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“O PSD perdeu a Câmara de Tomar porque quis”

“O PSD perdeu a Câmara de Tomar porque quis”

Ivo Santos regressou à vida pública activa depois alguns anos retirado

Foi vereador, chefe de gabinete do presidente e assessor na Câmara de Tomar e apontado como possível sucessor do ex-presidente António Paiva, mas o PSD escolheu outras opções e Ivo Santos zangou-se com o partido. Estava a fazer a sua travessia do deserto quando foi desafiado para liderar o Sporting de Tomar no ano do centenário. Aceitou e diz que o bichinho da política continua vivo.

A presidência do Sporting de Tomar, que este ano comemora 100 anos de vida, é uma forma de manter a sua visibilidade ou projecção pública na cidade? Algumas pessoas pensam isso (risos). Tenho um amigo meu, o padre Mário Duarte, que diz que desde que as pessoas queiram, há sempre formas de contribuir. Colocaram-me a questão de liderar uma equipa de direcção do Sporting de Tomar. Houve essa vontade e eu aceitei.Já tinha sido dirigente antes no clube? Não. Estive como vice-presidente da associação Canto Firme durante muitos anos. Desta vez pensei: se as forças vivas do concelho não me virem com um hipotético mal-estar este regresso à vida pública activa, voltarei.Ficou traumatizado pelo mau resultado que obteve em 2013, quando concorreu à Câmara de Tomar pelo CDS/PP? Não. Também concorri em 2009, onde tive um menos mau resultado. Não fiquei com esse trauma, mas pensei afastar-me uns anos e dedicar-me mais à minha vida pessoal, profissional e às pequenas firmas que tenho. No caso do Sporting de Tomar, não podia dizer que não, pois foram as forças vivas de Tomar que vieram ter comigo e me pediram para formar uma equipa. Até porque havia o risco do clube cair no vazio directivo. Quanto à política, saiu de vez ou está apenas a fazer a sua travessia do deserto? Saí do PSD (em 2009) na altura certa.Mas depois tem dois resultados eleitorais pelo CDS, em 2009 e 2013, que terão ficado aquém das suas expectativas. Não tenho essa noção, porque no concelho de Tomar a estrutura do CDS praticamente não existe. Só existe de quatro em quatro anos, por altura das eleições autárquicas.Então por que é que optou por essa força política? Por vezes é importante vincarmos que estamos vivos. Achei que seria interessante e foi mais uma opção para as pessoas poderem votar.Ainda tem ambições políticas? Acho que todos os homens são animais políticos. Temos opinião, queremos intervir, não queremos que a vida passe por nós. Eu gosto de política, não o escondo. Não me vejo é a regressar ao PSD. Isso nunca mais!Continua zangado com o PSD, pelo qual foi eleito vereador na Câmara de Tomar durante dois mandatos? Não me revejo na estrutura local e concelhia do PSD há muitos anos. Sou um crítico a esse nível. Quando foi para escolher o sucessor do presidente António Paiva houve sondagens e na altura fui apontado, até pelo próprio O MIRANTE, como o delfim de António Paiva. Penso que isso me prejudicou internamente. Quando surgiu o momento da sucessão houve uma sondagem que indicava quem estava mais bem colocado...E era o senhor? Sim, era eu. O processo foi mal conduzido, não só a nível local mas também distrital e nacional. Mas, sobretudo, tenho a ideia que, à época, houve pessoas que tiveram outras opções e há que respeitar isso. Falando em nomes. Tanto Corvêlo de Sousa como Carlos Carrão foram más opções do PSD para suceder a António Paiva na liderança da Câmara de Tomar? Trabalhei com os dois na câmara e pessoalmente não tenho nada a apontar. Em termos políticos, acho que a Câmara de Tomar hoje não é do PSD porque o partido tudo fez para que assim fosse.Então quer dizer que as escolhas feitas não terão sido as melhores? Não foram as melhores. E a história prova isso. O PSD chegou a ter uma maioria grande em 2001 e actualmente somos a segunda força política.A saída de António Paiva da Câmara de Tomar deixou o PSD local órfão de liderança? Não foram criadas as condições para que essa sucessão fosse natural e, de algum modo, consensual. O engº. António Paiva tem uma personalidade muito forte. Quanto a mim foi o melhor presidente da Câmara de Tomar de todos os tempos. Da minha experiência enquanto vereador e representante da autarquia, António Paiva destacava-se pela sua qualidade, pelo seu saber dos dossiês e pela sua visão. E isso acaba-se naturalmente. Ninguém me passou credencial para dizer bem dele, mas notei que, depois da sua