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“Ninguém pode ser médico se não tiver um profundo sentido de humanidade”

“Ninguém pode ser médico se não tiver um profundo sentido de humanidade”

Carlos Alberto Rabaçal, 59 anos, director clínico do Hospital de Vila Franca de Xira

Nasceu em Angola e veio para Portugal em 1975. Pensava estudar direito mas depois um familiar inspirou-o a seguir medicina e apaixonou-se pela profissão. Especializou-se em Cardiologia. Diz que a humanidade, responsabilidade e disponibilidade para ouvir os doentes e os seus familiares são os valores fundamentais que um médico deve ter. Gosta de ler e ouvir Mozart e Pink Floyd depois do trabalho. Os seus dois maiores vícios na vida são o Sporting e a filatelia. Confessa-se uma pessoa optimista e de bem com a vida.

Sou médico por acaso. Estudei em Angola e entrei lá na faculdade. Tinha um primo que estava a acabar medicina em Portugal e ele teve alguma influência na minha escolha. A minha opção inicial era direito, porque era um bom aluno a português e tinha jeito para as disciplinas da área. Fora isso, nem sequer era um aluno excepcional, embora fosse bom aluno. Por ironia, em medicina, tive das melhores médias do meu curso. Eu era muito marrão na altura em que tinha exames. A minha mãe é angolana e o meu pai português. Vim para cá em 1975 na sequência da guerra. Angola é um país grande e uma das coisas que notei quando vim para cá é que tudo era mais pequeno. Tínhamos lá uma grande liberdade de movimento que aqui não tínhamos. Isso era algo que me fazia confusão no início. Tenho amigos desde essa altura, alguns espalhados por várias actividades, e nos reunimos uma vez por ano. Formávamos um grupo de gente que partilhava muitos interesses, desde a literatura à música. Líamos muito e ouvíamos muita música, tudo isso circulava entre nós. Somos quase todos da mesma idade, amigos do peito, e esse grupo permitiu termos um crescimento mental e intelectual muito interessante para a época. Ninguém pode ser médico se não tiver um forte sentimento de humanidade. Também é importante ter responsabilidade, porque a prática da medicina sem responsabilidade é qualquer coisa que fica amputado nesta área, onde temos muitas vezes de decidir determinado tipo de métodos de diagnóstico e terapêutica para os doentes e ser responsáveis por essas decisões. É fundamental num médico estar muito bem informado, estudar até ao final da sua vida profissional. A medicina é uma área do conhecimento que tem uma evolução e actualização constante. Depois é ter disponibilidade para estar com as pessoas, ouvir as pessoas e os seus familiares. Gosto muito de ler e há livros que me marcaram e que cito com frequência. Há uns anos fiquei admirador da obra de um médico americano que escreve para as pessoas, não para a classe médica, chamado Atul Gawande. Faz parte do corpo médico do presidente americano Barack Obama e tem uma crónica semanal no New Yorker. Já li os livros todos da sua autoria. Ele tem uma frase que costumo citar: «O ser humano evoluiu para sobreviver à fome, não para resistir à abundância». Depois de um dia de trabalho gosto de me sentar na secretária a ouvir música. Gosto muito de clássica, prefiro claramente Mozart. Mas oiço todos os géneros de música. O meu grupo favorito são os Pink Floyd. Sou um sportinguista doente. Costumo dizer que o Sporting é uma das coisas que define a minha vida. Há coisas que admiramos, prezamos e sentimos falta. Os amigos, a profissão, a família e o Sporting fazem parte dela. Nos meus tempos livres gosto de tocar viola e de me dedicar aos meus selos. Neste momento estou a tentar construir toda a série filatélica publicada em Portugal, dos primeiros selos do século 19 aos actuais. Os mais antigos serão mais difíceis de obter (risos). Às vezes gosto de ir dar um passeio a pé ou de bicicleta, num parque perto de casa, com a minha mulher.Não estou arrependido do rumo que dei à minha vida. Claro que há coisas que poderia fazer diferente mas não sei se melhor. Sou uma pessoa satisfeita com a vida, sou grato, optimista, divertido, não sou casmurro. Continuando a viver há sempre coisas a fazer porque sem desafios não crescemos e gosto de ver a vida dessa forma. Filipe Matias
“Ninguém pode ser médico se não tiver um profundo sentido de humanidade”

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