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“Nem toda a gente pode pagar uma consulta de psicologia”

“Nem toda a gente pode pagar uma consulta de psicologia”

Margareth Mateus é uma psicóloga brasileira que se mudou para Portugal devido ao casamento

Ajudar o próximo é o que mais a atrai na psicologia mas reconhece que nem toda a gente pode beneficiar de ajuda por não poderem pagar as consultas. O objectivo é, quando tiver clínica própria, dar consultas gratuitas uma vez por semana.

Margareth Mateus, 46 anos, é natural do Brasil e psicóloga clínica de profissão. Formou-se em Fevereiro de 2009, em Manaus, e em Maio começou a trabalhar na área. Veio para Portugal há um ano e seis meses depois de ter casado com um português. Residente em Santarém, ainda não se conseguiu estabelecer como psicóloga. Enquanto procura trabalho e clientes, faz voluntariado no Hospital de Santarém.“Sou voluntária da Liga dos Amigos do Hospital, no serviço de oncologia. Quando os pacientes de quimioterapia precisam de alguma coisa eu faço. Estou lá para servir um cafezinho, um chá, se eles quiserem o jornal eu vou comprar. Mas eu tenho um olhar diferenciado porque sou psicóloga. Converso um pouco com eles e isso ajuda-os”, diz a psicóloga.No Brasil, chegou a trabalhar como psicóloga junto de crianças vulneráveis, mas também de idosos e deficientes (no Centro de Referência Especializado em Assistência Social) e junto de pessoas com transtornos leves, moderados e severos (no Centro de Atenção Psicossocial). Em Portugal, está a ter dificuldades em exercer a profissão: “No Brasil tinha muita facilidade em arranjar emprego e aqui estou a sentir muitas dificuldades. Mando muitos currículos e nada. Parece que a filosofia de Portugal é diferente em relação à psicologia. Parece que aqui não valorizam tanto esse profissional”, refere.Em jovem já tinha um dom natural para a psicologia. Dava conselhos às amigas, quer pessoalmente, quer por carta, e passava-lhes motivação ou, como diz, um “reforço positivo”. Ajudar as pessoas é mesmo aquilo que mais a atrai na profissão: “O mais gratificante é minimizar a dor do outro. Gosto de ajudar as pessoas, gosto de fazer com que se sintam bem. Isso para mim é uma satisfação que não tem explicação”, explica. Diz que as pessoas têm de aprender a relativizar os seus problemas: “Fui voluntária na casa das crianças com cancro e lá aprendi a ser uma pessoa melhor. Vi aquelas crianças tão pequeninas a sofrer com a quimioterapia e elas não deixavam de ser felizes, alegres, brincavam, riam. Houve um dia em que eu andava por lá triste e uma das crianças chegou ao pé de mim e disse: eu que sou assim estou tão feliz e a senhora está tão para baixo. Naquele dia os meus problemas foram muito pequenos em comparação com os das crianças”, recorda.Margareth Mateus considera que cada vez as pessoas têm mais problemas psicológicos: “São problemas afectivos, problemas financeiros, é muita gente desempregada, é a falta de dinheiro. Hoje em dia as pessoas estão a ficar muito adoecidas e precisam da ajuda de psicólogos. Aqui em Portugal há uma grande influência do clima. No Outono e no Inverno as pessoas retraem-se muito, fecham-se muito e ficam um pouco mais depressivas”. Um dos problemas, explica, são os pensamentos negativos e é essa a especialidade da psicóloga, que trabalha na linha cognitiva comportamental, uma forma de psicoterapia que trabalha os pensamentos das pessoas e que é eficaz no tratamento de depressões e esquizofrenias.O sonho desta psicóloga é abrir uma clínica própria e, uma vez concretizado esse objectivo, tem um outro sonho: “Segundo dizem, aqui em Portugal só vai ao psicólogo quem tem dinheiro. Nem toda a gente pode pagar uma consulta de psicologia. Quando tiver a atender numa clínica minha, vou tirar por exemplo a sexta-feira para atendimento gratuito para as pessoas que têm necessidade. Vamos fazer uma triagem, ver quem realmente precisa e atender. É um projecto que eu tenho”.
“Nem toda a gente pode pagar uma consulta de psicologia”

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