saída, quem lhe sucedeu não agarrou nos processos e não vivia a vida da autarquia da mesma forma.Tomar é ainda a capital incontestável e incontestada do Médio Tejo? Tomar poderia ser uma cidade de excelência. Não é. Temos um problema que é não haver mais industriais bairristas, que apostem na sua terra, como acontece noutras zonas. Se temos património, se temos um rio que atravessa a cidade, acessibilidades, tenho pena de não ter conseguido fazer isso.Ainda vai a tempo. Ainda não chegou aos 50 anos. Tenho uma forte relação com a autarquia. O meu pai era chefe da divisão administrativa e financeira da câmara. Era por assim dizer o braço direito de muitos presidentes depois do 25 de Abril. Cresci na Câmara de Tomar. Continuo a viver a Câmara de Tomar como vivia em pequeno. No meu futuro não tenho portas fechadas, mas não trabalho para isso no dia-a-dia. Tenho outro tipo de preocupações. Mas a política é uma coisa que está cá.“Quem foi eleita para gerir a Câmara de Tomar foi Anabela Freitas”Custou-lhe ver o PSD e o PS aliados no último mandato em Tomar? Custou muito. Era uma aliança mais contranatura essa ou a actual, que junta PS e CDU na gestão do município? Acho que são as duas contranatura. Tenho uma relação de amizade com a presidente Anabela Freitas, somos colegas no IEFP, mas penso que qualquer aliança aqui em Tomar é sempre complicada. No anterior mandato era uma relação por conveniência que existiu e negociada quase em cima do joelho para perpetuar o PSD no poder. E deu maus resultados. Actualmente é a única solução possível. Porque numa câmara que se ganha por uma margem de centenas de votos, com maioria relativa, e sem possibilidades do PS fazer alianças com o PSD e com os independentes, apenas restava a CDU como mal menor. Acredita que esta aliança pode durar os quatro anos do mandato? Penso que sim. Apesar de tudo.Estamos a meio do mandato autárquico. Que balanço faz da actual gestão da Câmara de Tomar? Tenho a noção que hoje há menos dinheiro e possibilidades de fazer brilharetes. É completamente diferente o dia a dia da autarquia hoje dos tempos em que era vereador. E tenho sempre alguma dificuldade em ter apenas uma perspectiva crítica. Os meios são muito escassos. Penso que fazer muito diferente é quase impossível.Em Tomar ouve-se com regularidade dizer que quem governa a câmara é o chefe de gabinete e companheiro afectivo da presidente, Luís Ferreira, e não a presidente Anabela Freitas. Dizem muitas vezes isso, realmente. Deve ser uma situação difícil de gerir por parte dos visados, mesmo em termos pessoais. Mas acho que até por uma questão sexista e de passado político dessas duas pessoas, tenho a noção que a presidente da câmara, que foi quem nomeou o chefe de gabinete, tinha consciência que isso iria suceder. Agora, talvez internamente no PS não tivessem outras soluções. Um chefe de gabinete da presidente da câmara ser também líder da bancada do PS na assembleia municipal mexe com princípios éticos? Sim. Eu não o faria. Sei que no meu tempo de vereador, o meu secretário foi também em dois momentos eleito para a assembleia municipal, tomou posse e demitiu-se depois. As pessoas que o fazem devem ter razões fortes para isso. É exagerado dizer que é o chefe de gabinete Luís Ferreira que lidera a autarquia? Se governa a autarquia ou se tem um ascendente muito grande é porque deixam que isso aconteça. Os tomarenses votaram na presidente Anabela Freitas e foi ela que ganhou. As pessoas conferiram-lhe confiança para liderar o concelho durante quatro anos. O PS com certeza que tem analisado estas questões. Reconheço no PS, tal como em outras forças partidárias, alguma organização e, com certeza, se isto acontece é porque as opções internas para ocupar o cargo não deviam ser muitas. Isso significaria que o PS em Tomar está muito mal de quadros. Eu acho que actualmente, em Portugal, a política está de alguma forma desacreditada. As pessoas afastam-se da política, tal como aconteceu comigo. Esta situação devia ter sido trabalhada de outra forma, porque é negativo para eles próprios. E estou à vontade para dizer isto, porque já o transmiti aos visados.Hóquei em patins é o cartão de visita de um clube que nasceu para o futebolSporting de Tomar quer regressar já este ano há 1ª divisão nacionalIvo Santos é presidente do Sporting de Tomar desde Agosto deste ano. É sócio desde os 12 anos e foi atleta do clube, onde jogou badminton e basquetebol. No ano em que o clube comemora o seu centenário, os