“O que me interessa é a qualidade do serviço”
Vera Azevedo, 38 anos, proprietária e directora da Global Póvoa - Gestão de Condomínios
Nasceu na Guarda mas está na Póvoa de Santa Iria desde os 13 anos, cidade que já adoptou como sua. Apesar de ir frequentemente à terra natal, onde ainda apanha azeitona como manda a tradição, Vera Azevedo tem o tempo contado desde que deixou a sua área de formação, em marketing e publicidade, e decidiu enveredar pela gestão de condomínios, após uns breves meses no desemprego. No seio familiar, além dos três filhos há cinco cães, um deles que vai para o escritório, e dois gatos.
Abracei este projecto há 15 anos. Trabalhei em publicidade e marketing, de acordo com a minha formação académica, que é de Ciências da Comunicação. Durante dois anos trabalhei numa empresa espanhola em Portugal na área de televisão e entretanto fiquei alguns meses no desemprego e fui desenvolvendo a ideia, para estudar e perceber o que poderia envolver esta actividade. Lancei-me, sozinha, numa estrutura pequena, na minha casa e depois fomos crescendo. Lembro-me dos primeiros dois prédios que ganhei, fiquei muito contente porque deu para alugar um escritório que me custava 120 euros na altura.O que me interessa é a qualidade do serviço. À medida que tínhamos mais clientes a estrutura da empresa foi crescendo e não há, neste momento, nenhuma empresa por aqui com uma estrutura tão numerosa como a nossa. Somos cinco no escritório, mais dois na manutenção e duas colaboradoras na limpeza, além de uma empresa que contratamos para a limpeza também. Temos sempre duas pessoas para cada condomínio, uma na área administrativa e outra na área financeira. É uma luta ingrata estar neste meio. Há muitas pessoas que exercem esta actividade de forma devastadora. Quando é para se fazer tem de se fazer como deve de ser. Não vale a pena perder tempo, recursos e energia para fazer as coisas mal. Quando nos propomos às coisas quero ficar descansada, sabendo que fazemos bem feito. Não quero nunca que os clientes pensem que poderíamos ter feito as coisas melhor. O dia a dia é muito complicado. A vida pessoal e familiar casam com muita dificuldade e muito esforço. Além da empresa, tenho uma família de três filhos, cinco cães, dois gatos (risos) e é muito complicado. A manhã começa a correr para preparar lanches, ter os três filhos no colégio às 8h30, ir à rua com os cães, tratar dos gatos e vir para o escritório despachar serviço. Saímos daqui às 18h30, vou buscar os miúdos ao colégio, oriento o jantar e, muitas vezes, tenho de estar em assembleias de condomínio. O cliente só tem de saber que está resolvido, sem ter de saber que foi complicado. Gosto do que faço, sobretudo porque conseguimos muitas vezes desbloquear situações que estão paradas. Alimenta-me muito chegar a uma parede, perceber o que é e contornar ou deitar abaixo, mas resolver. Satisfaz-me pegar num prédio cheio de problemas e ao fim de um ano ir a uma assembleia apresentar uma lista de quatro páginas com problemas resolvidos. O problema é que acho que tornamos as coisas de tal forma simples que as pessoas não valorizam.Vejo realidades que não queria ver. Temos um papel social que não me custa fazer. Sei que existem realidades complicadas e não se pode esconder a cabeça, fugir aos problemas que não são nossos, mas que poderiam ser. As pessoas têm problemas para os quais, na altura, não conseguem ver a solução e nós procuramos ajudar a resolvê-los, desde marcações de consultas a procurar psicólogos para os filhos. Não nos custa nada fazer isso, o que custa é essas pessoas não terem este tipo de apoio mais social. Cerca de 20% do nosso tempo passa-se assim.O negócio não está a crescer. A construção nova parou, algumas empresas tornam o trabalho complicado e algumas pessoas querem pagar menos. O problema é que a curto prazo paga-se menos, mas a médio e longo prazo esses serviços acabam por sair mais caros. Já tive clientes que saíram e voltaram, precisamente por estas razões.
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