas faltas. É raçudo, gosta de jogar duro, mas garante que não é maldoso. Aliás, diz que não é jogador de ver cartões vermelhos. “Mas amarelos sim. A mim sempre me ensinaram que ou passa a bola ou passa o jogador”.Dentro de campo, não se mete em problemas e, quando há quem se meta, a sua postura é de apaziguador. “Quando um colega meu está metido ao barulho vou lá afastá-lo, sem qualquer problema. Estamos num jogo, temos é de correr e ganhar. Quanto a mim, não sou de me meter em problemas. Quem me conhece sabe disso”, garante. A relação com os árbitros é muito boa. Se há coisa que Cláudio Pereira não faz é desculpar-se com o árbitro. “Não acho que os árbitros façam de propósito quando erram. São humanos e têm o direito a errar. O mal é as equipas preocuparem-se com os árbitros. Têm é de se preocupar consigo próprias”, defende. Não tem problemas com os árbitros mas tem com as lesões. No pouco tempo que está no Fazendense já sofreu algumas, sendo sempre tratado pelo conhecido massagista de Almeirim, Eliseu Simões.A difícil conciliação entre a GNR e o futebolCláudio Pereira é, primeiro que tudo, um militar da GNR. O futebol fica para segundo plano. Já aconteceu ter de faltar a treinos ou mesmo sair a meio mas é algo que dirigentes e treinadores de todos os clubes por onde passou compreendem. “Eu aviso logo no início da época que pode haver um treino ou outro que eu tenha de faltar. Mas mesmo assim sempre que falto aviso. Faço questão disso. Eu não meto o futebol à frente da GNR. Mas também, quando estou a jogar, dou tudo por tudo”, assegura.Cláudio Pereira tem autorização da GNR para jogar futebol. “Nunca ninguém me disse para parar de jogar até porque eu não misturo as coisas. O futebol nunca se vai intrometer na minha vida profissional “, garante.Quem também sabe separar as coisas é o público, daí que Cláudio Pereira não oiça nenhum tipo de comentário menos agradável. “Toda a gente me conhece mas ninguém se mete comigo e não há qualquer tipo de comentário acerca da minha vida profissional. Toda a gente respeita. As pessoas sabem separar as coisas”.A segurança em Almeirim e a missão no AfeganistãoCláudio Pereira é militar desde os 18 anos. Diz que o mais difícil foi sair de casa mas nunca lhe passou pela cabeça desistir. Já trabalhou em todo o país mas ser comandante do posto de Almeirim é o que mais gosta de fazer. “Espero cá ficar bastante tempo”, refere. A população agradecia, uma vez que é um facto que a segurança no concelho tem aumentado e a criminalidade diminuído. “Há dados que o podem provar. Em 2013 havia uma média de 1200, 1300 crimes por ano. Em 2014 chegámos aos 800 crimes e este ano não sei se chegamos aos 700. É um bom sinal”. O sargento não relaciona a melhoria dos indicadores directamente com o facto de ser comandante do posto. A sua influência é indirecta: “Quando o efectivo está moralizado e se sente bem, o trabalho corre bem. E eu faço com que o efectivo se sinta bem. A minha missão como comandante é saber ouvir toda a gente e eu oiço. E depois tenho de moralizá-los: digo-lhes que se hoje está mau, amanhã vai ser melhor de certeza”, revela.Antes de se tornar comandante do posto de Almeirim, Cláudio Pereira esteve no Afeganistão, entre Outubro de 2012 e Março de 2013, como instrutor de tiro. O objectivo era dar formação aos polícias afegãos. “A maior parte deles nunca tinha visto armas e nós dávamos o nosso melhor para os ensinar. Formavam-se 2 mil polícias mensalmente”, conta. Do Afeganistão recorda um país de extremos a nível da temperatura e o baixo nível de vida dos afegãos: “É uma realidade completamente diferente da nossa. As pessoas lá lutam para ter água, para ter comida e o ordenado mínimo é 20 dólares (17 euros)”.Num país perigoso devido às guerras e ao terrorismo, Cláudio Pereira recorda um episódio que o marcou: “Tínhamos as nossas horas para falar com a família e um dia estava eu a falar quando houve uma explosão relativamente perto de mim. Foi o suficiente para a família ficar com o coração nas mãos”.
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