dirigentes ponderam reactivar o tiro com arco e o badminton, modalidades em que tiveram campeões noutros tempos, mas o hóquei em patins é há muitos anos a modalidade que dá projecção ao emblema para lá dos limites do concelho de Tomar. O clube chama-se Sporting Clube de Tomar pois no início do século XX não havia a possibilidade dos clubes se registarem no distrito de Santarém. Por isso, o clube teve que pedir ao Sporting Clube de Portugal para fazer o registo do clube de Tomar, daí o seu nome, tendo-se tornado na primeira filial do clube de Alvalade.O Sporting de Tomar começou por ter apenas futebol e ginástica. No final dos anos 50 abandona o futebol e manteve o hóquei, que se tornou na principal modalidade do clube. Além do hóquei em patins têm as secções de judo, krav maga, ténis de mesa e tiro com arco. Na secção juvenil de hóquei têm 140 atletas e oito equipas inscritas nos vários campeonatos. Não têm mais porque o pavilhão da Escola Jacomme Ratton, onde está a sua sede, não tem capacidade para receber mais crianças. Também têm treinos de patinagem artística e hóquei nos escalões minis no Pavilhão Cidade de Tomar e vão, duas vezes por semana, a Carvalhos de Figueiredo treinar equipas de hóquei.Um dos desejos de Ivo Santos era que o Pavilhão Cidade de Tomar fosse a “casa-mãe” do clube. “A população quebrou o elo com o clube quando o antigo pavilhão municipal foi destruído para dar lugar ao novo pavilhão. As obras eram necessárias mas os dois anos em que o clube andou com a ‘casa às costas’ fez com que se perdesse a ligação com o público que antigamente lotava as bancadas. É complicado jogar lá porque há o problema de existirem muitas actividades da autarquia naquele espaço. A minha vontade, enquanto adepto, era que fosse possível voltar a jogar permanentemente naquele pavilhão, até para dinamizar o comércio local. Teria que haver um acordo com a autarquia mas ainda não houve a oportunidade para encontrarmos uma solução definitiva”, afirma.A prioridade do clube é criar uma estrutura cada vez mais sólida e que possibilite ao clube ambicionar chegar à 1ª divisão de hóquei em patins já este ano. “Temos que criar condições para que depois não seja um problema o facto de subirmos de divisão. Temos equipas fortes e no caso do hóquei, que é a modalidade charneira do clube, queremos que seja o nosso cartão-de-visita. No concelho de Tomar é a única equipa que tem possibilidade de chegar à 1ª divisão nacional e queremos alcançar esse objectivo”, refere.Pais dos atletas são apoio importante Apesar das dificuldades por que todos os clubes passam, o Sporting de Tomar é um clube sustentável, “sem loucuras e sem pagamentos em atraso”. Os atletas têm que ser sócios e os pais dos atletas têm um papel importante na estrutura do clube. Durante a Feira de Santa Iria, que se encontra a decorrer no centro da cidade, o clube tem um espaço de restauração dinamizado exclusivamente pelos pais dos atletas do hóquei de formação. O objectivo é angariar dinheiro para comprar uma nova carrinha que ficará afecta em exclusivo à secção juvenil. Ivo Santos explica que o clube não consegue viver sem o apoio da autarquia e pela primeira vez na história do clube existe uma parceria em que as camisolas têm o logótipo e slogan da Câmara de Tomar e, em troca, os transportes da equipa sénior de hóquei são feitos pela autarquia.Um benfiquista à frente do Sporting de TomarIvo Santos nasceu em 30 de Janeiro de 1967 em Tomar, cidade onde continua a viver. Pai de três filhos (com 18, 14 e 5 anos), é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Lisboa. É professor de profissão, mas actualmente está a dar formação no Centro de Formação Profissional de Tomar. É também empresário, sendo o actual proprietário do comboio turístico que circula na cidade. Desde Agosto último abraçou um novo desafio: liderar o histórico Sporting Clube de Tomar, filial número 1 do Sporting Clube de Portugal, que passou assim, no ano do seu centenário, a ser gerido por um benfiquista. Durante 11 anos, Ivo Santos esteve ligado à gestão política da Câmara de Tomar, oito como vereador, dois como chefe de gabinete do então presidente do município António Paiva (PSD) e um ano como assessor. Em 2009 zanga-se com o seu partido e candidata-se à presidência da autarquia pelo CDS/PP. Repete a candidatura em 2013, mas nunca consegue ser eleito para a vereação.
“O PSD perdeu a Câmara de Tomar porque quis”

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